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Ciscantes, berrantes, fuçantes e nadantes*

2 de março de 2012
2 min. de leitura
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Estas são as denominações encontradas em sites de receitas que chamam a atenção para a coisificação e a naturalidade com que se coloca os seres sencientes como objetos a serem comidos. As receitas estão divididas entre os berrantes, ciscantes, fuçantes e nadantes. Curioso?

As vacas da Cow Parade nunca foram tão fotografadas, idolatradas, as crianças montando em cima, os adultos fazendo brincadeiras idiotas de ordenhar a vaca, fazendo poses ridículas. É a banalisação do outro. O outro como objeto de deboche. Infelizmente ainda temos de aguentar as “vacas bobas” projetadas sem muita criatividade por artistas diversos. Pouca crítica, pouca reflexão, apenas uma mistura de objetos, cada qual dentro do significado da arte que tudo suporta.

O mais interessante dessa exposição foi ver a reação das pessoas. Um poeta cola uma folha de papel numa das vacas do centro de Porto Alegre. É um poema:

“Salvem as vacas!

Poeta Moyses A. Pereira

Deus fez as vacas pras mães
Que não têm leite pra o filho,
Em recompensa ela morre
Comida pra todos nós.
Mão criminosa lhe mata!…
Impiedoso golpe à faca
Faz calar seu coração
Pobre vaca! Não merece
Desrespeito, ingratidão!

Pobre civilização!
Que mata esta mãe de leite
E agora, serve de enfeite
Inútil, na triste praça,
Que não fala da desgraça
Da vaca que nos dá leite
E morre tão desprezada
Sem ninguém pra defendê-la,
Servindo apenas de enfeite!”

Ao falar da exposição, muita gente tem verdadeiras contorções pois não consegue admitir que a arte possa ser criticada. Ainda existe a aura de intocável, da arte nada se fala senão elogios. Mas não é bem assim que a coisa ocorre de fato: A Cow Parade sofreu depredações, roubos e gente que nem notou a existência do evento. Outros festejaram muito a presença destes objetos, mas só. É triste que a arte esteja perdendo o sentido da reflexão, do choque, da introspecção. Isso não depende apenas do artista, também de quem aprecia a arte.

O que coloco aqui é o fenômeno cada vez mais visível da coisificação dos animais na arte e na sociedade em geral. Animais como objetos de arte: já fizeram instalações até com cão vivo deixado ali para morrer de inanição, urubus, as girafas que precisam vir da África para abastecer zoológico da região. Lamentável é tornar o animal como objeto de tudo, moeda de troca, coisa a ser vista e fotografada.

*denominação encontrada em um site de receitas.

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