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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Clima em 2026 deve ampliar extremos e contrastes no Brasil

Calor intenso e chuvas irregulares colocam infraestrutura e agricultura sob pressão

31 de dezembro de 2025
Pedro Côrtes
3 min. de leitura
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Foto: Pixabay

O ano de 2026 tende a ressaltar, mais uma vez, as fragilidades estruturais do Brasil diante das mudanças climáticas. As projeções indicam a intensificação de extremos e contrastes regionais, com calor persistente e chuvas cada vez mais irregulares, um cenário que já não pode mais ser tratado como exceção, mas como parte de uma nova normalidade climática.

A possível transição de La Niña fraca para neutralidade no Pacífico não reduz os riscos — ao contrário. Esse tipo de mudança costuma intensificar a irregularidade das chuvas, ao enfraquecer padrões climáticos mais organizados e aumentar a alternância entre episódios de precipitação intensa e períodos secos prolongados. Na prática, isso significa menos previsibilidade e maior dificuldade de gestão dos sistemas hídricos e energéticos.

No Sul, o risco maior segue associado ao excesso de chuvas. Volumes acima da média no verão e no outono aumentam a probabilidade de enchentes, deslizamentos e perdas agrícolas. Mesmo assim, a ameaça de geadas tardias na primavera lembra que o impacto climático não se limita à água em excesso, mas também a eventos extremos fora de época.

É no Sudeste, no entanto, que o quadro se torna mais preocupante do ponto de vista sistêmico. A tendência de chuvas irregulares, concentradas em temporais intensos e intercaladas por veranicos mais longos, pode comprometer a recuperação dos níveis dos reservatórios das hidrelétricas e daqueles destinados ao abastecimento urbano. A consequência direta desse desequilíbrio é o aumento do risco de acionamento de usinas termelétricas e, com isso, da adoção da bandeira tarifária amarela ainda antes do fim do verão.

Se a irregularidade das chuvas se mostrar mais severa ao longo do ano, não se pode descartar a aplicação da bandeira tarifária vermelha em 2026, com impacto direto na conta de luz das famílias e das empresas. Trata-se de um efeito em cadeia: menos chuva regular significa menos água armazenada, maior custo de geração e pressão adicional sobre o consumidor.

Na Região Metropolitana de São Paulo, o cenário é ainda mais sensível. A região já opera sob estresse hídrico, com redução noturna da pressão na rede de distribuição. Caso a recarga dos mananciais não ocorra de forma consistente, a situação pode se agravar, abrindo espaço para cortes de fornecimento mais amplos, indo além das medidas atualmente adotadas de forma preventiva.

No Centro-Oeste, a perspectiva para 2026 combina chuvas mal distribuídas e calor intenso, um arranjo climático que aumenta o risco de ondas de calor durante a estação chuvosa, sobretudo entre dezembro e fevereiro. Esse cenário pode pressionar o desempenho de culturas como soja e milho e elevar custos com irrigação e manejo, com reflexos ao longo da cadeia produtiva.

Em um ambiente de maior incerteza climática, eventuais perdas ou atrasos na produção tendem a se refletir nos preços dos alimentos, adicionando pressão inflacionária.
Já no Norte, o prolongamento da estação seca no sul da Amazônia, combinado ao desmatamento, eleva o risco de queimadas, com impactos que extrapolam a região e afetam o regime de chuvas em outras partes do país.

No Nordeste, a irregularidade histórica das chuvas permanece como desafio central, especialmente no semiárido, onde o calor intenso e a dependência das condições do Atlântico Tropical mantêm elevada a vulnerabilidade hídrica e social.

O conjunto desses sinais deixa claro que 2026 não será apenas mais um ano climático difícil, mas um teste de capacidade de planejamento. Persistir na lógica reativa — esperando a crise para agir — tende a sair cada vez mais caro. Em um cenário de clima instável, antecipar decisões, investir em resiliência e comunicar riscos de forma transparente não é mais opção: é necessidade.

Fonte: CNN Brasil

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