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FORÇA NATURAL

Com alimentação vegana, fisiculturista ganha seis títulos em campeonato: "Consegui"

2 de janeiro de 2024
5 min. de leitura
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Foto: Marcel Mucci

Treinos pesados com mais de duas horas de duração todos os dias, alimentação regrada, acompanhamento profissional e constante preparação. Esses são alguns dos pré-requisitos para alguém que busca participar de um campeonato de fisiculturismo.

E foi por esse processo que a personal trainer Vitória Salmazo, de 27 anos, natural de Sorocaba, no interior de São Paulo, passou para realizar um sonho que, na verdade, até três meses atrás ela nem sabia que queria e era capaz.

Para ela, além de toda disciplina, a preparação teve ainda mais um desafio: ela queria chegar ao palco do campeonato da Liga de Fisiculturismo de Atletas Naturais (LIFAN) e conquistar o título tendo uma alimentação vegana.

Dia a dia até o campeonato

Vitória é formada em Educação Física e atua como personal trainer no interior paulista. Apesar de estar sempre envolvida com diversos tipos de esportes, o fisiculturismo nunca foi uma prioridade, muito menos uma opção.

“Na faculdade conheci um pouco do fisiculturismo e comecei a acompanhar, mas não tinha planos. Em setembro desse ano, fui fazer um curso de atualização da formação e o professor do curso me disse que eu estava forte e perguntou se eu queria fazer parte do fisiculturismo. Falou que em dezembro teria o campeonato de fisiculturismo natural aqui em Sorocaba, que não pode o uso hormônio. Naquele momento disse que não sabia, minha rotina estava uma loucura, achava que não iria conseguir”, explicou.

Mal sabia ela que o “empurrãozinho” necessário para aceitar o desafio estava dentro de casa.

“Meu namorado, que achei que não ia dar muita importância, quando cheguei e contei, disse para eu me inscrever naquela hora. Ele falou “você só trabalha, não faz algo para você, eu te ajudo e vamos juntos”.

Depois de fazer a inscrição, a atleta precisou enfrentar a dificuldade de encontrar um profissional capacitado para ajudá-la com a alimentação, em meio às restrições.

“A dificuldade foi achar um nutricionista que queria aceitar essa loucura comigo pela minha restrição alimentar, por não consumir carne, ovo, leite. Alguns falaram que não trabalhavam com público vegano e vegetariano e, até eu achar alguém que topasse, foi difícil. Quando encontrei, ela disse que topava e que ia estudar, para conseguirmos juntas”, explicou.

Vitória se alimenta à base do vegetarianismo há 20 anos. Ela começou ainda bem pequena, quando tinha sete anos e não entendia exatamente qual era o propósito.

“Não tenho um estilo de vida vegana, tenho a alimentação. Eu não como carne, nem ovo, nem peixe, há vinte anos, mas eu ainda como derivado. Não tomo leite, mas como derivado, que é o chocolate. Não tenho memória de comer frango e peixe, carne eu ainda lembro de deixar de comer, ovo eu parei faz seis anos. A única coisa de origem animal que eu como é chocolate, e na preparação não entrava, por isso acabou que a minha preparação foi vegana, só não sou vegana pelo chocolate”, brincou.

“Em casa, todo mundo comia carne, meus pais, meus avós, tios, todo mundo comia. Com sete anos ainda não tinha consciência que era animal, não foi por causa animal. Eu peguei nojo, falei que não conseguia mais e parei e desde então eu nunca mais comi. Depois de uns bons anos, quando eu tinha 22, minha mãe parou de comer carne também por influência minha, e já faz cinco anos que ela não come”.

Já com a nutricionista que topou a orientação, foi o momento de iniciar toda a preparação com a disciplina, até chegar o grande dia.

“Aí começou a preparação, foram três meses de treino todos os dias, alimentação balanceada, fizemos um processo de desidratação de água para a musculatura secar e grudar na pele”.

A conquista dos troféus

O LIFAN acontece em duas categorias principais: a bikini, com meninas mais magras e definidas, e a Wellness, com meninas mais fortes.

Há ainda diversas subcategorias que, inicialmente, Vitória não iria participar, mas contou que mudou de ideia.

“Já paguei a tinta, comprei o biquíni, comprei o salto, vou me inscrever em outra categoria também. Vai que eu consiga uma medalha, já estou aqui mesmo, vou me inscrever nas outras”.

Ao final da prova, veio a surpresa: a fisiculturista não havia ganhado só um prêmio, mas sim cinco. Vitória foi top 1 nas categorias: Bikini Estreantes, Bikini open até 163cm, Bikini overall, Wellness estreantes e Wellness overall.

Além desses, ela ainda conquistou o título de Wellness ex-alunos pela sua faculdade de Educação Física de Sorocaba.

“Foi a minha primeira experiência. Já havia subido em palco por ser bailarina, mas nunca assim. Subimos, fizemos apresentação individual com as poses que valorizam o físico. Depois sobem todas e os juízes mandam fazer poses específicas para comparar uma com a outra”.

Vitória Salmazo contou detalhes de como foi a sensação de conquistar todas essas categorias em sua primeira participação de um campeonato de fisiculturismo.

“Eu fiquei maravilhada com a experiência, foi muito incrível, não imaginava que esse mundo era tão grande e tão detalhista. Na semana da competição tem cuidados com a pele, água, são tantos detalhes que tudo fica mais incrível ainda. Com só três meses de preparação, a sensação de escutar meu nome quando eles chamam a vencedora é ‘meu Deus, se eu conseguir isso, consigo tudo o que quiser’. Mais de 30 aulas na semana, conseguir conciliar tudo, é um ‘ufa, eu consegui’. Falam que não tem como ganhar massa magra sendo vegana, a pessoa sempre vai ser doente, amênica. Não preciso consumir carne, ovo, leite. Claro que dá muito mais trabalho, mas é possível”.

Vitória revelou o que pensa para o futuro no universo do fisiculturismo.

“Quando me inscrevi, me perguntavam e eu falava que queria ter a experiência e sentir como é, para poder preparar uma aluna, se eu tivesse. Mas confesso que gostei muito do esporte e pretendo ano que vem continuar, fazer mais uma competição, de repente não com os naturais, não sei ainda, não tenho um campeonato alvo, mas pretendo fazer pelo menos mais um. Minha rotina é corrida, na musculação eu faço meu própio horário. Eu treinei todos os dias, e tinha dia que o único horário que eu conseguia era 5 da manhã ou 23h e eu ia. Eu consigo adaptar (a musculação) na minha rotina. Exige muita disciplina, mas é muito satisfatório e está dando certo”, concluiu.

Fonte: Globo Esporte

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