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Com quase 800 espécies, Madeira é rio com mais peixes no mundo

14 de abril de 2011
3 min. de leitura
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Depois de vasculhar 1.700 quilômetros do Madeira e de seus afluentes durante dois anos, um grupo de pesquisadores bateu o martelo. Trata-se do rio com o maior número de espécies de peixes do mundo: cerca de 800.

Dessas, umas 40 equivalem a espécies ainda desconhecidas da ciência, disse à Folha a pesquisadora Carolina Dória, coordenadora do Laboratório de Ictiologia e Pesca da Unir (Universidade Federal de Rondônia).

Dória e seus colegas estão realizando o levantamento há dois anos, como parte das contrapartidas ambientais para a construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, nos arredores de Porto Velho (o rio Madeira corta a capital de Rondônia).

O gigantismo da obra tocada pela empresa Santo Antônio Energia permitiu um financiamento invejável para o estudo: R$ 6 milhões, usados para bancar uma equipe de quase 70 pessoas.

Lambaris e bagres

Com o novo inventário, a quantidade de espécies registradas para o Madeira e seus tributários dobrou. Quase todas as espécies novas ainda precisam passar pelo processo formal de descrição e “batismo” com nomes científicos em latim.

Predominam as diversas formas de lambaris, piabas e cascudos. Mas há também grandes e vistosas arraias, peixes ornamentais, como os acarás, e esquisitos peixes elétricos das profundezas.

Para obter amostras dos vários tipos de ambiente fluvial, a equipe empregou puçás (peneiras para capturar peixes pequenos), redes de arrasto e as chamadas “trawl nets”, redes que varrem a parte mais funda do rio.

Além de realizar o mapeamento de espécies, os pesquisadores também identificaram os locais de desova dos principais peixes de interesse comercial da região, como a dourada e o filhote, o que deve ajudar em ações de conservação do Madeira.

Para Paulo Buckup, ictiólogo do Museu Nacional da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) que não esteve envolvido com a pesquisa, o número de 800 espécies “parece razoável”, mas os dados deveriam ser comparados a outros lugares, como o rio Solimões, na fronteira do Brasil com o Peru.

Outros fortes candidatos a campeões mundiais de diversidade de peixes são o Xingu, o Tapajós e o Tocantins, diz Buckup – todos contam em torno de 500 espécies, pelo menos. A posição desses rios no pódio também depende da intensidade e da amplitude da amostragem neles.

Como esforços tão intensos quanto o da equipe da Unir no Madeira ainda não foram feitos para outros rios amazônicos, a posição de campeão pode mudar.

Corredeiras

Segundo os autores do levantamento, uma das surpresas foi a baixa quantidade de espécies endêmicas (ou seja, exclusivas de um determinado lugar) nos chamados pedrais do Madeira.

São áreas de corredeiras, onde é comum haver muitos tipos únicos de peixes, adaptados à forte correnteza e ao fundo de pedras (para isso, dispõem de artifícios como órgãos adesivos, corpo achatado e nadadeiras especiais).

Como essas áreas são destruídas pela barragem das hidrelétricas, a perda das espécies endêmicas é uma das principais críticas à construção das usinas no Madeira e do possível empreendimento de Belo Monte, no Xingu.

Willian Ohara, colega de Dória, argumenta que o baixo endemismo no Madeira teria, em parte, a ver com o fato de que as cachoeiras ali não são grandes o suficiente para isolar populações de peixes, impedindo que elas se separassem e acabassem formando novas espécies.

Além disso, diz Ohara, a diversidade de peixes dos pedrais é favorecida em rios de águas claras, onde a luz penetra o suficiente para o crescimento de plantas aquáticas que servem de alimento. Esse não seria o caso do Madeira.

Buckup se diz cético quanto a isso. Para ele, é muito difícil coletar bem as espécies dos pedrais, em especial as que ficam coladas às rochas, o que causaria a falsa impressão de baixa diversidade.

Fonte: Olhar Direto

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