A elefanta africana Pupy faleceu hoje, dia 11 de outubro de 2025, no Santuário de Elefantes Brasil (SEB), na Chapada dos Guimarães (MT), após sofrer com desconforto gastrointestinal nos últimos dias. Ela havia sido transferida para o santuário em abril de 2025, após viver mais de 30 anos em cativeiro no antigo zoológico de Buenos Aires, na Argentina.
Pupy nasceu no Parque Nacional Kruger, na África do Sul, e foi levada ainda jovem para a Argentina em 1993, onde passou décadas em confinamento. Sua chegada ao Brasil marcou um momento importante: ela foi a primeira elefanta africana a viver no SEB, abrindo caminho para que outros animais da mesma espécie pudessem ser acolhidos.
Apesar de apresentar problemas de saúde pré-existentes, Pupy vinha se adaptando à nova realidade de vida em liberdade, com acesso à natureza e aos cuidados individualizados oferecidos pelo santuário.
Nos seus últimos dias, foi possível testemunhar um vínculo comovente entre ela e Kenya, outra elefanta africana residente do SEB. Kenya demonstrou comportamento protetor e sensível diante do estado de saúde de Pupy, evidenciando a profunda conexão emocional que pode existir entre esses animais.
O falecimento de Pupy representa a despedida e também os impactos ruins do cativeiro de longo prazo e a urgência de mais espaços de acolhimento e respeito para animais resgatados. No santuário, Pupy teve a oportunidade de sentir a terra sob os pés, o vento na pele e o cuidado compassivo de quem acredita na vida digna para todos os seres.
Veja a nota do SEB nas redes sociais:
“À nossa família do santuário, é com o coração pesado que compartilhamos que Pupy faleceu na noite passada, poucos instantes após colapsar.
Nos últimos dias, estava com desconforto gastrointestinal. Pupy tinha histórico de cólicas. Mesmo nos dias mais seletivos, continuava se alimentando, e havíamos encontrado medicamentos que a deixavam confortável. Ontem seu apetite voltou a diminuir. No início da tarde, ao evacuar, expeliu cerca de 1,5 kg de pedras escuras. Depois disso, ficou mais fraca e com comportamento diferente.
Enquanto Scott levava água, suas patas cederam e ela caiu. Kenya demonstrou preocupação, mas permitiu ser deslocada. A Dra. Trish iniciou o atendimento, mas Pupy faleceu em poucos instantes. O portão foi reaberto para que Kenya se aproximasse. Hesitou, mas logo se acomodou ao seu lado e passou a noite ali.
Essa é uma das partes mais difíceis da vida em um santuário. Recebemos elefantes idosos que viveram décadas sem alimentação adequada ou cuidados médicos. Esperamos que o santuário possa curar parte dessas feridas. Mas os efeitos do cativeiro são profundos — e, às vezes, irreversíveis. Quando Scott conheceu Pupy em Buenos Aires e soube que tinha pouco mais de 20 anos, ficou chocado: parecia ter o dobro da idade. Seu corpo carregava o peso de anos de privação. Scott notou tremores na tromba e no olho.
Hoje, uma equipe de patologia realizará a necropsia, que poderá oferecer mais respostas. O resultado pode levar até três meses.
A foto mostra o instante em que Pupy deixou seus medos de lado e permitiu que Kenya ficasse sobre ela para protegê-la. Foi um gesto de vulnerabilidade e confiança profunda. Kenya ganhou o papel de irmã mais velha — e Pupy finalmente conheceu uma elefanta que a colocava em primeiro lugar, que a amava e protegeria incondicionalmente.
Mesmo que o tempo aqui tenha sido breve, Pupy partiu cercada de amor, liberdade e cuidado. Agradecemos a todos que tornaram possível que Pupy e Kenya chegassem ao santuário — e que viveram conosco a alegria dessa amizade. Nos próximos dias, compartilharemos como Kenya está se adaptando. Esta manhã, ela emitiu um longo ronco ao ver os tratadores. Nossa equipe seguirá cuidando dela.”
NOTA DA ANDA:
A ANDA lamenta profundamente a partida da elefanta Pupy, um símbolo de resistência e ternura, que após mais de 30 anos de sofrimento em cativeiro finalmente pôde sentir o sabor da liberdade, a felicidade de ser uma elefanta. Seus últimos meses no Santuário de Elefantes Brasil (SEB) foram marcados por amor, natureza e cuidado, um breve, mas imenso reencontro com o que lhe foi negado por tanto tempo.
Agradecemos ao SEB por ter oferecido a Pupy um final feliz e digno, rodeado de respeito e amor, e por revelar ao mundo, com sensibilidade, a força da empatia entre espécies. O vínculo com Kenya, sua companheira de jornada, prova mais umavez que os elefantes sentem, sofrem e amam intensamente e que a liberdade é, para eles, tão vital quanto o ar que respiram.
Que a história de Pupy siga como um chamado à consciência e à responsabilidade humana, inspirando mais ações, santuários e corações dispostos a reparar, com amor e justiça, as feridas causadas pelo cativeiro.
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