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ATENÇÃO ESPECIAL

Como a morte do labrador Pudim acende alerta para plantas tóxicas espalhadas por SP

Cão auxiliava a tutora em crises de ansiedade e era doador de sangue; Cycas revoluta está em várias áreas verdes da capital paulista

6 de maio de 2025
Jairo Marques
6 min. de leitura
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Foto: Divulgação

O labrador chocolate Pudim, 9, foi doador de sangue para cães enfermos na maior parte de sua vida. Era forte, exímio nadador e com fôlego para ficar em uma gaiola por 18 horas para atravessar o Atlântico em viagens internacionais.

Tinha 16 mil seguidores nas redes sociais. Mas, sua maior virtude era mesmo algo bem humano: ele dava suporte emocional e ajudava a amenizar crises de ansiedade da tutora, a designer, Fabiana Amaral, 47, que está no espectro do autismo.

Mesmo com tantos predicados, Pudim sucumbiu diante de uma planta ornamental. Morreu intoxicado, com falência hepática, depois de cinco dias na UTI.

Ele teve contato com a Cycas revoluta ou palmeira-sagu, que é extremamente tóxica em todas as suas partes —especialmente sementes e folhas mais jovens—, mas que está espalhada por jardins, canteiros, praças, parques, stands de empreendimentos imobiliários e demais áreas verdes nas mais diversas regiões de São Paulo.

“Ele ficou todo amarelado, os olhos, a pele, a barriga. Foi muito triste e penoso vê-lo daquele jeito. Meu Pudim era muito resistente, mas essa planta acabou com meu amigo. Estava preparando uma grande festa para os dez anos dele”, diz Fabiana.

Em alguns cidades como o Rio de Janeiro e Uberaba (MG), o plantio da Cycas é proibido por lei. Na capital paulista, a proibição ao cultivo de espécies tóxicas em áreas públicas existiu entre 2003 e 2022, quando foi revogada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), com parecer da Procuradoria Geral do Município.

Cycas revoluta ou palmeira-sagu. Foto: David J. Stang | Wikimedia Commons

A alegação para a descontinuidade foi a criação, em 2011, da lei de “Requalificação Arbóreo e Ambiental da Cidade de São Paulo”, que não impede o cultivo da planta tóxica de forma explícita.

O contato do cão com a Cycas, que não tem antídoto contra sua toxicidade depois de ingerida, foi em uma área ajardinada aberta, de uma instituição financeira, na Vila Madalena, na zona oeste.

A reportagem encontrou a planta, que pode ser comprada livremente pela internet com valores entre R$ 40 a R$ 330 e tem baixa manutenção, em vários locais abertos da cidade, como na praça Pereira Leite (zona oeste), na praça da Paz (zona norte), no parque do Carmo (zona leste) e no parque Ibirapuera. Até mesmo áreas ajardinada de lojas com produtos para animais é possível encontrar a Cycas.

De acordo com o médico veterinário Marcelo Quinzani, do Grupo Pet Care, “os sintomas de intoxicação, principalmente gástricos, podem aparecer em algumas horas após a ingestão: vômito, geralmente, o primeiro sinal, diarreia, às vezes, com sangue, cansaço extremo, falta de apetite, mucosas e olhos amarelados, tremores ou convulsões, urina escura, aumento da sede ou micção e sinais de dor abdominal”.

Segundo o profissional, os relatos de intoxicação por plantas que chegam na clínica são “bastante comuns”. “Na maioria das vezes acontece com cães jovens, que ficam muito tempo sozinhos em casa e com acesso a jardins ou vasos”.

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