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Cisão entre veterinários

23 de junho de 2016
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A publicação do meu artigo “Médicos ou Veterinários do Mal?” aqui na ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais e Jornal VS gerou bastante polêmica e discussão não só no meio veterinário, mas entre simpatizantes e defensores dos direitos animais. O mesmo foi replicado nas redes sociais e vários Conselhos Regionais de Medicina Veterinária, fazendo coro ao CRMV-RS, incluindo o Conselho Federal, publicaram em seus portais, notas de apoio à posição da entidade do RS e repúdio às colocações do referido artigo.
Penso ser extremamente importante o debate, onde ficou muito claro que há uma divisão clara entre a classe, onde de um lado temos aqueles profissionais que optaram por não atuar naquilo que denomino de indústria da morte (animais de consumo) e acadêmicos de uma nova geração que se importa com o sofrimento animal e de outro lado, profissionais formatados e arraigados a conceitos ortodoxos que historicamente serviram para sobrepujar necessidades e direitos inerentes de outras espécies não humanas. E aí é possível entender tamanha objeção e resistência destes, pois são herdeiros de uma tradição antropocêntrica e especista muito presente em nossa sociedade e civilização. São milênios de exploração e concepção filosófica de domínio, com toda uma tradição e estrutura social que colocou os animais num plano de inferioridade, sentenciando aos mesmos a condição de seres/objetos/mercadorias a serviço da satisfação e desejos humano. E para referendar tudo isso uma indústria milionária midiática que aguça os prazeres palatáveis e incentiva o consumo dessas vidas transformadas em produtos.
Toda quebra de paradigma gera resistência e por mais que queiram alegar bem estar no manejo e criação de animais, todo o profissional que opta por trabalhar na indústria da carne (quando há outras opções) não poderá esquivar-se do paradoxo e da contradição de cuidar dos pacientes/vítimas para que “saudáveis”, ainda que ouçam Beethoven, sejam remetidos ao corredor da morte. Basta de hipocrisia, pois não consigo enxergar “bem estar” imposto a seres sencientes privados de direitos básicos, como a liberdade de movimentos, ausência de autonomia prática na escolha do alimento, na afetividade com os seus pares e principalmente no direito à vida, bem único e maior patrimônio de um ser.
Depois da Declaração de Cambridge sobre a Consciência Humana e Animal proclamada em julho de 2012 na Inglaterra e assinada por renomados cientistas de cinco especialidades da neurociência, atestando a senciência nos animais, não há mais desculpa para ninguém se eximir de suas escolhas e responsabilidades, principalmente daqueles que estudaram e se formaram para “cuidar” dos animais.

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