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ADAPTAÇÃO

Colônia de papagaios-do-mar híbridos surgiu por causa da mudança climática

Evidências genômicas indicam que surgimento de população de aves híbridas foi impulsionado por um deslocamento de subespécies para o sul devido ao aquecimento do Ártico

30 de outubro de 2023
Redação Galileu
4 min. de leitura
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Foto: Richard Bartz | Wikimedia Commons

Uma análise genética revelou que uma nova espécie híbrida de papagaios-do-mar (Fratercula arctica) surgiu na Ilha do Urso (também chamada de Bjornoya), na Noruega, devido às mudanças climáticas. A novidade foi descrita em estudo publicado em 6 de outubro na revista Science Advances.

Pesquisadores da Universidade de Oslo, em conjunto com colegas do Instituto Norueguês de Pesquisas em Natureza, do Instituto Polar Norueguês, do Museu Sueco de História Natural e do Museu Americano de História Natural capturaram temporariamente papagaios-do-mar e coletaram amostras de sangue das aves nessa parte do Alto Ártico.

Os cientistas também obtiveram os genomas de 22 papagaios-do-mar que viveram entre 1868 e 1910 em Spitsbergen, Røst e na Ilha do Urso. Eles ainda analisaram amostras mais recentes coletadas entre 2012 e 2018 dessas aves em outras ilhas próximas.

Os testes genéticos mostraram que os animais capturados eram uma mistura de duas subespécies de papagaios-do-mar. Após o aumento das temperaturas no norte da Noruega, os hábitos dessas duas subespécies se mesclaram, resultando em acasalamentos entre elas.

A subespécie de maior porte (Fratercula arctica naumanni) costumava viver principalmente na ilha de Spitsbergen, enquanto a subespécie menor (F. a. arctica) vivia mais ao sul, na ilha de Røst. A Ilha do Urso está entre esses dois habitats.

As duas subespécies divergiram de um ancestral comum há pelo menos 40 mil anos, mas seu DNA indica que tem ocorrido uma intensa hibridização ao longo do último século. Antes de 1910, todos os papagaios-do-mar da Ilha do Urso pertenciam à subespécie F. a. arctica. Depois desse período, a composição genética na região passou a ser progressivamente influenciada pela outra subespécie, F. a. naumanni.

Segundo concluiu a equipe, a taxa de hibridização está relacionada com o aumento das temperaturas no Ártico ao longo do último século. “Embora a escassez de alimentos causada pela pesca ou a poluição sejam fatores prejudiciais que não podem ser descartados, o início estimado da hibridização coincide notavelmente com o início do aquecimento ártico do século 20, no qual a temperatura da superfície do mar aumentou até 1,5°C”, escrevem os autores.

A pesquisa sugere que as mudanças climáticas fizeram com que o F. a. naumanni começasse a viajar mais ao sul do que jamais tinha feito antes de 1910, o que o colocou em contato com F. a. arctica.

Por enquanto, está tudo normal para os papagaios-do-mar da Ilha do Urso. “Eles estão procriando, estão bem”, disse Oliver Kersten, autor principal do artigo, ao site Ars Techinica. “Portanto, não vemos realmente suas desvantagens. Esta hibridização não é realmente uma preocupação para a conservação neste momento.”

Para Kersten, a maior preocupação é a perda de diversidade genética nos papagaios-do-mar das ilhas. Ao analisar as amostras históricas e contemporâneas, os pesquisadores observaram que as populações de Spitsbergen e Røst sofreram uma grave queda na variedade de DNA nos últimos 100 anos.

“Nossas descobertas representam uma observação rara de uma resposta em escala populacional às rápidas mudanças ambientais que o ecossistema ártico começou a experimentar ao longo do último século”, concluem os autores do estudo.

Fonte: Revista Galileu

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