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DISSEMINAÇÃO

Clima deve aumentar área endêmica da febre de Lassa nas próximas décadas

Para os cientistas, o número de pessoas potencialmente expostas ao vírus pode aumentar em mais de 600%, partindo de cerca de 92 milhões de indivíduos hoje para 453 milhões em 2050 e 700 milhões em 2070

29 de setembro de 2022
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Micrografia eletrônica de varredura do vírus Lassa brotando de uma célula (Foto: NIAID)

Mudanças climáticas, tais como alterações de temperatura e volume de chuva, podem aumentar a área de transmissão do vírus da febre de Lassa, infecção potencialmente fatal que é hoje endêmica da África Ocidental. A descoberta faz parte de uma pesquisa publicada nesta terça-feira (27) na revista Nature Communications.

Os autores do estudo analisaram décadas de dados ambientais associados aos surtos do vírus, indicando a temperatura, chuva e presença de áreas de pastagem. Segundo eles, nas próximas décadas até 2070, as áreas hospitaleiras para a propagação podem se ampliar para a África Central e Oriental.

O vírus zoonótico se espalha para os humanos a partir provavelmente de excrementos do roedor Mastomys natalensis. O agente infeccioso se dissemina apenas em algumas áreas onde os animais estão presentes, sendo possível que fatores ambientais também ajudem a determinar se e onde a transmissão viral pode ocorrer. Estima-se que várias centenas de milhares de infecções aconteçam por ano, principalmente na Nigéria.

Apesar de resultar em quadros os quais a maioria (80%) são leves ou assintomáticos, o vírus mata por vezes até 80% dos pacientes hospitalizados. Os casos graves incluem hemorragia da boca e do intestino, pressão arterial baixa e possibilidade de perda auditiva permanente. Até hoje, não há vacina aprovada ou tratamento medicamentoso altamente eficaz contra o Lassa.

Projeções da adequação do nicho ecológico para o vírus Lassa atualmente, em 2030,2050 e 2070 (Foto: Scripps Research and University of Brussels)

Os pesquisadores desenvolveram um modelo de “nicho ecológico” de transmissão do vírus, usando dados sobre as condições ambientais em locais de disseminação conhecida. Combinando o resultado com projeções climáticas e de uso da terra na África nas próximas décadas, bem como o alcance conhecido do roedor vetor da doença, eles estimaram as áreas africanas que a transmitiriam atualmente e nos anos 2030, 2050 e 2070.

As áreas atuais projetadas correspondiam a locais endêmicos na África Ocidental, mas as estimativas para décadas futuras sugeriam uma vasta expansão dentro e além dessa área. “Descobrimos que várias regiões provavelmente se tornarão ecologicamente adequadas para a propagação do vírus na África Central, inclusive em Camarões e na República Democrática do Congo, e até na África Oriental, em Uganda”, disse Raphaëlle Klitting, primeira autora do estudo, em comunicado.

Para os cientistas, o número de pessoas potencialmente expostas ao vírus pode aumentar em mais de 600%, partindo de cerca de 92 milhões de indivíduos hoje para 453 milhões em 2050 e 700 milhões em 2070. Por outro lado, ao examinarem dados de genomas virais sequenciados a partir de amostras de vários lugares da África Ocidental, os especialistas notaram uma dispersão lenta.

Eles concluíram que, a menos que a dinâmica de transmissão mude drasticamente no novo local onde o vírus circula, a futura disseminação para as novas áreas ecologicamente adequadas também pode ser lenta.

Esse e outros achados, segundo a equipe, poderão ajudar políticas de saúde africanas, incentivando a adição do vírus às listas de vigilância epidemiológica em partes da África Central e Oriental. A febre de Lassa, aliás, é listada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das doenças de maior risco à saúde pública.

“São necessários mais estudos abrangentes sobre a ecologia e disseminação de doenças zoonóticas e transmitidas por vetores para antecipar possíveis mudanças futuras em sua distribuição, bem como seu impacto na saúde pública”, diz Simon Dellicour, autor sênior da pesquisa.

Fonte: Revista Galileu

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