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AQUECIMENTO GLOBAL

Como a mudança climática está ameaçando um dos animais em extinção mais fofos do mundo

A população de focas-do-cáspio caiu mais de 90 por cento desde o início do século XX

11 de abril de 2025
Julia Musto
3 min. de leitura
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Foto: Central Asian Institute of Ecological Research (CAIER)

O habitat de um dos animais em extinção mais fofos do mundo está sendo ameaçado pelas mudanças climáticas causadas pelos seres humanos.

A foca-do-cáspio é o único mamífero marinho encontrado no Mar Cáspio, que possui uma área de 370 mil km². Agora, pesquisadores afirmam que os níveis de água do maior corpo d’água interior do mundo estão diminuindo à medida que as temperaturas aumentam.

Mas ainda há esperança para essa espécie nativa — se os humanos tomarem medidas “urgentes”, destacam os especialistas.

“Alguma queda no nível do Mar Cáspio parece inevitável, mesmo com ações para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa”, disse o Dr. Simon Goodman, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, em um comunicado. “No entanto, com os efeitos previstos se desenrolando ao longo de algumas décadas, deve ser possível encontrar maneiras de proteger a biodiversidade enquanto se resguardam os interesses e o bem-estar humano.”

Ele acrescentou: “Isso pode parecer um prazo longo, mas, dadas as imensas dificuldades políticas, legislativas e logísticas envolvidas, é aconselhável começar a agir o mais rápido possível para aumentar as chances de sucesso.”

Goodman supervisionou uma nova pesquisa sobre a situação das focas, publicada na quinta-feira na revista Nature Communications Earth & Environment.

Mesmo que o aquecimento global seja limitado a menos de cerca de 2 graus Celsius, é provável que o nível do mar — que faz fronteira com Rússia e Irã — caia de 5 a 10 metros. Se as temperaturas aumentarem ainda mais, os pesquisadores afirmam que os níveis podem cair até 21 metros até 2100.

Uma área maior do que o tamanho da Islândia provavelmente secará, mesmo em um cenário otimista.

Todo esse encolhimento e secagem pode ter consequências significativas para a biodiversidade e para as comunidades costeiras que dependem desse recurso hídrico, alertam os pesquisadores.

Para os humanos, um leito marinho exposto provavelmente liberará poeira contendo contaminantes industriais e sal, ameaçando a saúde pública.

A perda de água também pode afetar ainda mais o clima, levando a menos chuvas e condições mais secas em toda a Ásia Central.

Além da foca, há centenas de espécies de peixes e invertebrados que vivem no Mar Cáspio. Entre elas, estão seis espécies de esturjão, e espera-se que a queda nos níveis de água limite o acesso desses peixes aos rios de desova. Para as focas-do-cáspio, isso também significa uma redução significativa no habitat de reprodução, com uma queda de 5 metros reduzindo em até 81% o gelo no norte do mar onde as focas dão à luz.

Atualmente, estima-se que existam entre 75 mil e 270 mil focas no mar, segundo o Caspian Policy Center. A população já foi estimada em quase um milhão no início do século XX. A espécie foi classificada como ameaçada de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) em 2008.

As focas já vinham sendo ameaçadas por caça, operações de pesca, doenças, perturbações na cadeia alimentar e perda de habitat. O Mar Cáspio, além disso, também enfrenta ameaças como poluição, pesca excessiva e espécies invasoras.

A queda do nível do mar também deve tornar inacessíveis todas as áreas terrestres onde as focas atualmente descansam. Além disso, a cobertura das áreas marinhas protegidas existentes deve praticamente desaparecer em todos os países, com exceção do Cazaquistão.

Para o futuro, os autores recomendam que as regiões afetadas reduzam as emissões de gases de efeito estufa, monitorem os ecossistemas, apoiem infraestruturas costeiras resilientes e desenvolvam legislações que permitam a criação de áreas protegidas.

“Esperamos que esta pesquisa ajude a aumentar a conscientização sobre a trajetória e os possíveis impactos da queda do nível do mar”, disse a Dra. Rebecca Court, pesquisadora de Leeds. “O mapeamento deve equipar melhor os formuladores de políticas e conservacionistas para planejar e lidar com os diversos problemas com antecedência.”

Traduzido de Independent

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