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INCÊNDIO FLORESTAL

Com calor, seca e ventos fortes, fogo em Los Angeles retrata mudanças climáticas

Aquecimento do planeta vem aumentando condições que potencializam incêndios florestais ao redor do planeta, inclusive no Brasil, como ocorreu em 2024. Esta é a primeira vez na história que há um decreto de estado “extremamente crítico” nos EUA durante o mês de janeiro

9 de janeiro de 2025
Marco Britto
7 min. de leitura
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Um bombeiro passa por uma casa em chamas devido ao incêndio de Palisades durante uma forte tempestade de vento em 8 de janeiro de 2025 no bairro de Pacific Palisades, em Los Angeles, Califórnia. — Foto: Getty Images

Condições típicas das mudanças climáticas, de calor, seca e ventos fortes, estão por trás dos incêndios que estão arrasando partes de Los Angeles (EUA) do dia para a noite, conforme mostra a imprensa dos Estados Unidos.

A combinação de fatores se assemelha ao que foi vivido pela Amazônia e pelo Pantanal em 2024 no Brasil, quando houve recordes de área queimada e número de incêndios, impulsionados pelo maior risco de fogo (que mede a chance de propagação dos incêndios) já registrado no país, de acordo com o Lasa/UFRJ (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

No sul da Califórnia, o National Weather Service, serviço federal de meteorologia, definiu as condições de incêndio como estado “extremamente crítico”. É a primeira vez na história que há um decreto do tipo em qualquer lugar dos Estados Unidos durante o mês de janeiro, afirma a revista Fast Company. O indicador define a situação de ventos acima de 48 km/h e umidade relativa menor que 10% na presença de condições de seca e temperaturas acima de 21°C.

Imagens da agência Reuters mostram ventos fortíssimos soprando chamas na região de Palisades, em Los Angeles, onde em 24 horas ruas inteiras de casas foram carbonizadas e pessoas foram evacuadas em massa, às vezes tendo que abandonar carros na estrada para fugir dos incêndios.

Já são 30 mil pessoas fora de casa, e o equivalente a 1.200 campos de futebol queimados apenas na região, sendo que há mais dois grandes focos em Los Angeles, além de inúmeros incêndios menores, relata a imprensa norte-americana. Até a tarde desta quarta-feira (08), os incêndios causaram a morte de duas pessoas e a destruição de mil estruturas, segundo o chefe dos bombeiros local.

“As estradas ficaram congestionadas com pessoas fugindo do fogo, algumas abandonando seus carros enquanto as chamas lambiam as bordas da estrada, e nuvens de fumaça e chamas subiam no céu noturno sobre Los Angeles e seus subúrbios”, afirma a Reuters sobre a noite de terça-feira (07/01).

Incêndio atingiu 400 hectares em horas

A vegetação seca e os ventos fortes estão espalhando o fogo de forma praticamente incontrolável. Um segundo incêndio, nomeado Eaton, começou cerca de 50 km para o interior, em Altadena, perto da cidade de Pasadena, e chegou a 400 hectares em poucas horas, de acordo com o Cal Fire, corpo de bombeiros local.

Os bombeiros informaram que um terceiro incêndio começou no Vale de São Fernando, ao noroeste de Los Angeles. Nesse foco, as chamas tomaram uma área de cerca de 200 hectares, segundo o Cal Fire.

Até a tarde desta quarta, uma área de pelo menos 1.200 hectares (cerca de 1.200 campos de futebol) foi consumida pelas chamas em Pacific Palisades.

“A tempestade de vento desta semana tem o potencial de ser particularmente ampla e duradoura. Os notórios ventos de Santa Ana podem atingir rajadas de até 160 km/h em partes do sopé das colinas ao redor de Los Angeles. Isso a tornaria a tempestade de vento mais forte e potencialmente mais destrutiva do sul da Califórnia desde novembro de 2011”, destacou o jornalista Eric Holthaus, especializado em meteorologia e clima, no portal da Fast Company.

“No pior cenário, dezenas de incêndios florestais podem surgir simultaneamente e rapidamente sair do controle — tomando conta de bairros e cortando rotas de evacuação muito mais rapidamente do que os bombeiros conseguem reagir para retardá-los.”

Assim como ocorreu na temporada de incêndios brasileira, o sul da Califórnia queima após um período de seca prolongado, que já dura nove meses. O mesmo ocorreu na Amazônia e no Pantanal, que registraram vastas áreas atingidas pelo fogo devido à união de condições secas de vegetação e ventos fortes. Na ausência de chuva e raios, o fogo por ação humana é a hipótese mais provável para a origem dos incêndios, segundo especialistas.

“À medida que os invernos esquentam e a Califórnia seca, tempestades de vento extremas se sobrepõem a condições de seca com mais frequência. A maioria dos maiores, mais mortais e mais destrutivos incêndios florestais da história do estado ocorreram nos últimos 10 anos”, afirma Holthaus, destacando o cenário de mudança climática.

Além da seca e fogo, EUA enfrentam frio e nevascas

Uma tempestade de neve e gelo nos Estados Unidos (EUA), batizada como Blair, causou muitos estragos e recordes de acúmulo de neve em aeroportos do meio-oeste do país durante o fim de semana, além de causar inúmeros acidentes e ocorrências de trânsito, segundo reportou a mídia norte-americana. Cerca de 60 milhões de pessoas em mais de uma dúzia de estados, do Kansas a Nova Jersey, estão sob alertas e recomendações sobre o clima severo, informou a agência Reuters.

A onda fria foi causada pelo Vórtice Polar, uma corrente de ventos que circula sobre o Polo Norte, e que no momento se deslocou mais ao sul do que o habitual, alcançando o território de países como Canadá e EUA, mas também a Rússia, sendo que na Sibéria os termômetros chegaram a -55°C neste inverno do Hemisfério norte, segundo o jornal britânico The Guardian.

Nesta segunda-feira (06/01), estados norte-americanos próximos ao Oceano Atlântico, como Delaware e West Virginia, já experimentaram transtornos para deslocamentos, causados pela neve. O Weather Prediction Center previa grandes impactos, incluindo condições perigosas ou impossíveis de dirigir, em partes de West Virginia, Maryland, Virginia, Washington e Delaware.

No estado do Missouri, na região meio-oeste, cerca de 150 ocorrências de acidentes de trânsito relacionadas à neve foram registradas, segundo a polícia rodoviária local.

Fonte: Um Só Planeta

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