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AQUECIMENTO DOS OCEANOS

Colisões de tubarões-baleia com grandes navios podem aumentar 15 mil vezes até 2100

8 de outubro de 2024
3 min. de leitura
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Foto: National Geographic

As mudanças climáticas podem aumentar significativamente a ameaça que grandes navios representam para os tubarões-baleia, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira na revista Nature Climate Change , com a participação de pesquisadores portugueses. O estudo aponta que o aumento da temperatura dos oceanos pode empurrar essa espécie, já ameaçada de extinção, para novos habitats atravessados ​​por rotas marítimas movimentadas, elevando o risco de colisões.

Uma pesquisa, liderada por cientistas da Universidade de Southampton (Reino Unido) e da Marine Biological Association (MBA), com participação de universidades dos Açores e do Porto, revela que, até ao final do século, uma coocorrência de tubarões-baleia e grandes navios pode aumentar em até 15.000 vezes em comparação com os dias de hoje. “Essas mudanças no habitat dos tubarões-baleia serão mais extremas em cenários de altas emissões de gases, com perda de áreas de habitat e presença maior em rotas de tráfego marítimo à medida que os oceanos aquecem”, explicou Freya Womersley, autora principal do estudo e pesquisadora do MBA.

A investigação entre grandes navios e tubarões-baleia já foi identificada como uma das principais ameaças à espécie. Em 2022, um estudo anterior acompanhou a posição de quase 350 tubarões-baleia entre 2005 e 2019, nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, e mostrou que muitos desses animais afundaram após em rotas de grandes embarcações.

Os tubarões-baleia (Rhincodon typus), maiores peixes do mundo, são encontrados em várias regiões, inclusive nos Açores, embora não sejam comuns em Portugal continental. Eles passam grande parte do tempo em águas superficiais, próximas de atividades humanas. Embora já se suspeitasse que colisões com navios pudessem ser responsáveis ​​pela morte desses animais, era difícil monitorar ou comprovar esse impacto.

No estudo mais recente, os pesquisadores combinaram dados de satélite de 348 tubarões-baleia rastreados entre 2005 e 2019 com modelos climáticos globais para prever como a distribuição desses animais pode mudar em três cenários climáticos futuros. Ao integrar essas projeções com o tráfego marítimo, foi possível avaliar os riscos de conflito entre os tubarões-baleia e os navios.

Os modelos indicam que mais de 50% do habitat dos tubarões-baleia pode estar perdido até 2100 em um cenário de altas emissões, especialmente em regiões da Ásia. Mesmo em um cenário de desenvolvimento sustentável, com aquecimento global limitado a 2°C, a frequência de colisões ainda seria 20 vezes maior do que os níveis atuais.

Os pesquisadores alertam que as mudanças climáticas, ao forçar os tubarões-baleia a migrar para áreas de maior tráfego marítimo, podem reduzir suas oportunidades de alimentação e afetar toda a população da espécie. “Esses impactos podem ser mitigados se conseguirmos frear o aquecimento global e adotar medidas para atenuar as mudanças climáticas”, afirma David Sims, coautor do estudo.

A equipe também acordou que alguns dos novos habitats dos tubarões-baleia coincidem com rotas marítimas movimentadas, como no Pacífico Norte e nas águas do leste da China. No entanto, em áreas como o Golfo do México, os habitats principais dos tubarões poderiam se mover para águas continentais, longe das rotas de navegação mais perigosas.

Apesar disso, o estudo conclui que, independentemente do cenário, há uma coocorrência entre tubarões-baleia e navios aumentando, o que coloca a espécie em risco crescente. Sims acrescenta que, mesmo que o tráfego marítimo se mantenha nos níveis atuais, está prevista uma expansão de até 1200% até 2050. “Esses dados destacam a necessidade de considerar os efeitos das mudanças climáticas nos esforços para proteger espécies marinhas ameaçadas”, finaliza Womersley .

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