O Dia de Finados é um feriado de origem católica celebrado dia 02 de novembro em diversas partes do mundo. Em alguns países, como no Brasil, é considerada uma data triste, dia em que os membros das famílias visitam seus mortos no cemitério, levam flores e sentem saudades. Já no México é uma festa famosa e muito celebrada, com enfeites pelas cidades, desfiles pelas ruas e banquetes nas casas, onde acredita-se que os espíritos dos mortos venham visitar suas famílias.
Mas e para nossos demais companheiros de planeta, o que representa o Dia dos Mortos para os animais não humanos?
Embora a ciência já tenha comprovado amplamente a capacidade de sentir dor, sofrer, amar e agradecer e tenha até criado um termo para identifica-la: senciencia animal (sentir com consciência) a espécie humana parece ignorar definitivamente esse fato. A senciencia é a capacidade de reagir a um estímulo com inteligência e não como uma máquina, a capacidade de criar aprendizado, de viver experiências, construir memória. Como nós: humanos.
Sua legitimidade, inclusive, já está assegurada em algumas legislações como a da CITES – Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora (Convenção do Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e Flora Selvagem, na tradução livre) utilizada em todos os países da União Europeia, por exemplo, porém a ambição, o desrespeito e a ignorância tem imperado livremente em nossa relação com suas vidas.
A humanidade tem despojado de vidas animais como se tratassem de bens de consumo, fontes de entretenimento produtos negociáveis, precificados, coisificados e acima de tudo descartáveis.
Ursos são aprisionados e criados em cativeiro (especificamente para um fim) e têm sua bile extraída continuamente, de forma invasiva e depois transformada em “remédio” para ser vendida sob o rótulo de medicina oriental. Elefantes são capturados e mortos por suas presas de marfim, dádivas congênitas da natureza, por seu alto valor de mercado. Tigres são – da mesma forma – criados em cativeiro, caçados e assassinados por seus ossos, que alcançam valores milionários no mercado paralelo por crenças de curas milagrosas e confecção de antiguidades milionárias. Leões abatidos em um jogo psicopata de guerra, mediante altos valores, onde a vítima não tem a mínima chance, e terminam suas vidas enfeitando as paredes de caçadores entediados que viajam países de distância para poder brincar de assassinos e postar fotos orgulhosos em redes sociais evidenciando seus “feitos corajosos”.
Baleias, golfinhos, focas e ursos polares caçados e capturados no oceano, reproduzidos em cativeiro, servindo de entretenimento vulgar para zoológicos, aquários, casas de show. Fazendo truques por comida, uma humilhação vendida pelo valor do ingresso. Animais esses, com estrutura de família, afastados de seus habitat natural, de suas comunidades e fechados em tanques artificiais de concreto quando possuem o oceano inteiro para percorrerem.
Sem falar nos pangolins que atingiram a triste colocação de animais mais traficados do mundo por causa das escamas de queratina que cobrem sua pele e que algumas crenças ignorantes pregam que possuem o “poder mágico” de desfazer bruxaria e curar câncer. Sua carne também é um dos motivos de sua morte pois é considerada uma iguaria gastronômica.
A comemoração adequada para esse Dia dos Mortos no reino animal é o luto. Luto pelos irmãos mortos, por todas as espécies extintas, pelas aves canoras que não cantarão jamais sobre essa Terra, pelas mães vacas que tiveram seus bebês arrancados e cujo leite, direito concedidos a eles por nascença, lhes foi roubado e vendido, pelos porcos criados e mantidos em locais onde mal podem se mexer, em meio a suas próprias fezes e urina, coelhos, cães e gatos, utilizados como experimentos científicos e objetos de testes na indústria da beleza.
Luto pelos animais que se apresentam em circos, presos em zoológicos, obrigados a aprender truques para divertir uma plateia cruel e alienada, que sofrem de zoocose (compulsão motora de repetição autoflagelante) morrendo pouco a pouco afastados da liberdade.
E acima de tudo: luto por nós. Humanos ignorantes que somos e fizemos de nossa fonte de sabedoria, amor e aprendizado, nossa refeição, nosso lucro sujo e nossa maior vergonha.