Ano passado, a aparição de um peixe de 100 quilos e quase um metro de comprimento preso na catraca de uma estação de trem após enchente em Chiang Mai, na Tailândia, surpreendeu especialistas e virou assunto internacional. A foto de seu resgate (mostrando o colosso levantado por seis pessoas) rodou o mundo.
A atenção não veio sem motivo. Trata-se de um espécime de peixe-gato-gigante, um dos maiores peixes de água doce do planeta e animal em risco crítico de extinção, segundo a lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN, na sigla em inglês), referência global no mapeamento de espécies prestes a desaparecer do mapa.
Com a virada do milênio e após décadas de pesca predatória e mudanças em seu habitat, a chance de ver um peixe-gato-gigante já costuma ser mínima para início de conversa. A cerca de 260 km de Chiang Mai, moradores do distrito de Chiang Kong (nas margens do rio Mekong e próximo de um dos criadouros naturais do peixe), capturaram dois espécimes em 2000, mas nem um sequer nos dois anos seguintes.
Apesar de esforços de proteção, não há contagem recente da espécie que garanta algum progresso. O que se sabe ainda sugere um cenário precário: entre os anos 1990 e 2010, a IUCN relatou que a população do peixe-gato-gigante diminuiu 80%. Estudo publicado pela revista científica Nature em julho aponta que esta e outras espécies nativas do Mekong ainda sofrem com barragens artificiais e projetos de canalização instaladas no rio interrompendo seus ciclos de vida, que dependem de longas migrações.
Mas esses fatos não explicam a totalidade da estranha vida do peixe-gato-gigante na Tailândia. Acredita-se que o animal nadando na estação de trem ano passado faça parte de uma população bem mais numerosa: aquela criada em fazendas, templos e coleções privadas. O projeto Wonders of Mekong, encabeçado pela Universidade de Nevada nos EUA, calcula que cerca de um milhão desses peixes estão em cativeiros pelo pais, um volume ao menos mil vezes maior do que ocorre na natureza.
O peixe-gato-gigante foi documentado originalmente em 1930 e desde muito antes seu tamanho tem sido assunto de fascinação. Nos anos 80, o perigo cercando esses animais já havia acendido um alerta para o governo da Tailândia e em 1981, o departamento estatal responsável pela pesca no país inaugurou um projeto de resgate da espécie.
A dependência desses animais a ambientes controlados e o cruzamento realizado entre um número limitado de espécimes, levando a traços genéticos diferentes do que ocorre naturalmente, podem dificultar o objetivo final de um esforço de preservação: o retorno ao meio ambiente de origem.
Ao National Geographic, Zeb Hogan, biólogo da Universidade de Nevada, evita olhar para o cenário do peixe-gato-gigante na Tailândia com alarme, mas complementa: “O único problema é se as pessoas acreditarem que ter o peixe em cativeiro é suficiente. Não é. Proteção de verdade envolve lhes dar um rio para o qual possam voltar.”
Fonte: Um só Planeta