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CALOR EXTREMO

Com 37ºC, onda de calor no inverno dos Andes liga alerta para mudança climática

Neve começa a derreter e abastecimento de água pode ser afetado na primavera e no verão

7 de agosto de 2023
Redação O Estado de S. Paulo
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

O calor excepcional do inverno nas montanhas andinas da América do Sul chegou a 37°C, o que levou os cientistas locais a alertarem que o pior ainda está por vir. A onda de calor na região central dos Andes chilenos está derretendo a neve abaixo de 3 mil metros, o que terá efeitos colaterais para as pessoas que vivem nos vales a jusante e que dependem da água do degelo durante a primavera e o verão.

A terça-feira, 1º de agosto, foi provavelmente o dia de inverno mais quente no norte do Chile em 72 anos, de acordo com Raul Cordero, cientista climático da Universidade de Groningen. Segundo ele, os 37°C registrados na estação Vicuña Los Pimientos, na região de Coquimbo, foram causados por uma combinação de aquecimento global, El Niño e rajadas de vento do leste, conhecidas pelos habitantes locais como ventos do estilo terral, que trazem clima quente e seco.

Dezenas de estações de monitoramento meteorológico a mais de 1 mil metros de altitude registraram temperaturas acima de 35ºC no inverno, de acordo com o blog Extreme Temperatures Around The World.

Cordero disse que o calor incomum nessa altitude era uma preocupação.

– O principal problema é como as altas temperaturas exacerbam as secas (no leste da Argentina e do Uruguai) e aceleram o derretimento da neve.

A escassez de água já afeta Montevidéu, capital do Uruguai, e outras cidades nos arredores.

“Acho que ainda não vimos todos os efeitos”, diz especialista

A América do Sul sofreu um dos períodos mais quentes de janeiro a julho já registrados.

O Chile está entre os países mais afetados, com registros de incêndios no início do ano e secas prolongadas, como a vivida em agosto. Cordero disse que Santiago passava pela nona onda de calor desde janeiro e que deveria quebrar o recorde anual de 10 ondas de calor, estabelecido em 2020.

Marcos Andrade, diretor de física atmosférica da Universidad Mayor de San Andrés, em La Paz, disse que o platô andino na Bolívia e no Peru também registrou um clima “incomum” desde o início do ano.

– Em Puno, do outro lado do Lago Titicaca, o mês de janeiro foi o mais seco desde o início dos registros, há 59 anos. Em maio, tivemos uma tempestade com 20% da precipitação anual habitual – disse ele. – O inverno também foi excepcionalmente quente. Batemos recordes de temperatura em algumas partes do país.

Ele expressou preocupação com a possibilidade de piora à medida que o hemisfério sul se aproxima do verão.

– O El Niño geralmente atinge seu pico no final do ano. Acho que ainda não vimos todos os efeitos.

Recordes de calor foram quebrados em várias cidades do Brasil, Argentina e Uruguai. Karla Beltrán, consultora ambiental, disse que este ano Buenos Aires também registrou a temperatura mais alta de sua história, 38,6°C, em 11 de março, enquanto a cidade de Mercedes, no Uruguai, atingiu um novo pico de 40,5°C.

Conforme a consultora,  a onda de calor estava dentro do esperado para o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, no qual observou que a parte sul da América do Sul era particularmente vulnerável a episódios de altas temperaturas.

Ondas de calor mais intensas

Estudos demonstraram que o norte da América do Sul, incluindo a região amazônica e a costa do Pacífico até o deserto de Atacama sofrerão ondas de calor mais frequentes e intensas.

– Com a chegada do fenômeno El Niño, espera-se que nos próximos anos essa região sofra um aumento nas já altas temperaturas, tornando necessária a adoção de medidas de adaptação para evitar mortes e desastres maiores – disse ela.

Chico Geleira, professor de climatologia e oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e vice-diretor do Centro Polar e Climático do Brasil, disse que as tendências são preocupantes.

– Sem dúvida, os registros de temperatura máxima no inverno no Chile e, até certo ponto, na América do Sul são atípicos. Os sistemas de alta pressão são anomalias mais intensas e persistentes no hemisfério sul, induzindo a advecção de ar quente e/ou gerando diretamente extremos de temperatura. Essa alta pressão tenderá a permanecer e se intensificar nas próximas décadas com as mudanças climáticas – afirmou.

Fonte: GZH

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