Especialistas anunciam que a população de coalas selvagens da Austrália não se recuperará dos danos causados pelos incêndios devastadores que mataram mais de 2 mil indivíduos da espécie e destruíram milhões de hectares de habitat nativo desses animais.
Um ecologista disse na segunda-feira (16) que incêndios em torno de Nova Gales do Sul ou NSW (Austrália) destruíram habitats de coala tão extensivamente que “provavelmente os corpos de muitos animais nunca serão encontrados”.
O inquérito da câmara de NSW realizou uma audiência urgente sobre a população e o habitat de coalas do estado após os incêndios florestais “sem precedentes” desta temporada de seca no país.
Cerca de 90 incêndios continuam a arder em todo o estado, metade dos quais não contidos.
Mark Graham, ecologista do Conselho de Conservação da Natureza, disse na segunda-feira (16) no inquérito sobre a situação, que os coalas na maioria dos casos “realmente não têm capacidade de se mover rápido o suficiente para se afastar dos incêndios” que se difundem pela copa das árvores.
“Perdemos uma faixa tão grande de habitat conhecido de coalas que acho que podemos dizer sem dúvida que haverá declínios irreversíveis em curso nas populações de coalas a partir deste momento”, disse Graham.
“Os incêndios queimaram tão quente e tão rápido que houve uma mortalidade significativa de animais nas árvores, mas agora há uma área tão grande que ainda está pegando fogo e ainda sendo destruída que provavelmente nunca encontraremos os corpos de muitos animais”, afirmou Graham.
Os incêndios que atingiram grandes extensões da floresta da costa norte de NSW, um conhecido ponto de biodiversidade, não tiveram precedentes.
O presidente e ecologista da Aliança Florestal do Nordeste, Dailan Pugh, ressaltou mais tarde no mesmo dia, que mais de 2 mil coalas podem ter morrido nos incêndios, com até um terço do habitat de coalas na costa norte do estado perdido.
A presidente do Hospital Port Macquarie Koala, Sue Ashton, estimou em outubro que pelo menos 350 coalas teriam morrido em um incêndio em Crestwood, na costa norte do estado, com base em uma taxa de mortalidade prevista de 60%.
O parlamentar do partido australiano Greens (Verdes), Cate Faehrmann, presidente do inquérito, disse no domingo que a perda de coalas em NSW deve se tornar um catalisador pelos esforços de conservação mais fortes possíveis.
“Ouvir que perdemos até um terço do habitat de coalas e mais de 2 mil coalas na costa norte é totalmente devastador e deve ser um alerta para este governo”, disse Faehrmann em um comunicado.
O diretor clínico do Hospital Port Macquarie Koala, Cheyne Flanagan, e os indígenas praticantes de incêndios também devem dar depoimento no inquérito, além de representantes do Serviço Nacional de Parques e Vida Selvagem e do Departamento de Planejamento, Indústria e Meio Ambiente de NSW.
Como as mudanças climáticas afetam as populações de coalas?
As populações de coalas em Queensland e NSW caíram 42% entre 1990 e 2010, de acordo com o comitê científico federal de espécies ameaçadas do país.
James Tremain, porta-voz do Conselho de Conservação da Natureza de Nova Gales do Sul ou NSW, diz que o declínio da espécie está ocorrendo “lenta e silenciosamente” há tempos.
“Os números de coalas caíram nos últimos 20 anos e, se não mudarmos a tendência, eles não serão funcionalmente extintos, eles serão extintos defintivamente”, diz ele.
“Estamos destruindo diretamente milhares de hectares de suas florestas por meio da derrubada de florestas para agricultura e extração de madeira. Mas também estamos diminuindo indiretamente o habitat disponível, como resultado das mudanças climáticas”.
“A floresta de Pilliga, perto de Narrabri, no noroeste do estado, é um bom exemplo. O local costumava ter uma das maiores populações de coalas do estado. Agora essa população quase desapareceu porque algumas grandes ondas de calor mataram a maioria deles”.
Esse é um dos impactos “insidiosos” do aquecimento global que muitas pessoas não têm conhecimento.
“Os coalas, como todos os animais, só podem sobreviver dentro de uma faixa de temperatura e precipitação bastante estreita. Os coalas simplesmente não podem tolerar mais de três ou quatro dias extremamente quentes seguidos. Essas longas ondas de calor estão se tornando mais comuns no oeste do estado, o que significa que as populações de coalas estão encolhendo ao leste ao longo da costa”.
“Esses processos não se tornam notícias na televisão ou nos jornais porque acontecem lenta e silenciosamente. Essa é a natureza da extinção: acontece silenciosamente enquanto ninguém está assistindo”.
Como podemos reconstruir populações de coalas?
Blanch diz que existem muitos exemplos de populações de coalas se recuperando graças ao reflorestamento.
“A regra geral é que você precisa de 500 animais da espécie em uma população se reproduzindo para ter integridade genética e evitar a endogamia”, diz ele. “Existem várias populações nessa escala”.
“O outro requisito é que exista um habitat conectado extenso, que é uma questão que envolve a limpeza de terras (para criação de animais). Você pode trazer mais coalas de volta se parar de demolir árvores e começar a deixar as árvores voltarem a crescer”.
Ele cita Armidale no norte de NSW e Campbelltown no sudoeste de Sydney como áreas onde as populações de coalas cresceram além de 500.
“Esses são dois exemplos de onde os coalas não precisam ser extintos. Eles só serão extintos se os levarmos a isso”, conclui o especialista. As informações são do Daily Mail e The Guardian.
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