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LUMINOSIDADE

Como animais reagem às mudanças de fases da lua

Estudo colaborativo analisou comportamento de espécies com base em mais de dois milhões de fotos. Resultados apontam riscos causados por iluminação artificial e desmatamento

6 de novembro de 2024
Pedro Bardini
4 min. de leitura
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Foto: Baz Ratner/REUTERS

Alguns mamíferos de florestas tropicais da América Latina, África e Ásia demonstram alteração no comportamento conforme a luminosidade noturna. É o que contam os autores de um artigo publicado em outubro na revista científica Proceedings of the Royal Society B.

O estudo reuniu 19 pesquisadores de diferentes universidades e países para examinar o comportamento de 86 espécies tropicais. Eles também analisaram a relação das práticas noturnas com o desmatamento florestal, já que as áreas descobertas por árvores recebem maior incidência de luz.

Estudos posteriores revelaram que espécies de regiões áridas e desérticas também são afetadas pela luz do luar. Em experimentos que simularam a lua cheia em laboratórios, roedores procuraram se esconder para evitar predadores, que caçam melhor em ambientes iluminados.

Estudo

O comportamento dos mamíferos foi examinado com base em fotografias noturnas tiradas entre 2008 e 2017 por meio de câmeras que integram a Team, uma rede internacional de monitoração, cujo objetivo é observar as respostas de plantas e animais à mudança climática e às ações humanas.

As câmeras estão espalhadas em importantes florestas tropicais, como a Amazônia, no Brasil, a do Congo, em países da região central da África, e a da Atsinanana, na ilha de Madagascar. Espécies fotografadas em Indonésia, Malásia, Peru, Equador, Panamá e Costa Rica, que têm florestas tropicais sendo monitoradas pela Team, também foram incluídas no artigo.

2,1 milhões foi a quantidade de imagens analisadas no estudo

As fotos registraram os hábitos noturnos de cada uma das 86 espécies analisadas pelos pesquisadores. Eles notaram uma grande influência da luz lunar no chão das matas e até mesmo nas copas das árvores.

Segundo o estudo, evitar a lua cheia foi um comportamento mais comum, observado em 30% de todas as espécies, em comparação com os 20% que demonstraram atração pela luz lunar, especialmente na fase cheia.

Tanto a repulsa, que os cientistas denominam de fobia lunar, quanto a atração pela luz noturna são responsáveis por alterações em hábitos alimentares, e impactam a cadeia alimentar das florestas tropicais.

Os mamíferos

Richard Bischof, autor do artigo e professor da Universidade Norueguesa de Ciências da Vida, explicou de que forma a incidência da luz pode comprometer as espécies com fobia lunar.

“Imagine brincar de esconde-esconde em um quarto escuro e alguém acender uma vela. A luz, mesmo que seja fraca, pode facilitar a sua orientação na sala. Mas se for você quem está se escondendo, de repente será muito mais fácil te detectar”, disse Bischof em comunicado à imprensa.

Por isso, grande parte das espécies que evitaram a luz lunar – e, portanto, não apareceram nas fotos –  são de roedores, que normalmente compõem o grupo de presas nas florestas tropicais, como a paca e o ratinho-do-mato, na Amazônia.

Já os veados catingueiros, veados mateiros e os caititus foram espécies que apresentaram maior atração pela luz noturna, apresentando alto nível de atividade durante as noites de lua cheia na floresta Amazônica. Todos eles são predadores.

Desmatamento e luz artificial

Os resultados do estudo mostram que até mudanças sutis na luminosidade das florestas, como as diferentes fases da lua, podem impactar o comportamento dos animais. A princípio, a maioria dos mamíferos tendem a evitar a fase de lua cheia. Metade deles têm o tempo e o nível de suas atividades alterados nessa fase. Já em fase de lua nova, quando a iluminação noturna é menor, os mamíferos apresentam maior nível de atividade.

Esse fenômeno, que tem sido estudado cada vez mais por biólogos, gera preocupações sobre o impacto da luminosidade artificial nos ecossistemas florestais. Segundo os autores do artigo, a tendência é que intervenções humanas afetem cada vez mais o comportamento animal de florestas.

Um estudo publicado em 2017 na revista científica Plos One revelou que, entre 1992 e 2012, a iluminação artificial aumentou em 9% em áreas de manguezais em todo o planeta. No Brasil, esse mesmo número chegou a 17%.

“Existe o risco de estarmos alterando fundamentalmente a composição de comunidades e as interações entre espécies de florestas tropicais apenas por meio da luz”, disse Bischof ao Phys.org, site de notícias científicas britânico.

Consequentemente, devido à maior luminosidade noturna, as espécies podem perder oportunidades de obter alimentos ou de se locomoverem e migrarem na floresta.

Outro aspecto que está diretamente relacionado à luminosidade e às intervenções humanas é o desmatamento. Com menos árvores na floresta, há mais espaço para a luz noturna entrar. Sem contar a perda de mata nativa do solo, as contaminações por água e outros diversos impactos negativos causados pelo desflorestamento.

Fonte: Nexo

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