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RELATÓRIO

Com aumento do desmatamento, mundo perde 6,4 milhões de hectares de florestas em 2023

Apesar de 140 países terem assumido compromisso de evitar desmatamento, demanda por carne bovina, soja, óleo de palma e níquel é apontada como obstáculo

11 de outubro de 2024
Redação Um Só Planeta
5 min. de leitura
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Vista aérea do desmatamento do Cerrado nativo em São Desidério, oeste da Bahia, Brasil, em 25 de setembro de 2023. — Foto: Getty Images

O mundo perdeu, em 2023, quase 6,4 milhões de hectares de florestas, de acordo com relatório do Climate Focus. Com essa devastação, o ano foi marcado por um aumento na taxa de desmatamento, a despeito de inúmeros esforços para conter o problema em nível global.

Há três anos, cúpula climática da ONU, a COP26, em 2021, 140 países se comprometeram formalmente a acabar com o corte de florestas até o final da década.

De acordo com reportagem do jornal The Guardian, o que a avaliação divulgada agora mostra é que, em 2023, o nível de desmatamento ficou quase 50% mais alto do que o progresso em direção à meta de zero devastação até 2030.

A maior parte da derrubada de árvores – 62,6 milhões de hectares – no ano passado se deve à construção de estradas, exploração madeireira e incêndios florestais. Foram registrados picos de desmatamento na Indonésia e na Bolívia, impulsionados por mudanças políticas e pela contínua demanda por commodities, como carne, soja, óleo de palma, papel e níquel em países ricos.

Outro exemplo é da Indonésia, onde o desmatamento aumentou 57% em um ano. A explicação, segundo consta no documento, vem principalmente da demanda global crescente por produtos como papel, e metais, como níquel.

Porém, o governo também pode ter ‘culpa’ ao afrouxar regras e fiscalização, uma vez que o país já foi grande referência, com a maior diminuição de desmatamento entre países tropicais entre 2015-2017 e 2020-2022. Em 2023, a Indonésia produziu metade do níquel do mundo, um metal usado em muitas tecnologias verdes.

Para os pesquisadores, fica claro que as tentativas de cortes voluntários no desmatamento não estão funcionando, e que são necessárias regras mais rígidas e mais recursos financeiros para a proteção das florestas.

“A realidade é que, globalmente, o desmatamento piorou, não melhorou, desde o início da década”, disse em reportagem do The Guardian Ivan Palmegiani, consultor do grupo de pesquisa Climate Focus e autor principal do relatório. “Corrigir o curso é possível se todos os países fizerem disso uma prioridade, especialmente se os países industrializados reconsiderarem seriamente seus níveis de consumo excessivo e apoiarem os países florestais.”

Brasil é exemplo positivo. Com ressalvas

 

Ao citar o Brasil no relatório, a organização destaca, porém, a atuação antidesmatamento do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu diminuir em 62% a devastação da Amazônia brasileira em seu primeiro ano de mandato. Mas há deslizes graves em outras áreas.

“O Brasil nos dá um exemplo de progresso positivo [na Amazônia], mas o desmatamento no Cerrado aumentou 68% ano após ano”, afirmou Erin D Matson, consultora sênior da Climate Focus e coautora do relatório. Ela reitera que o país também tem sido devastado por incêndios florestais, que estão se tornando mais prováveis e intensos devido à crise climática. O relatório revelou que cerca de 45 milhões de hectares queimaram nos últimos cinco anos.

Para Matson, o grande problema é a instabilidade do comprometimento dos governos com a causa. “Quando as condições certas estão em vigor, os países veem grandes progressos. No ano seguinte, se as condições econômicas ou políticas mudarem, a perda de florestas pode retornar com força. Estamos vendo esse efeito no aumento do desmatamento na Indonésia e na Bolívia”, exemplifica. A única forma de atender às metas globais de proteção das florestas, é que esta seja uma política “imune aos caprichos políticos e economistas”.

Outros países que avançaram em direção à meta de desmatamento de 2030 incluem Austrália, Colômbia, Paraguai, Venezuela e Vietnã. Fora dos trópicos, as florestas temperadas na América do Norte e na América Latina registraram os maiores níveis absolutos de desmatamento.

Os pesquisadores afirmaram que são necessários investimentos em proteção florestal, fortalecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas e redução da demanda por commodities produzidas por meio do desmatamento.

A UE propôs regulações ambiciosas que proibem a venda de produtos vinculados ao desmatamento, como café, chocolate, couro e móveis. No entanto, em 3 de outubro, a Comissão Europeia propôs um atraso de um ano “para implementar o sistema” após protestos de países como Austrália, Brasil, Indonésia e Costa do Marfim.

“Essa resistência é em grande parte impulsionada por pressões políticas, e é uma pena. Não podemos confiar em esforços voluntários – eles fizeram muito pouco progresso na última década”, diz Matson.

Fonte: Um Só Planeta

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