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REVOLUÇÃO ALIMENTAR

Como é uma dieta baseada em vegetais? Absolutamente nada como empresas de tecnologia faria você acreditar

17 de agosto de 2023
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Mudanças drásticas são cruciais na forma como nos alimentamos. Globalmente, quase 60% das emissões de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos são atribuíveis à carne, o dobro das opções à base de vegetais. Especialistas em clima têm ecoado o alerta de que reduzir o consumo de carne é imperativo para a salvação do nosso planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas enfatizou a contribuição do sistema alimentar para o aquecimento global, destacando a importância das dietas baseadas em vegetais e da redução do consumo de carne para conter as mudanças climáticas.

No entanto, paradoxalmente, estamos testemunhando um aumento no consumo de carne. Nos Estados Unidos, a média de ingestão de carne é superior a 220 quilos por pessoa por ano, em comparação aos 193 quilos no início dos anos 80. Este padrão não é exclusivo dos americanos; na China, o consumo médio per capita era de 20 quilos no final dos anos 1980, escalando para 63 quilos atualmente.

A escritora de alimentos Alicia Kennedy lança luz sobre essa tendência alarmante em seu novo livro, “No Meat Required: The Cultural History and Culinary Future of Plant-Based Eating”, publicado pela Beacon Press. Entretanto, seu enfoque é mais holístico do que prescritivo. Kennedy busca redefinir nossa relação com a carne, desde a biodiversidade de nossas dietas até as condições de trabalho, as tradições e a cultura enraizadas em nossa alimentação. “Este livro trata de remover a carne do centro de nossos pratos”, ela declara, instigando a reflexão sobre as implicações dessa mudança.

Kennedy, entrevistada em sua residência em Porto Rico, ressalta que não há soluções simplistas ou únicas para a reforma do sistema alimentar. Ela reconhece que existem lugares onde o consumo de carne faz sentido, como em pastagens naturais que têm um menor impacto ambiental. Nesse contexto, substituir alternativas “sustentáveis” na dieta atual não é uma resposta universal, apesar de ser uma perspectiva desejável. A complexidade das dinâmicas alimentares exige abordagens mais profundas.

A autora também desafia a ideia de que as alternativas de carne à base de plantas, como Impossible e Beyond, representam a solução definitiva. Kennedy estabelece paralelos entre esses produtos denominados “carne tecnológica” e a indústria tradicional de carne, destacando como eles continuam a centralizar a carne em nossas refeições, negligenciando outras questões sistêmicas. Ela questiona se um hambúrguer artificial à base de soja geneticamente modificada, produzido por mão de obra mal remunerada e acompanhado por ingredientes questionáveis, realmente promove uma mudança no sistema alimentar construído em torno da carne.

Kennedy mergulha na história das dietas à base de plantas, destacando a longa tradição de vegetarianismo e veganismo. Desde as carnes falsas à base de tofu e glúten de trigo consumidas por monges budistas chineses até as receitas veganas difundidas por zines punk autopublicados, a alimentação à base de vegetais é intrínseca a diversas culturas ao longo do tempo. Kennedy desmitifica essa abordagem, enxergando-a como uma parte rica e enraizada na história culinária.

Embora não forneça uma fórmula definitiva para a alimentação ideal, Kennedy tem clareza sobre o que o sistema alimentar não pode mais ser: uma repetição do status quo. Ela preconiza a biodiversidade, diversidade cultural e regional como a verdadeira solução. O caminho a seguir não é apenas uma maquiagem diferente sobre as práticas extrativas e prejudiciais atuais, mas sim uma abordagem que rompa com os paradigmas convencionais de produção alimentar.

A visão de Kennedy é uma inspiração para um futuro onde a carne não domina o cardápio, mas sim convive em harmonia com uma variedade de alimentos e culturas. Isso exige um comprometimento com escolhas mais conscientes e uma compreensão de que a mudança real é intrinsecamente complexa e multifacetada.

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