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INCLUSÃO

Como é a rotina nas empresas que decidiram liberar os animais domésticos no ambiente de trabalho

De creche a crachás para os animais, empresas relatam ganhos no bem-estar e na integração das equipes; especialistas alertam para regras e planejamento na convivência com os animais

14 de dezembro de 2025
7 min. de leitura
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Na Nestlé, as colegas compartilham o espaço com seu animais domésticos: a partir da direita, Cristina Saotome, tutora de Bob; Alexsandra Esposito com a golden Luna. Foto: Maria Isabel Oliveira

Eles cumprem horário, circulam pelos corredores e, ao fim do expediente, não esperam salário, mas petiscos e carinho. Com a expansão dos ambientes pet friendly, os animais de estimação deixaram de ficar apenas em casa ou creches e passaram a acompanhar seus tutores também no trabalho, marcando presença até em escritórios corporativos. Funcionários de empresas que adotaram a prática elogiam os impactos positivos no bem-estar e no clima organizacional, enquanto especialistas alertam para a importância de planejamento e cuidados para que a convivência seja saudável para todos.

No escritório da Nestlé, em São Paulo, a presença de animais é permitida diariamente. De segunda a quinta-feira, eles e seus tutores ficam alocados em uma área especial, onde trabalham as equipes das marcas do mercado pet. Já às sextas-feiras, eles têm acesso irrestrito ao prédio. A multinacional oferece ainda uma creche para os animais dentro da própria unidade.

A ação, implementada em 2022, foi inspirada em um projeto do escritório da empresa nos Estados Unidos. Desde então, pesquisas internas apontam que os funcionários percebem o ambiente como mais acolhedor e relatam maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Energia boa

Saber que poderia levar o chihuahua Bart — apelido carinhoso de Bartolomeu — para o trabalho foi um dos fatores que levaram a coordenadora de marketing Juliana Ferreira a aceitar a vaga, no início deste ano. Ela conta que, hoje, são os próprios colegas que cobram a presença do cão, que já ganhou até um crachá de funcionário.

— O dia muda com a energia boa dele por perto. O pessoal mesmo pede para eu trazê-lo. Pegamos o trem juntos, ele sempre de roupinha. Trago também ração, pote de água e tapetinho, mas ele gosta mesmo é de ficar no colo. Onde puder, vou levá-lo. Se pudesse ficar agarrada com ele o dia todo, ficaria — conta.

Para permitir o acesso dos animais, a empresa exige que estejam com as vacinas em dia e utilizem coleira. O tutor também é responsável por fornecer água e alimentação, além de assumir integralmente os cuidados com a higiene do pet. A coordenadora de marketing de influência Alexsandra Esposito afirma que sua golden retriever Luna já é conhecida por todo o prédio.

— Ela gosta de carinho, então faz um revezamento pelas mesas, parando sempre onde recebe atenção. Deita ao lado da pessoa, dorme e até ronca. É nítido o quanto ela fica feliz por “trabalhar” — brinca.

Diretora de contas na agência Monks, Julianna Carvalho conta que a possibilidade de levar Paçoca, seu golden retriever de 5 anos, para o trabalho transformou sua rotina. Na empresa, os colaboradores podem levar seus pets ao escritório todas as quartas-feiras.

— Ele é meu grande companheiro, inclusive no trabalho. Moro perto da agência, então vamos a pé. Minha rotina fica mais otimizada, com mais tempo livre de manhã e à noite, já que os passeios que eu teria que fazer com ele acabam sendo a própria caminhada — explica.

Quem circula pelo escritório da agência de publicidade encontra, além de cães, o gato Simba, de 4 anos, que acompanha, em uma caixa de transporte, a tutora Amanda Gonçalves Conde, sócia sênior de recursos humanos. Apesar de os felinos serem mais sensíveis a mudanças e a ambientes desconhecidos, ela afirma que Simba se adaptou bem à experiência.

— As pessoas viam Simba e vinham até a minha mesa para fazer carinho. Eu também acabei interagindo mais com colegas por causa da presença dele — avalia.

Famoso nas redes

A coordenadora de Trade Marketing Leticia de Castro Melhado viu o vídeo que gravou para o TikTok mostrando o dia de “trabalho” do spitz alemão Panetone viralizar, alcançando mais de 250 mil visualizações. Ela conta que leva o pet ao escritório da empresa Mars para evitar deixá-lo sozinho em casa.

— Não acho justo deixá-lo sozinho, evito ao máximo. Só quando não tem outra opção, e por pouco tempo. Não me imagino mais trabalhando em um lugar onde não possa levá-lo — relata.

O psicólogo Rodrigo Nascimento, da Sociedade Brasileira de Psicologia Organizacional e do Trabalho, avalia, com base em estudos sobre esse tipo de ação, que a presença de pets pode trazer benefícios aos funcionários, especialmente aos tutores, ao aumentar o engajamento e influenciar positivamente o desempenho.

— Mas é importante considerar os riscos no contexto organizacional. A medida precisa ser discutida antes de ser implantada. Ignorar a opinião de colaboradores contrários à presença dos animais pode prejudicar o clima organizacional — pondera.

A necessidade de planejamento prévio também é destacada pelo presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV-RJ), Diogo Alves. Ele lembra que há pessoas que não se sentem confortáveis com animais e que podem ter alergia a pelos. Ainda assim, ressalta que cães e gatos atuam como facilitadores sociais, ajudando na integração das equipes, no networking e na redução do estresse.

— Os animais devem estar com a carteira de vacinação atualizada, livres de parasitas, com vermifugação e controle de pulgas e carrapatos em dia. Também precisam de um espaço tranquilo e seguro, com acesso à água e um local adequado para as necessidades fisiológicas — orienta.

Fonte: O Globo

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