Estava para acontecer a qualquer momento. A crise econômica que afetou profundamente a vida Norte-Americana em 2008 atingiu em cheio as famílias que, absurdamente, se converteram ao longo dos anos em colecionadores de animais exóticos, reprodutores e também exibidores dos mesmos.
A tragédia de Ohio – um colecionador de animais, com dívidas beirando a 100 mil dólares, recém-liberado da prisão e abandonado por sua esposa, entrou em crise, libertou uma parte dos animais que mantinha e se suicidou com suas próprias armas de fogo – é um sinal poderoso de que algo anda errado naquela sociedade humana.
Isto gerou um debate intenso na sociedade Norte-Americana para tentar organizar, de uma vez por todas, a posse de animais selvagens pela população e evitar que tragédias como a de Ohio se repitam. O grande drama hoje é que existem poucos lugares para acolher animais de grande porte no país e centenas ou milhares deles estão sob a posse de famílias que não podem mantê-los em suas casas sem nenhuma segurança.
Patty Finch, da Federação Global de Santuários de Animais, resume a dramaticidade desta situação: “Se você está procurando doar um grande felino, eu diria para você que todos os santuários estão lotados e mais que lotados”.
A maioria dos centros de resgate de animais é sustentado com a contribuição do público e da sociedade, que com a crise secou repentinamente. Isto motivou, meses atrás, o dono de um centro de resgate na Flórida a se trancafiar numa jaula durante um mês com dois leões, como uma forma de chamar a atenção da população para que colaborem economicamente com a sua missão. Em San Antonio, no Texas, o Orfanato de Animais Selvagens quebrou devido a super população de animais, carência de recursos e recintos precários, e levou meses para relocar centenas de tigres, ursos, leões, leopardos, lobos e primatas.
Ante esta situação, o Santuário Save the Chimps, da Flórida, anunciou a formação de uma aliança com outros santuários de chimpanzés do país similar a que existe na África, a PASA (www.pasaprimates.org). Na América do Norte esta aliança de santuário será chamada de NAPSA (Aliança de Santuários de Primatas Norte-Americanos).
Um dos objetivos é que a sociedade possa diferenciar um verdadeiro santuário daqueles que são de colecionadores, zoológicos de beira de estrada, reprodutores etc., como o caso de Ohio, que se fez passar por santuário e centro de resgate.
Existem 2.000 chimpanzés vivendo em cativeiro nos Estados Unidos, boa parte aposentada de experiências médicas, outros explorados como animais de estimação ou usados na indústria do entretenimento. A tragédia de Ohio vai provocar a busca por um lar decente, seguro, correto e bem administrado para receber uma parte deles em um prazo curto. Os santuários agora afiliados a NAPSA, não têm condições de absorvê-los. O poder público deve ajudá-los e a população – principalmente ela, que mantém os que existem – também deve fazer a sua parte.
Possivelmente a conseqüência mais imediata da matança dos animais de Ohio está resumida nesta declaração que o Santuário Save the Chimps emitiu, ao anunciar a existência da Aliança NAPSA: “O caso horrível de Ohio ilustra muito bem o por quê animais não-domesticados, tais como grandes felinos, macacos, chimpanzés, ursos, entre outros animais selvagens não são bons animais de estimação. A reprodução e a venda destes extraordinários seres deveriam ser proibidas por lei e ninguém deveria ser autorizado a mantê-los como “pets”. Temos a esperança de que leis e regulamentos mais fortes sejam implementados em Ohio e em qualquer outro local, como resultado desta tragédia, porém é lamentável que felinos, ursos e macacos paguem com suas vidas por esta evidente falha humana”.
Talvez a América do Norte acorde e das cinzas dos animais massacrados pela Polícia surja uma política que proteja seres inocentes como estes de serem aniquilados em nome da vaidade humana.