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Comandante de batalhão de Guarulhos (SP) diz que CCZ não deve se responsabilizar por proteção animal

6 de março de 2012
7 min. de leitura
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A proteção animal deve estar nas ações das secretarias de meio ambiente (Foto: João Machado)

Cada vez mais frequentes em círculos de discussões, a defesa dos direitos dos animais e as políticas para sua viabilização refletem diretamente em análises sobre as ações dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) das grandes cidades. Em Guarulhos o quadro não difere.

Para o comandante do 31º Batalhão da Polícia Militar de Guarulhos, tenente coronel Antonio Belucci, que há cinco anos concilia sua carreira de três décadas na corporação com o resgate de cães em situação de risco, um dos passos para a solução em torno do assunto pode estar em um remanejo nas secretarias municipais.

O coronel Belucci já resgatou dezenas de cães das ruas, a maioria parte muito doente e vítimas de maus-tratos, e defende que questões relacionadas à proteção animal sejam retiradas da alçada dos CCZs, que são geridos pelas secretarias de Saúde.

Com perspectivas de aposentadoria na PM em maio, Belucci conta ainda em entrevista à Folha Metropolitana momentos marcantes de sua trajetória na corporação, além de explanar suas análises sobre o papel da polícia, os desafios da segurança pública e o combate à criminalidade.

Folha Metropolitana – Por que a proteção animal não deve estar vinculada ao CCZ?

Antonio Belucci – Os Centros de Controle de Zoonoses, como o próprio nome diz, devem ser responsáveis pelo controle de zoonoses, de doenças, para a saúde animal e a saúde pública. Por isso eles estão vinculados às secretarias de Saúde. A proteção animal e a garantia dos direitos dos animais devem estar dentro das ações das secretarias de meio ambiente, que cuida de questões pertinentes a isto.

FM – Qual sua avaliação sobre o funcionamento do CCZ de Guarulhos?

Belucci – O CCZ opera em seu limite, quer dizer, não dá conta da demanda. É como falei: não deveria englobar ações relacionadas à proteção. Também considero que sua estrutura possa não ser adequada para o tratamento de todos os animais recebidos. Não sei se há uma enfermaria adequada, profissionais 24h para os animais em tratamento, enfim, é preciso avaliar estas questões. E eu não estou falando isso no sentido de apontar os profissionais de lá, mas o funcionamento de maneira de geral, levando em conta também a concepção dos CCZs.

FM – Como começou sua trajetória em resgate animais?

Belucci – Quero deixar claro que não me considero protetor animal, nem acho que o que faço é resgate. Acolho animais de acordo com o possível, não tenho abrigo, não sou ligado a ONGs, enfim. Essa história começou em 2007, durante uma desapropriação em uma comunidade, quando um cachorro doente estava prostrado sob o sol quente enquanto a família era desapropriada e o trator tentava entrar para demolir. Ele estava com berne ao redor do rabo. Olhei, senti pena e pedi para que soldados o levassem à clínica da Universidade Guarulhos. Lá ele se recuperou, ficou um tempo no batalhão, ganhou o nome de Moleque, até que um dos PMs o levou para casa. Mas, infelizmente, ele acabou fugindo e não foi mais localizado.

FM – Quantos cães já resgatou?

Belucci – Foram vários. Houve uma época em que eu tentava contar quantos havia recolhido e ajudado, porém, desisti, perdi a conta. Sei que muitos foram para um novo lar, alguns não resistiram, mesmo com tratamento. Atualmente estou com oito cães no batalhão prontos para doação.

FM – Qual o principal desafio para a defesa dos direitos do animal?

Belucci – Pode parecer que não, mas considero que o maior desafio esteja relacionado à questão cultural. Inclusive, por este fator, muitas vezes o que vemos como maus-tratos, a pessoas que o comete não entende como sendo. Falta conhecimento para que haja posse responsável, há a questão financeira, pois muitas vezes uma família não tem condições de oferecer as vacinas, uma ração adequada.

FM – Sobre sua carreira na PM, como foi o ingresso e porque escolheu ser PM?

Belucci – Depois de ser bancário por quatro anos, e tentar um curso de matemática, resolvi seguir a carreira do meu pai, que foi cabo da PM. Em 1976 tentei ingressar na Academia Militar Barro Branco e não passei. Consegui na segunda tentativa, dois anos depois. Atuei por muito tempo no ensino, na escola de tiros, onde fui instrutor por 25 anos. Entre 1987 e 2001 era responsável pelos alunos da escola de sargentos e também passei pela corregedoria.

FM – Quando o senhor chegou a Guarulhos?

Belucci – Estou em Guarulhos desde 2006. Foram dois anos no 44º BPM, seis meses como comandante do Comando de Policiamento de Área Metropolitano 7 (CPAM7). Há dois anos estou no comando do 31º BPM, onde aprendi muito, principalmente pela proximidade à comunidade.

FM – Sua aposentadoria está próxima. Após 30 anos na PM, o que mais marcou a carreira?

Belucci – Marcou bastante ter participado da implantação da Rocam, em 1982, tendo passado por treinamento e integrado o primeiro grupo. Outro marco foi participar da implantação do veículo Opala no policiamento, em meados de 1988, quando o trabalho ainda era feito com Fuscas.

FM – Diante da experiência como policial e do comando de um batalhão da PM, quais as principais lacunas da segurança públicas?

Belucci – É complicado falar de lacunas na segurança pública. O que chama atenção é a falta de apoio da comunidade. Acho que é uma grande lacuna, pois, uma vez que a população dialoga e contribui para a ação da PM, a corporação consegue elaborar melhores estratégias no combate ao crime. Esta participação significa nada mais que o exercício da cidadania, afinal, o cidadão é o principal detentor da informação e o criminoso não age na frente da polícia, mas diante da população.

FM – No Rio de Janeiro e na Bahia, militares paralisaram em protestos por salários e outras questões. Qual sua avaliação da corporação em São Paulo, salário e infraestrutura não são lacunas para a segurança pública?

Belucci – Não cabe a mim falar sobre estas paralisações, diria apenas que épocas eleitorais são delicadas e a população deve estar alerta. Quanto à infraestrutura da PM em São Paulo, acho que há um bom respaldo tecnológico, boas viaturas, armamento adequado e treinamento profissional. A remuneração me parece satisfatória, embora esta questão também esteja muito relacionada à gestão de cada um. É como dizem: quanto mais se ganha, mais se gasta.

FM – Conte sobre os números do 31º BPM no último ano.

Belucci – Em 2011 o batalhão atendeu 30 mil ocorrências, isso não só em Guarulhos, mas em municípios vizinhos, como Arujá e Santa Isabel. Foram apreendidos 25 quilos de drogas, 90 armas foram retiradas de circulação e 480 foram presos em flagrante.

FM – Diariamente vemos diversas polícias realizando ações para combate ao crime organizado, especialmente o tráfico de drogas. Quais os principais desafios para o combate a este crime?

Belucci – O tráfico de drogas é o pior crime, pois por trás dele estão outros vários, como homicídios, brigas, roubos, uso de máquinas caça-níqueis e venda de produtos pirateados. Por isso é um grande desafio combatê-lo. Neste sentido caímos novamente na questão da colaboração da população, que precisa ter a consciência ética e moral de não contribuir com estes crimes. Já pensou em quanto sangue não é derramado por trás de um pequeno cigarro de maconha? A sociedade precisa ter essa reflexão cidadã.

FM – Em que o senhor vê a solução para que tenhamos uma sociedade melhor?

Belucci – Temos nos empenhado no trabalho do Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência, o Proerd, em que os policiais vão às escolas e aplicam aulas, ao longo de dez semanas, sobre os riscos das drogas. Em 2011 foram quatro mil participantes. Acho que toda melhoria à sociedade está no exercício da cidadania, no resgate dos valores familiares e morais e na educação. A polícia, na verdade, é complementar a estes fatores.

Fonte: Folha Metropolitana

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