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INTELIGÊNCIA

Como jogadores de xadrez, alguns corvos podem planejar vários passos à frente

Os corvos da Nova Caledônia, no oceano Pacífico, podem usar ferramentas como paus e pedras de forma planejada para atingir um objetivo, como se alimentar.

19 de julho de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Planejar o futuro é, na verdade, mais difícil do que parece. Para isso, é preciso fixar em sua mente um futuro possível e, em seguida, tomar medidas concretas para tornar esse cenário real. E para isso, até mesmo os seres humanos são notórios por uma certa falta de planejamento. Mas há uma ave que é ótimo nisso, com uma inteligência invejável.

A inteligência necessária para pensar bem no futuro geralmente não é atribuída aos animais. Mas uma nova pesquisa mostra que um tipo de corvo pode usar ferramentas para planejar até três movimentos à frente, para garantir uma refeição – um pouco como um humano jogando xadrez, diz Alex Taylor, pesquisador da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia.

Os pássaros, conhecidos como corvos da Nova Caledônia, arquipélago localizado no Pacífico, são famosos por fabricar ferramentas, transformando galhos em lanças e ganchos que usam para comer larvas. Membro da família dos corvídeos, eles são parentes dos corvos, corvos americanos e pegas, e vivem em um grupo de ilhas a leste da Austrália.

Esses corvos são inteligentes em muitos aspectos, capazes de, por exemplo, jogar pedras em um recipiente cheio de água para deslocar o líquido e pegar um pedaço de alimento flutuante.

Mas o grau em que eles podem planejar mentalmente as ações com antecedência não ficou claro, porque é muito difícil demonstrar definitivamente essas coisas, explica Taylor.

“É complicado saber como os animais estão pensando”, revela Taylor. É fácil inferir o que está acontecendo, diz ele, mas são necessários testes precisos para demonstrar –já que infelizmente, não se pode simplesmente perguntar a um corvo o que ele está pensando.

O xadrez mental dos pássaros

Taylor e seus colegas criaram uma configuração experimental para fazer analisar o comportamento dos corvos. Eles usavam um objeto semelhante a uma caixa na qual diferentes partes de um quebra-cabeça estavam escondidas umas das outras. Em um compartimento, por exemplo, eles colocaram um galho. Em outro, um tubo com uma pedra que só poderia ser liberada com o bastão. Em um terceiro, um dispositivo distribuía um pouco de carne quando uma pedra era jogada. Uma quarta área continha uma ferramenta desnecessária e que distraía, seja um galho ou uma pedra.

Os pesquisadores familiarizaram e treinaram os pássaros capturados na natureza para resolver as tarefas separadas de forma independente, de modo que eles aprenderam, por exemplo, como obter comida deixando cair uma pedra em uma câmara. Depois disso, eles soltaram os pássaros no quebra-cabeça de quatro partes.

Depois de pular e conhecer o terreno, muitos dos corvos realizaram as sequências corretas de eventos para liberar o alimento sem cometer erros. O fato de essas tarefas estarem escondidas umas das outras sugere que os corvos estavam imaginando em suas mentes a sequência necessária para obter o alimento.

“Escolher a ferramenta correta em uma variedade de cenários para uso em outro lugar provavelmente significa que os pássaros tinham uma representação mental daquele [lugar] e do que era necessário para resolver uma tarefa complexa”, afirma John Marzluff, pesquisador da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, e especialista em corvos que não participou do estudo.

Marzluff concorda com o estudo publicado na revista científica Current Biology, que “fornece a primeira evidência conclusiva de que as aves podem planejar vários movimentos à frente enquanto usam ferramentas, como quem joga xadrez”.

Perguntas e respostas

Os pesquisadores também ajustaram ligeiramente as tarefas para ver se os corvos ainda eram capazes de planejar e executar corretamente quando as circunstâncias mudavam, o que muitos deles faziam. Eles descobriram, talvez sem surpresa, que os animais eram mais hábeis no uso de galhos do que de pedras, o que faz sentido, considerando seu comportamento na natureza.

O estudo levanta questões interessantes. Outros animais podem planejar com antecedência e com que grau de complexidade? E o que isso diz sobre sua inteligência?

Por exemplo, o estudo mostra que essas aves, que têm cérebros muito diferentes dos dos grandes macacos, possuem, no entanto, muitas habilidades mentais semelhantes, diz Kaeli Swift, pesquisadora da Universidade de Washington, que não participou do estudo.

“A imaginação é um dos pilares do conjunto de ferramentas cognitivas que usamos para medir a inteligência”, explica Swift. “Isso mostra uma forte evidência de tais habilidades em um pássaro.”

Estudos com corvídeos continuam mostrando que esses animais têm habilidades cognitivas de alta ordem – como planejamento e viagem mental no tempo – em um grau que “teríamos considerado risível há algumas décadas”, acrescenta.

“Isso realmente mostra como estávamos errados ao usar o termo ‘cérebro de pássaro’ como um insulto e pede nossa dedicação futura a essas questões de pesquisa.”

Fonte: Nat Geo

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