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EMISSÃO DE CO2

Como este tronco de 3,7 mil anos pode inspirar solução para crise climática

O material foi descoberto por acaso, bem preservado, debaixo de um solo argiloso pouco permeável. Cientistas argumentam que material pode melhorar uma técnica para diminuir emissões de CO2

1 de outubro de 2024
Arthur Almeida
5 min. de leitura
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Foto: Mark Sherwood

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, sugere que a descoberta de um tronco milenar enterrado sob o solo argiloso de Quebec, no Canadá, pode ajudar a humanidade a refinar suas estratégias no enfrentamento às mudanças climáticas. A análise do material apareceu em um artigo publicado na última sexta-feira (27) na revista Science.

Como parte de seu processo de fotossíntese e respiração celular, as árvores naturalmente sequestram dióxido de carbono. Quando morrem e passam pelo pela decomposição, todo o CO2 armazenado volta a ser liberado para a atmosfera.

Porém, no caso deste tronco, os cientistas atestaram que, mesmo com 3.775 anos de idade, o tronco havia perdido menos de 5% do seu dióxido de carbono original. Eles trabalham com a hipótese de que isso aconteceu graças ao solo pouco permeável, composto por argila, que o cobria.

Entender os fatores ambientais únicos que mantiveram o tronco em perfeitas condições poderia ajudar a aperfeiçoar uma solução climática emergente conhecida como “wood vaulting”.

A técnica envolve pegar madeira que não é comercialmente viável — como árvores destruídas por doenças ou incêndios florestais, móveis velhos ou materiais de construção não utilizados — e enterrá-la, para interromper sua decomposição. Com isso, a quantidade de CO2 que ela envia à atmosfera fica menor, e árvores plantadas para sequestrar o gás nocivo do ambiente não contribuiriam, depois, para aumentar a concentração de CO2 no planeta.

Descoberta do tronco

O tronco milenar foi descoberto ao acaso em 2013, coincidentemente enquanto a equipe de pesquisadores iria começar o seu próprio experimento para colocar à prova o conceito de “wood vaulting”. Na época, o grupo havia viajado para Quebec para enterrar aproximadamente 35 toneladas métricas de madeira no subsolo. Durante as escavações, no entanto, a cerca de dois metros da superfície, o tronco foi achado.

“Quando o escavador puxou um tronco do chão e jogou para nós, os três ecologistas que eu tinha convidado da Universidade McGill, imediatamente o identificamos como um cedro vermelho oriental”, lembra Ning Zeng, líder do projeto, em comunicado. “Era claro o quanto ele estava preservado. Lembro-me de ficar ali pensando: ‘Uau, precisamos mesmo continuar nosso experimento? A evidência já está aqui, e melhor do que poderíamos fazer’”.

Após a escavação, foram conduzidos testes de datação por carbono para determinar a idade do tronco. Em seguida, a amostra passou por análises de sua estrutura microscópica, composição química, resistência mecânica e densidade. Os resultados, então, foram comparados aos de um tronco de cedro vermelho oriental recém-cortado.

Percebeu-se que a amostra mais velha havia perdido muito pouco dióxido de carbono. Com isso, os cientistas passaram a trabalhar com a hipótese de que o tipo de solo que cobria o tronco foi a principal razão para sua preservação notável.

Importância do solo na preservação do CO2

Estudos anteriores já avaliaram outras amostras antigas de madeira preservada. Mas, segundo Zeng, essas pesquisas tendem a ignorar as condições do solo onde o material foi localizado.

“As pessoas tendem a pensar: ‘Quem não sabe cavar um buraco e enterrar um pouco de madeira?’”, aponta o pesquisador. “Mas pense em quantos caixões de madeira foram enterrados na história humana. Quantos deles sobreviveram? Para uma escala de tempo de centenas ou milhares de anos, precisamos das condições certas”.

O solo argiloso de Quebec tinha uma permeabilidade especialmente baixa, o que significa que ele impedia ou retardava drasticamente o oxigênio de chegar ao tronco. Da mesma forma, mantinha longe os fungos insetos – agentes decompositores normalmente encontrados na terra.

Uma vez que o solo argiloso é comum, a abóbada de madeira pode se tornar uma opção viável e de baixo custo em muitas partes do mundo como uma solução climática, sugerem os especialistas. “Trata-se de uma descoberta bastante emocionante, especialmente se a estratégia for combinada com outras táticas para desacelerar o aquecimento global, como reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, destaca Zeng.

Fonte: Revista Galileu

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