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ADAPTAÇÃO

Como as aves migratórias podem se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas

28 de setembro de 2023
Filipe Pimentel Rações
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

O fenômeno das alterações climáticas, de génese antrópica, está provocando alterações nos padrões ambientais de várias regiões do planeta, umas mais marcadas dos que outras.

No caso das aves migradoras, que passam o inverno num local e nidificam em outro, a disrupção das estações do ano, como as conhecemos, pode colocar em risco a sobrevivência das suas populações. Com a primavera chegando mais cedo, os picos de abundância de alimento podem estar a antecipar-se às migrações de algumas espécies de aves, pelo que, quando chegam aos seus destinos estivais, esses animais deparam-se com fontes de alimento escassas, o que pode comprometer o sucesso da reprodução e a sobrevivência das novas gerações.

Investigadores dos Países Baixos e da Suécia quiseram compreender se é possível ajudar as aves migratórias a se adaptar a estas mudanças e, assim, a sobreviverem num planeta em plena transformação ambiental e climática.

Jan-Åke Nilsson, da Universidade de Lund e um dos autores do artigo divulgado recentemente na ‘Nature Ecology & Evolution’, aponta que as espécies que não migram estão, de alguma forma, conseguindo se ajustar os seus comportamentos e hábitos de vida à chegada antecipada da primavera. Como não migram, são capazes de perceber que a temperatura está a aumentar e, assim, antecipam também os seus ciclos.

Mas as aves migratórias, em outra parte do planeta, não têm como saber que nos seus locais de nidificação a primavera chegou mais cedo do que é habitual. Quando, por fim, lá chegam, o pico da abundância de alimento pode já ter passado.

Por isso, Nilsson considera que se essas aves voarem até regiões um pouco mais a norte dos locais que costumam visitar, a uns dias adicionais de voo, podem encontrar comida em quantidade suficiente para satisfazerem as suas necessidades.

Para testarem essa hipótese, os investigadores capturaram nos Países Baixos fêmeas e ovos de papa-moscas-pretos (Ficedula hypoleuca) e os transportaram para a Suécia, onde o pico da abundância de lagartas, uma das presas prediletas dessa espécie de aves, acontece cerca de duas semanas depois.

Verificou-se que as fêmeas transferidas, bem como as suas crias, conseguiram se adaptar bem ao novo ambiente e tiveram mais sucesso do que os papa-moscas-pretos suecos e os que permanecerem nos Países Baixos.

E tudo indica que as fêmeas que foram transportadas dos Países Baixos para a Suécia passaram às suas crias o ensinamento de que o novo local era a melhor aposta, uma vez que, depois de terem passado o inverno nas terras mais quentes de África, as jovens aves, na sua primeira migração primaveril, nem sequer pararam nos Países Baixos, mas foram diretamente para a Suécia, onde nasceram. E chegaram mesmo antes dos papa-moscas que já nidificavam na Suécia, pelo que as progenitoras puderam dar às crias um avanço considerável face às demais.

“O número de pequenas aves, particularmente de aves migratórias, tem diminuído drasticamente por toda a Europa”, lamenta Nilsson. Como tal, argumenta que “ao voarem um pouco mais para norte, estas aves, pelo menos teoricamente, podem sincronizar com as suas fontes de alimento e há esperança de que populações robustas de pequenas aves possam ser mantidas, mesmo que a primavera chegue cada vez mais cedo”.

Fonte: Greensavers

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