Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, sugere que a descoberta de um tronco milenar enterrado sob o solo argiloso de Quebec, no Canadá, pode ajudar a humanidade a refinar suas estratégias no enfrentamento às mudanças climáticas. A análise do material apareceu em um artigo publicado na última sexta-feira (27) na revista Science.
Como parte de seu processo de fotossíntese e respiração celular, as árvores naturalmente sequestram dióxido de carbono. Quando morrem e passam pelo pela decomposição, todo o CO2 armazenado volta a ser liberado para a atmosfera.
Porém, no caso deste tronco, os cientistas atestaram que, mesmo com 3.775 anos de idade, o tronco havia perdido menos de 5% do seu dióxido de carbono original. Eles trabalham com a hipótese de que isso aconteceu graças ao solo pouco permeável, composto por argila, que o cobria.
Entender os fatores ambientais únicos que mantiveram o tronco em perfeitas condições poderia ajudar a aperfeiçoar uma solução climática emergente conhecida como “wood vaulting”.
A técnica envolve pegar madeira que não é comercialmente viável — como árvores destruídas por doenças ou incêndios florestais, móveis velhos ou materiais de construção não utilizados — e enterrá-la, para interromper sua decomposição. Com isso, a quantidade de CO2 que ela envia à atmosfera fica menor, e árvores plantadas para sequestrar o gás nocivo do ambiente não contribuiriam, depois, para aumentar a concentração de CO2 no planeta.
Descoberta do tronco
O tronco milenar foi descoberto ao acaso em 2013, coincidentemente enquanto a equipe de pesquisadores iria começar o seu próprio experimento para colocar à prova o conceito de “wood vaulting”. Na época, o grupo havia viajado para Quebec para enterrar aproximadamente 35 toneladas métricas de madeira no subsolo. Durante as escavações, no entanto, a cerca de dois metros da superfície, o tronco foi achado.
“Quando o escavador puxou um tronco do chão e jogou para nós, os três ecologistas que eu tinha convidado da Universidade McGill, imediatamente o identificamos como um cedro vermelho oriental”, lembra Ning Zeng, líder do projeto, em comunicado. “Era claro o quanto ele estava preservado. Lembro-me de ficar ali pensando: ‘Uau, precisamos mesmo continuar nosso experimento? A evidência já está aqui, e melhor do que poderíamos fazer’”.
Após a escavação, foram conduzidos testes de datação por carbono para determinar a idade do tronco. Em seguida, a amostra passou por análises de sua estrutura microscópica, composição química, resistência mecânica e densidade. Os resultados, então, foram comparados aos de um tronco de cedro vermelho oriental recém-cortado.
Percebeu-se que a amostra mais velha havia perdido muito pouco dióxido de carbono. Com isso, os cientistas passaram a trabalhar com a hipótese de que o tipo de solo que cobria o tronco foi a principal razão para sua preservação notável.
Importância do solo na preservação do CO2
Estudos anteriores já avaliaram outras amostras antigas de madeira preservada. Mas, segundo Zeng, essas pesquisas tendem a ignorar as condições do solo onde o material foi localizado.
“As pessoas tendem a pensar: ‘Quem não sabe cavar um buraco e enterrar um pouco de madeira?’”, aponta o pesquisador. “Mas pense em quantos caixões de madeira foram enterrados na história humana. Quantos deles sobreviveram? Para uma escala de tempo de centenas ou milhares de anos, precisamos das condições certas”.
Uma vez que o solo argiloso é comum, a abóbada de madeira pode se tornar uma opção viável e de baixo custo em muitas partes do mundo como uma solução climática, sugerem os especialistas. “Trata-se de uma descoberta bastante emocionante, especialmente se a estratégia for combinada com outras táticas para desacelerar o aquecimento global, como reduzir as emissões de gases de efeito estufa”, destaca Zeng.
Fonte: Revista Galileu