A União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) declarou oficialmente extinto o maçarico-de-bico-fino (Numenius tenuirostris), uma ave migratória outrora comum na Europa, norte da África e Ásia Ocidental. A decisão foi divulgada na mais recente atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, que também confirmou a extinção de três espécies de marsupiais australianos e de diversas plantas.
O último registro confirmado do maçarico-de-bico-fino ocorreu em 25 de fevereiro de 1995, em uma lagoa de maré na costa atlântica do Marrocos. Desde então, nenhum avistamento foi comprovado, apesar de relatos isolados. Especialistas atribuem o desaparecimento da espécie à caça excessiva e à destruição de seus habitats naturais.
“A extinção do maçarico-de-bico-fino é um momento trágico e preocupante para a conservação das aves migratórias. Esperamos que a perda desta espécie sirva de alerta para proteger outras que ainda podem ser salvas”, afirmou Amy Fraenkel, secretária executiva da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias da Fauna Selvagem, em comunicado.
Exemplares dessa espécie tinham como hábito passar o inverno na região Mediterrânea e se reproduzir durante o verão na região da Sibéria Ocidental. É a primeira vez que um pássaro que vive no norte da África, Oeste da Ásia e na Europa continental declarado extinto a nível mundial.
Existiam relatos de que o animal tinha sido visto no leste da Europa, e, apesar desses rumores perdurarem pelos últimos 30 anos, pesquisadores comprovaram que as evidências estavam erradas.
Como quem lê a GALILEU talvez se lembre, a hipótese de que a espécie de ave havia desaparecido para sempre foi levantada pela primeira vez por um estudo publicado em novembro de 2024. Através da análise de fotografias, relatos e relatórios feitos desde o final do século 19, cientistas chegaram à conclusão que as informações não correspondiam com a do maçarico-de-bico-fino, e que ele foi extinto.
Foram analisados 1.400 possíveis registros das aves ao todo. A equipe de pesquisa determinou, à época, que provavelmente uma fotografia de 1995 foi o último registro do maçarico-de-bico-fino.
Instituições de conservação como a Royal Society for the Protection of Birds, a BirdLife International, a Naturalis Biodiversity Center e o Museu de História Natural já haviam sinalizado a extinção do pássaro.
Por que a ave foi extinta?
Os pesquisadores possuem poucas informações sobre o maçarico-de-bico-fino. O que se sabe foi descrito no século 20 por Valentin Ushakov, um biólogo russo. Segundo ele, os ninhos das aves eram feitos no chão e, a cada estação do ano, esses pássaros botavam até 4 ovos — por isso, a espécie não formava populações grandes.
Segundo Bond, durante o processo migratório, as aves eram caçadas na Europa e, posteriormente, vendidas em mercados da região sul do continente, principalmente na Itália. Inclusive, foi dessa forma que o museu conseguiu algumas espécies.
No século 20, aconteceu uma expansão da atividade agrícola na União Soviética, e isso pode ter contribuído para a extinção das aves. Além disso, os locais em que os pássaros se reproduziam na Ásia Central, foram convertidos em pastagens e estepes para produzir culturas agrícolas de vegetais ou grãos.
Outras espécies extintas
Além da ave, três marsupiais australianos foram declarados extintos: o bandicoot de Shark Bay (Perameles myosuros), o bandicoot listrado do sudeste (Perameles notina) e o bandicoot barrado de Nullarbor (Perameles papillon). A perda desses pequenos mamíferos reflete os impactos de predadores introduzidos, como raposas e gatos selvagens, e da degradação do habitat causada por mudanças no uso da terra.
A atualização da Lista Vermelha também inclui a extinção de plantas como Diospyros angulata, espécie relacionada às árvores de ébano e registrada pela última vez em meados do século 19, e Delissea sinuata, nativa do Havaí.
Apesar das más notícias, a UICN destacou alguns avanços. A tartaruga-verde (Chelonia mydas), espécie antes classificada como “Em Perigo”, foi rebaixada para a categoria “Pouco Preocupante”, após um aumento estimado de 28% em sua população desde os anos 1970 — resultado de décadas de esforços de conservação.
Ainda assim, o cenário geral permanece alarmante. Segundo a organização, 61% das espécies de aves no mundo apresentam declínio populacional, número significativamente maior do que o registrado em 2016. Além de espécies do Ártico, como a foca-de-capuz (Cystophora cristata) e a foca-da-Groenlândia (Pagophilus groenlandicus), também enfrentam risco crescente devido às mudanças climáticas.
“A atualização da Lista Vermelha destaca tanto os desafios urgentes quanto as possibilidades de recuperação. A história da tartaruga-verde mostra que a conservação funciona quando há ação coordenada e determinação”, afirmou a diretora-geral da UICN, Grethel Aguilar.
Fonte: Um só Planeta