EnglishEspañolPortuguês

AQUECIMENTO GLOBAL

Como as temperaturas extremas alteram a reprodução dos répteis

6 de setembro de 2025
3 min. de leitura
A-
A+
Foto: Lukas Kratochvíl

A biodiversidade está desaparecendo em um ritmo alarmante e é impulsionada pela atividade humana: contaminação, gases de efeito estufa e temperaturas extremas. Mas como exatamente esses fatores afetam a reprodução e a sobrevivência das espécies?

O grupo de pesquisa da Universitat Autònoma de Barcelona (UAB), liderado pela professora Aurora Ruiz-Herrera, pesquisadora do Instituto de Biotecnologia e Biomedicina (IBB-UAB) e do ICREA Acadèmia, teve como objetivo responder a essa questão focando no estudo de répteis e peixes, espécies-chave para o equilíbrio dos ecossistemas. A presença e o estado de saúde de répteis e peixes influenciam diretamente a estrutura e o funcionamento das redes alimentares terrestres e aquáticas, o que os torna verdadeiros sentinelas do estado ambiental do planeta.

A equipe da UAB publicou recentemente dois estudos sobre répteis que demonstram como mudanças na temperatura ambiental podem alterar os processos genéticos de reprodução e evolução das espécies.

Em um dos estudos, publicado na PLOS Genetics, a equipe da UAB descobriu que temperaturas extremas alteram a recombinação genética do gecko-terrestre-de-Guibé (*Paroedura guibeae*), um pequeno réptil que vive nos ecossistemas quentes de Madagascar. A recombinação é um processo fundamental para as espécies, pois gera diversidade genética, o que aumenta a probabilidade de uma espécie se adaptar às mudanças climáticas. Ela também influencia a evolução, determinando quais combinações genéticas são transmitidas aos descendentes.

A equipe liderada por Ruiz-Herrera observou que, sob condições de calor, os eventos de recombinação aumentaram, juntamente com uma maior fragmentação do DNA e mudanças nas estruturas cromossômicas. Esses resultados revelam que a temperatura não afeta apenas a expressão gênica, mas também a maneira pela qual a informação genética é transmitida através das gerações.

“Este estudo nos ajuda a entender que o aquecimento global não afeta apenas o clima, mas também influencia os mecanismos de adaptação dos animais para sobreviver”, explica Laura González Rodelas, pesquisadora do grupo da UAB e coautora do estudo.

O segundo estudo, realizado em paralelo junto com um consórcio internacional e publicado na GigaScience, focou no dragão-barbudo-central (*Pogona vitticeps*), uma espécie australiana capaz de mudar de sexo se os ovos forem incubados em altas temperaturas. Esse fenômeno, conhecido como reversão sexual induzida por temperatura, permite que indivíduos geneticamente machos (portadores de cromossomos ZZ) se desenvolvam como fêmeas funcionais.

Graças a um novo sequenciamento genômico de alta qualidade, os pesquisadores puderam estudar em detalhe os cromossomos sexuais dessa espécie e entender melhor como o ambiente pode reprogramar seu desenvolvimento biológico. O novo sequenciamento, que inclui montagens completas dos cromossomos sexuais Z e W, abre a porta para identificar genes-chave envolvidos na determinação do sexo e entender como o ambiente pode alterar os programas genéticos que definem o sexo.

“Este novo genoma será um recurso fundamental para facilitar e acelerar a pesquisa sobre as particularidades reprodutivas desta espécie, bem como para estudos comparativos com outros répteis”, explica Laia Marín Gual, pesquisadora do grupo da UAB e coautora do estudo.

Ambos os estudos destacam uma mensagem clara: a temperatura não apenas muda o clima, mas também muda a maneira pela qual a vida é transmitida, destaca a equipe de pesquisa da UAB. De acordo com eles, essas descobertas têm implicações profundas para a biologia evolutiva e a conservação das espécies em um mundo cada vez mais quente.

“Estamos começando a entender como o ambiente pode moldar diretamente a arquitetura genética dos organismos. Esses resultados nos aproximam de desvendar os mecanismos que permitem aos répteis se adaptar e persistir sob condições extremas”, explica Ruiz-Herrera.

“Compreender esses processos é fundamental para antecipar quais espécies são mais vulneráveis ​​às mudanças climáticas e projetar estratégias de conservação mais eficientes, porque proteger a biodiversidade também protege o futuro de todos nós”, conclui a pesquisadora e catedrática do Departamento de Biologia Celular, Fisiologia e Imunologia da UAB.

Traduzido de Phys.org.

    Você viu?

    Ir para o topo