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Combater caça a golfinhos ainda é desafio no Peru

2 de outubro de 2013
3 min. de leitura
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Em fevereiro do ano passado, uma cena chocou os peruanos. Mais de 870 golfinhos foram encontrados mortos numa praia do norte do país. As causas, segundo um estudo de um instituto ligado ao governo, foram naturais. Mas ambientalistas atribuíram o desastre ao impacto acústico causado pela exploração de petróleo, que teria desnorteado os animais e os levado a encalhar na areia.

O episódio chamou a atenção para as dificuldades enfrentadas pelo Peru para proteger os golfinhos, que sofrem sobretudo com a caça. Estima-se em pelo menos 2 mil a quantidade de cetáceos mortos por ano para consumo no país. Nos mercados populares, a carne chega a ser vendida com a alcunha de “porco do mar”.

“No Peru temos os índices mais altos do mundo de caçade golfinhos”, diz o ativista e biólogo marinho alemão Stefan Austermühle, que trabalha desde os anos 1990 em atividades de proteção de baleias e golfinhos no país.

Embora ainda alto, os números são mais baixos que nas décadas passadas. Uma das razões que levou à exploração dos golfinhos foi uma queda dos recursos pesqueiros a partir dos anos 1970. “Não tinham mais o que pescar, então pescavam golfinhos. Nos anos 1990, a caça chegou a níveis estimados de 20 mil golfinhos por ano”, diz Austermühle.

A cifra, alarmante, colocou em risco a sobrevivência dos golfinhos na costa peruana. Em 1996, foi aprovada uma lei que proibiu finalmente a caça, comercialização e o consumo desse cetáceo, agora considerados um crime ecológico punido com até três anos de prisão. Apesar disso, a captura de animais continuou, ainda que em menor escala.

Obstáculos
Austermühle lembra que, quando desembarcou no Peru, na década de 1990, as ONGs trabalhavam na floresta e “quase ninguém se preocupava com o mar”. Junto com outros ativistas, criou a organização Mundo Azul em 1999, da qual hoje é diretor. Com ela, tem buscado gerar uma consciência ambiental e combater a caça.

Na sua pesquisa, o alemão percorreu a costa durante mais de seis anos, registrando 31 espécies de golfinhos e baleias. Com uma rede de voluntários peruanos e estrangeiros, continuou vigiando e realizando trabalhos de difusão e educação sobre o tema. Mas sempre apareciam mais golfinhos mortos, vítimas de redes ou arpões, dilacerados nas praias. Às vezes encontrava só a cabeça, pois as partes ‘comestíveis’ já haviam sido retiradas.

Com câmeras escondidas e investigações, infiltrando-se até em mercados e em associações pesqueiras, Austermühle descobriu muitos lugares de venda da carne de golfinho. Com essa informação, a Mundo Azul recorreu à polícia, que realizou ações para combater o comércio e o consumo.

A fiscalização não é simples e, enquanto o consumo de carne de golfinho se mantiver, sempre haverá pessoas dispostas a caçar o animal. A cruzada da ONG continua em diferentes frentes. Stefan Austermühle investiga novos perigos para os golfinhos, como os efeitos da contaminação e da indústria, as mudanças climáticas e, inclusive, o uso como isca para a pesca.

Austermühle reconhece que os recursos para o estudo e a fiscalização são escassos, o que dificulta a tarefa. Além disso, as suas denúncias são incômodas. “Ganhei vários inimigos. Tenho recebido, em várias ocasiões, ameaças de morte e reclamações daqueles que dizem que eu estou passando uma imagem ruim do Peru”, confessa.

Mas também conseguiu sensibilizar a comunidade no trabalho com estudantes. “Eu acredito que a consciência ambiental está começando a se desenvolver. Tem crescido em comparação a 30 anos atrás, mais ainda falta”, afirma.

Fonte: DW/Terra

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