EnglishEspañolPortuguês

META

Com alta no desmatamento e fraca política ambiental, Brasil fica para trás em ranking global de sustentabilidade

Pontuações baixas no índice indicam a necessidade de maior atenção a todo o espectro de requisitos que levam à promoção da sustentabilidade, dando alta prioridade a questões críticas como a qualidade do ar e da água

28 de junho de 2022
Guilherme Justino
6 min. de leitura
A-
A+
Imagem aérea mostra área desmatada neste ano em Lábrea, no Amazonas. — Foto: Christian Braga/Greenpeace

Os países que fazem esforços conjuntos para descarbonizar sua economia, investir em energias renováveis e promover a proteção ambiental obtiveram os maiores ganhos no combate às mudanças climáticas, com benefícios associados para os ecossistemas e a saúde humana. Já aqueles que estão ficando para trás diante dessa ameaça global devem redobrar os esforços nacionais de sustentabilidade em todas as frentes. Apesar da rica biodiversidade e potência do ambiente natural, o Brasil encontra-se no grupo daqueles que precisam fazer muito mais pela natureza.

Várias grandes democracias aparecem perto da parte inferior do ranking do Environmental Performance Index (EPI) 2022, Índice de Desempenho Ambiental produzido por pesquisadores das Universidades de Yale e Columbia, ambas nos Estados Unidos. A lista, que é liderada pela Dinamarca, com Reino Unido e Finlândia na sequência, traz o Brasil em 81º e a Índia na última posição entre os 180 países avaliados.

Pontuações baixas no índice indicam a necessidade de maior atenção a todo o espectro de requisitos que levam à promoção da sustentabilidade, dando alta prioridade a questões críticas como a qualidade do ar e da água, proteção à biodiversidade e combate efetivo às mudanças climáticas. Usando a trajetória de emissões dos últimos 10 anos como base para projetar as emissões de 2050, os cientistas responsáveis pelo EPI 2022 preveem que a grande maioria dos países não atingirá o objetivo firmado ao final da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) – e uma série de nações, incluindo o Brasil, devem ficar muito abaixo da meta.

“Os principais países têm muito mais trabalho a fazer do que imaginam se o mundo quiser evitar os impactos potencialmente devastadores das mudanças climáticas”, comentou Dan Esty, diretor do Yale Center for Environmental Law & Policy, que produz o EPI bienalmente desde 2006.

Assim como a presidência de Donald Trump (2017-2021), nos Estados Unidos, foi relacionada ao aumento de problemas ambientais naquele país, os resultados ruins do Brasil – 81º lugar no mundo, e 19º na região da América Latina e Caribe, atrás de países como México e Trindade e Tobago – são atribuídos por analistas, em grande parte, ao mandato do governo de Jair Bolsonaro. Nos últimos três anos, especialistas destacam que houve um aumento de 52,9% no desmatamento na Floresta Amazônica, em comparação com os três anos anteriores.

Para o diretor de projeto do Environmental Performance Index, Martin Wolf, indicadores como esse podem ajudar países como o Brasil ao fornecer uma maneira de identificar problemas, definir metas, acompanhar tendências, entender os resultados e identificar as melhores práticas políticas.

“Bons dados e análises baseadas em fatos também podem ajudar os funcionários do governo a refinar suas agendas políticas, facilitar a comunicação com os principais interessados e maximizar o retorno dos investimentos ambientais. O EPI oferece uma poderosa ferramenta política de apoio aos esforços para atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e levar a sociedade a um futuro sustentável”, garante.

O desmatamento não é uma ameaça restrita ao país. Os especialistas destacam que o Brasil aumentou suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), vilões do aquecimento do Planeta, em 10% devido aos incêndios. De acordo com análise da Carbon Brief, o Brasil é o 5º maior emissor do mundo atualmente. “As florestas são vitais na luta contra a crise climática. Perder esses ecossistemas vitais significa mais carbono na atmosfera e menos recursos para capturar o que está sendo emitido”, alerta o relatório.

Países que melhor estão cumprindo suas metas de política ambiental — Foto: Thiago de Jesus / Arte

Além da derrocada brasileira na proteção ambiental nos últimos anos, os analistas reforçam também que perturbações econômicas e sociais decorrentes da pandemia aumentaram o desafio de atender às demandas por sustentabilidade de maneira prioritária. “Os formuladores de políticas agora têm a chance de reconstruir suas economias e sociedades em uma base mais sustentável”, ressalta o relatório, que alerta para o recrudescimento dos efeitos colaterais danosos do business as usual com a retomada das atividades produtivas.

Conforme o Environmental Performance Index (EPI) 2022, a poluição do ar já voltou aos níveis pré-pandemia em quase todos os lugares, assim como as emissões de gases de efeito estufa de muitos países. A covid-19 também afastou o mundo de uma economia circular, aponta o índice, gerando milhões de toneladas de resíduos plásticos à medida em que os sistemas de saúde e as pessoas passaram a usar mais máscaras faciais, recipientes plásticos para alimentos e equipamentos de proteção individual.

EUA também ficam para trás

Outra grande democracia que deixou a desejar nos esforços para promover uma realidade mais sustentável, os Estados Unidos estão em 20º lugar entre os 22 países ricos no chamado Ocidente Global, e em 43º no cenário mundial. Essa classificação, considerada baixa frente a bons exemplos de seus pares, reflete a reversão das proteções ambientais durante o governo Trump, de acordo com o índice.

Em particular, a retirada do Acordo de Paris durante a gestão do republicano e o enfraquecimento das regras de emissões de metano significaram que os Estados Unidos perderam um tempo precioso para mitigar as mudanças climáticas, enquanto muitos países no mundo desenvolvido promulgaram políticas para reduzir significativamente suas emissões de gases de efeito estufa.

Embora os dados indiquem que os EUA avançaram na melhoria da qualidade do ar e das áreas marinhas protegidas, o ranking o coloca atrás da França (12º), Alemanha (13º), Austrália (17º), Itália (23º)e Japão (25º). Entre 2016 e 2020, o governo norte-americano revogou ou enfraqueceu quase 100 regulamentos ambientais, revertendo o progresso que havia feito na mitigação do aquecimento global, qualidade do ar e conservação do habitat.

As pontuações mais baixas, apontam os analistas, em geral vão para países que estão lutando com distúrbios civis e outras crises (como Mianmar ou Haiti), ou nações que priorizaram o crescimento econômico em detrimento da sustentabilidade, como Índia, Vietnã, Bangladesh e Paquistão. A Índia, com uma qualidade do ar marcadamente ruim e emissões de GEE em rápido crescimento, aparece em última lugar. A má qualidade do ar e as crescentes emissões continuam a impactar o ranking também da China, colocando o país em 160º entre 180 países.

Por dentro do índice

O Environmental Performance Index (EPI), Índice de Desempenho Ambiental produzido por pesquisadores das Universidades de Yale e Columbia, consiste em uma tabela de desempenho de sustentabilidade que avalia a aplicação prática de orientações para a formulação de políticas mais verdes condizentes com os desafios socioambientais que o mundo enfrenta. Usando 40 indicadores de desempenho, o EPI classifica 180 países em seus esforços nacionais para proteger a saúde ambiental, aumentar a vitalidade dos ecossistemas e mitigar as mudanças climáticas.

Esses indicadores medem o quão perto os países estão de cumprir as metas de sustentabilidade estabelecidas internacionalmente. Embora as pontuações gerais do índice forneçam uma maneira de destacar os líderes em proteção ambiental e identificar aqueles que estão ficando para trás, o EPI também oferece uma ferramenta para identificar não apenas fraquezas políticas, mas também exemplos de eficácia comprovada que países podem adotar para melhorar seu desempenho.

Fonte: Um só planeta

Você viu?

Ir para o topo