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PROBLEMA RECORRENTE

Com pouca chuva, Parque Nacional do Pantanal tem incêndios desde o ano passado

Incêndios iniciados por raios, ainda no período de chuvas, se mantiveram brandos até a chegada da seca nos últimos meses; unidade de conservação já teve ao menos 12 mil campos de futebol queimados este ano

15 de julho de 2024
Marco Britto
7 min. de leitura
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Brigadistas fazem barreiras para conter o avanço do fogo no Parque Nacional do Pantanal. — Foto: Washington Mota/ICMBio

Em meio aos incêndios no Pantanal este ano, o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense teve entre 12 e 15 mil hectares queimados até agora, a maior área em unidades de conservação sob administração federal. Por enquanto é uma situação considerada moderada comparada a outras temporadas, como em 2023, quando pouco mais da metade dos 135 mil hectares do parque foram queimados.

Felizmente, não há observações registradas de animais feridos. O parque é lar de onças-pintadas, ariranhas, antas, sucuris e muitos outros exemplares da fauna brasileira. Outra reserva importante da região de Poconé (MT), o Parque Estadual Encontro das Águas, se mantém longe do fogo, sem registro de focos, informou o Corpo de Bombeiros do estado na quinta-feira (11).

O bioma enfrenta a pior seca em 70 anos, e a temporada crítica para incêndios, quando baixam os níveis dos rios da região, está apenas começando. O auge costuma ser o mês de setembro, segundo monitoramentos de anos anteriores. Apesar do anúncio do governo do Mato Grosso do Sul sobre o controle dos incêndios no estado, o momento é considerado cedo demais para comemorações.

“O satélite não está captando, mas tem fogo. Com o frio há uma semana na região, diminuiu a intensidade”, afirma o chefe do parque, Nuno Rodrigues, analista ambiental do ICMBio que atua na região há 20 anos. O monitoramento espacial da região, assim como de incêndios em todos os biomas do país, é feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

No último fim de semana, três quilômetros de trincheiras foram cavadas em pouco mais de 24 horas na porção nordeste do parque, local acessível apenas por helicóptero. Eliminar parte da vegetação com aceiros, nome dado às valas, forma uma barreira contra a dissipação das chamas, que nessa região viajam por baixo da terra, o chamado “fogo subterrâneo”.

“Esse ano, até agora não temos um combate intenso com fumaça, é mais incêndio de turfa, fogo subterrâneo e menos intenso, apesar de ter fumaça também”, explica Nuno.

Incêndios desde o ano passado

O incêndio que hoje se espalha por milhares de hectares no parque mudou de forma desde o ano passado, conta o chefe da unidade de conservação. Na época de chuvas, nos meses de outubro e novembro, o fogo causado por raios começou, e ao contrário de outras temporadas de cheia, desta vez a chuva não foi suficiente para apagar o incêndio ou alagar a região onde ele se encontrava.

Entre 2023 e 2024, o Pantanal praticamente não teve cheia, aponta estudo com imagens de satélite feito pelo WWF-Brasil. O tempo quente e seco, intensificado por dois anos de fenômeno climático El Niño, fez com que a seca deste ano se adiantasse, e o fogo está encontrando áreas onde haveria rios, mas hoje estão apenas detritos no fundo dos cursos secos.

“Esse incêndio estava sem combate, pois no parque era uma pequena ilha de material aceso que ficou durante o período da chuva, que tivemos pouca, e também pouco alagamento, o que manteve a turfa acesa. Quando a seca deu combustível ao fogo para se espalhar, começou a queimar por dentro dos corixos secos [valas deixadas pelos rios do Pantanal]. Os cursos de água com material orgânico acumulado no leito foi por onde o fogo se propagou, e permanece ativo até hoje. A partir do final do mês passado, passamos a fazer combate com equipes e aeronaves, e temos uma diminuição significativa da quantidade de focos ativos no parque. Estamos atuando em três focos, a situação hoje é muito melhor do que era no início de junho”, afirma Rodrigues.

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