O mundo perdeu, em 2023, quase 6,4 milhões de hectares de florestas, de acordo com relatório do Climate Focus. Com essa devastação, o ano foi marcado por um aumento na taxa de desmatamento, a despeito de inúmeros esforços para conter o problema em nível global.
Há três anos, cúpula climática da ONU, a COP26, em 2021, 140 países se comprometeram formalmente a acabar com o corte de florestas até o final da década.
De acordo com reportagem do jornal The Guardian, o que a avaliação divulgada agora mostra é que, em 2023, o nível de desmatamento ficou quase 50% mais alto do que o progresso em direção à meta de zero devastação até 2030.
A maior parte da derrubada de árvores – 62,6 milhões de hectares – no ano passado se deve à construção de estradas, exploração madeireira e incêndios florestais. Foram registrados picos de desmatamento na Indonésia e na Bolívia, impulsionados por mudanças políticas e pela contínua demanda por commodities, como carne, soja, óleo de palma, papel e níquel em países ricos.
Outro exemplo é da Indonésia, onde o desmatamento aumentou 57% em um ano. A explicação, segundo consta no documento, vem principalmente da demanda global crescente por produtos como papel, e metais, como níquel.
Porém, o governo também pode ter ‘culpa’ ao afrouxar regras e fiscalização, uma vez que o país já foi grande referência, com a maior diminuição de desmatamento entre países tropicais entre 2015-2017 e 2020-2022. Em 2023, a Indonésia produziu metade do níquel do mundo, um metal usado em muitas tecnologias verdes.
Para os pesquisadores, fica claro que as tentativas de cortes voluntários no desmatamento não estão funcionando, e que são necessárias regras mais rígidas e mais recursos financeiros para a proteção das florestas.
“A realidade é que, globalmente, o desmatamento piorou, não melhorou, desde o início da década”, disse em reportagem do The Guardian Ivan Palmegiani, consultor do grupo de pesquisa Climate Focus e autor principal do relatório. “Corrigir o curso é possível se todos os países fizerem disso uma prioridade, especialmente se os países industrializados reconsiderarem seriamente seus níveis de consumo excessivo e apoiarem os países florestais.”
Brasil é exemplo positivo. Com ressalvas
Ao citar o Brasil no relatório, a organização destaca, porém, a atuação antidesmatamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu diminuir em 62% a devastação da Amazônia brasileira em seu primeiro ano de mandato. Mas há deslizes graves em outras áreas.
“O Brasil nos dá um exemplo de progresso positivo [na Amazônia], mas o desmatamento no Cerrado aumentou 68% ano após ano”, afirmou Erin D Matson, consultora sênior da Climate Focus e coautora do relatório. Ela reitera que o país também tem sido devastado por incêndios florestais, que estão se tornando mais prováveis e intensos devido à crise climática. O relatório revelou que cerca de 45 milhões de hectares queimaram nos últimos cinco anos.
Para Matson, o grande problema é a instabilidade do comprometimento dos governos com a causa. “Quando as condições certas estão em vigor, os países veem grandes progressos. No ano seguinte, se as condições econômicas ou políticas mudarem, a perda de florestas pode retornar com força. Estamos vendo esse efeito no aumento do desmatamento na Indonésia e na Bolívia”, exemplifica. A única forma de atender às metas globais de proteção das florestas, é que esta seja uma política “imune aos caprichos políticos e economistas”.
Outros países que avançaram em direção à meta de desmatamento de 2030 incluem Austrália, Colômbia, Paraguai, Venezuela e Vietnã. Fora dos trópicos, as florestas temperadas na América do Norte e na América Latina registraram os maiores níveis absolutos de desmatamento.
Os pesquisadores afirmaram que são necessários investimentos em proteção florestal, fortalecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas e redução da demanda por commodities produzidas por meio do desmatamento.
A UE propôs regulações ambiciosas que proibem a venda de produtos vinculados ao desmatamento, como café, chocolate, couro e móveis. No entanto, em 3 de outubro, a Comissão Europeia propôs um atraso de um ano “para implementar o sistema” após protestos de países como Austrália, Brasil, Indonésia e Costa do Marfim.
“Essa resistência é em grande parte impulsionada por pressões políticas, e é uma pena. Não podemos confiar em esforços voluntários – eles fizeram muito pouco progresso na última década”, diz Matson.
Fonte: Um Só Planeta