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MOMENTO CAÓTICO

Comida doada, 20h de trabalho, cães estressados: veterinária relata rotina em abrigo para animais no Rio Grande do Sul

15 de maio de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Reprodução

No domingo (12), a médica veterinária Rachel Barretto Prado saiu de Ribeirão Preto (SP) com destino a São Leopoldo (RS) em uma viagem de carro que durou 18 horas.

De lá para cá, a rotina dela passou a ser única e exclusivamente o resgate de cães afetados pelos temporais que atingem o Rio Grande do Sul há, pelo menos, duas semanas. Até a noite de terça-feira (14), o estado contabilizava 149 vítimas, 112 desaparecidos e 806 feridos.

Desde que as chuvas começaram, 10 mil animais já foram resgatados, muito graças a iniciativas como a de Rachel, que se uniu ao Instituto SOS Bicho Urbano, de Passos de Torres (SC), para salvar a vida de animais que sequer entendem o que está acontecendo.

Pelas redes sociais, a veterinária compartilha o dia a dia e pede ajuda de quem quer que possa contribuir com doações.

Ela também mostra o que tem sido feito desde que chegou no abrigo, um supermercado desativado em janeiro, que tem servido de lar para animais e voluntários.

“O local hoje está, mais ou menos, com uns 300 animais. Mas a cada hora chega mais bicho. A gente tem só cachorro aqui para não estressar os gatos de tudo que ele já passaram. Está tendo um abrigo só para gato e um abrigo só para cachorro”.

20 horas de atendimento e animais assustados

O trabalho de Rachel e outros veterinários voluntários envolve uma rotina puxada de quase 20 horas de atendimento. Para descansar, muitas vezes, sobra menos do que cinco horas.

Entre segunda e terça-feira, diz a médica, os atendimentos começaram às 7h e só terminaram às 2h da manhã.

As refeições têm sido enviadas ao grupo por moradores locais. Eles recebem almoço, lanche da tarde e jantar.

No abrigo, os voluntários também organizam tudo que conseguem arrecadar em campanhas nas próprias contas na internet: pacotes de ração, água, medicamentos e materiais que servem de estrutura para que possam ser montadas casinhas para os cães dormirem.

“Esses animais todos passam por triagem. Todos são avaliados e todos estão tomando vermífugo, antipulga, anticarrapato. Todos estão tomando porque é para prevenir infestação. São muito animais que estão ficando nesse local”, conta.

Na tarde de quarta-feira, a veterinária participou do resgate de mais cães. Emocionada, ela contou como tem lidado com a tragédia no Rio Grande do Sul e de que forma a vida profissional acaba impactando a vida pessoal.

“Uma das coisas que mais me chama atenção é que são animais que têm tutor e pode ser que nem veja mais esses tutores. A gente acabou de resgatar dois shih-tzus que a gente viu que eram tosadinhos, bonitinhos e que pode ser que não vão ver mais os tutores, né? Isso me mata muito”.

Rachel conta que os animais estão estressados e assustados e alguns até arredios na hora que os voluntários se aproximam para fazer o resgate.

Uma vez acolhidos e salvos no entanto, eles mudam o comportamento e passam a pedir por carinho.

“Os animais recebem a gente super bem agora que estão aqui dentro [do abrigo]. Pra gente dar comida, eles recebem a gente muito bem. Eles não nos recebem bem quando são resgatados das casas ou até quando chegam no abrigo [por medo]. Mas depois que eles estão aqui, é bem tranquilo”.

‘Ajudar mais’

Rachel decidiu embarcar em uma viagem para o Rio Grande do Sul com a amiga Natália Selli, que também é veterinária.

Em São Leopoldo, elas se uniram a outros veterinários e estudantes de veterinária de diversos pontos do Brasil.

No supermercado feito de abrigo também há pessoas de outras áreas, como psicólogos e advogados, que ajudam no resgate e no atendimento de animais.

Todo mundo tem ajudado como pode e, para ela, poder atuar presencialmente em uma das maiores tragédias do Brasil é algo que vai ficar marcado.

“Estava sendo muito triste [acompanhar de longe]. É muito difícil ver essa situação e não fazer nada, decidimos vir para cá. Como sou ultrassonografista volante, tive condição de vir para cá, de ficar um tempo sem trabalhar lá [em Ribeirão Preto]. A Natália pediu férias do trabalho dela e o namorado dela [que acompanha as duas] também”.

A previsão, segundo Rachel, é permanecer no Sul por, pelo menos, até sábado (18).

“Chegamos na segunda-feira à noite e pretendemos ir embora no sábado ou no domingo. Vou ficar praticamente uma semana aqui. Onde a gente está ficando é um supermercado que foi abandonado em janeiro e esse supermercado é super grande e a gente está conseguindo colocar todos os animais resgatados das enchentes para cá”.

Fonte: G1

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