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“Comer animais”: ler vegano é parar de recomendar

27 de outubro de 2015
3 min. de leitura
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Em 2011, o livro “Comer Animais” de Jonathan Safran Foer chegou ao Brasil e despertou alguns debates acerca do vegetarianismo como uma forma de salvação da humanidade. Li a obra pela primeira vez naquela mesma época e me pareceu fantástico o banho de conhecimento que estava chegando até mim – na época ainda um feto no mundo vegetariano. Depois de uma conversa com minha namorada (que deixou claro que não tinha gostado tanto assim do livro), decidi reler e confesso que não mais recomendarei a obra com tanto fervor.
Safran Foer possui um tipo de linguagem muito interessante e que realmente cativa os leitores – ainda mais aqueles que estão chegando empolgados em um novo universo de “salvação de animais” –, mas isso não é suficiente quando se fala em exploração animal, direitos animais e qualquer outro tema que circule nessa atmosfera abolicionista. Até porque o grande problema do livro todo não está na linguagem, mas sim na mensagem pouco-ou-quase-nada abolicionista. Apesar de deixar claro todo o crime que está envolvido no “processamento animal”, ele flerta demais com o bem-estarismo e por momentos permite-se ser levado por ele para sombras escuras demais.
Há diversos momentos em que o autor deixa clara a própria impressão de que o grande problema das granjas industriais está na forma com que os animais são abatidos, não no fato de eles serem abatidos. Safran Foer elogia pequenas produções norte-americanas que trabalham com modelos humanitários e chega até mesmo a parecer concordar que uma vida sem stress pode justificar a ida ao matadouro. Mesmo assim, diz que não dará carne para seu filho.
O que não fica claro é o real motivo pelo qual ele tomou essa decisão. Há momentos em que parece ser ambiental (“montes de merda são jogados no mundo”), em outros parece apenas saúde (“doenças que vem da carne”) e até mesmo políticos (“USDA e suas artimanhas legais”)… Por alguns ele parece mais alinhado com a abordagem abolicionista (“os grãos da produção alimentariam a humanidade faminta”), mas ainda assim parece uma escrita que trabalha mais com uma declaração de culpa do que um algo que possa ser usado pelo ativismo.
Um dos pontos que mais incomodou na segunda leitura (após alguns anos de veganismo) foi a ausência de críticas ao modelo ovolactovegetariano. Mesmo quando o autor diz que é possível viver saudavelmente com uma dieta vegetariana e deixa claro que a crueldade contra animais está longe de ser uma exceção no processo, Safran Foer resume sua crítica à crianção industrial e ao abate de animais “de corte”.
Nisso, deixa de lado ou quase ignora a situação excruciante de vacas leiteiras, de porcas reprodutoras, de vitelos, de galinhas poedeiras, e de tantos outros animais que são usados para a produção de bens de consumo. De uma maneira bem crua, não seria tão errado dizer que Safran Foer investiu anos de pesquisa para escrever pouco mais de 200 páginas para reforçar o que Paul McCartney já havia dito – deixando de lado o que ele também deixou…
“Se as paredes dos matadouros fossem de vidro, o mundo seria vegetariano [mas mantenham as paredes da indústria de laticínios concretadas, por favor!]”
Comer Animais pode ser um excelente cartão de visitas para quem está deixando de comer animais. Pode ser uma obra boa no sentido literário e favorecido pela facilidade com que o autor se conecta ao leitor. Mas está bem longe de ser um guia para quem é (ou tem algum desejo de ser) abolicionista.

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