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OSCILAÇÃO

Circulação de águas do Atlântico pode enfraquecer até 2100 e impactar chuva na amazônia, diz estudo

Segundo o pesquisador, a mudança prevista pode afetar as precipitações pluviais de todo o planeta

10 de setembro de 2025
José Tadeu Arantes
6 min. de leitura
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Oceano Atlântico, próximo ao arquipélago dos Abrolhos, no sul do litoral da Bahia. Foto: Rubens Cavallari/Folhapress

A Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico, conhecida pela sigla em inglês Amoc (Atlantic Meridional Overturning Circulation), é um dos principais “motores” do clima terrestre.

Ela funciona como uma esteira oceânica que transporta calor e nutrientes, conectando águas superficiais da porção tropical com águas profundas da região norte. Alterações nesse sistema sempre estiveram associadas a mudanças abruptas do clima global, como as que marcaram a última era glacial.

Combinando dados de pesquisa de campo com projeções dos melhores modelos climáticos, o trabalho indica que as mudanças causadas pela ação humana podem levar a um enfraquecimento da circulação sem precedentes no período recente da história da Terra.

O norte da amazônia, justamente a parte mais preservada da floresta, pode ser fortemente afetado, com uma drástica redução do regime de chuvas.

Os resultados foram publicados no periódico Nature Communications.

A equipe internacional que realizou o estudo reuniu cientistas da Alemanha, da Suíça e do Brasil. Utilizando testemunhos de sedimentos marinhos coletados em diferentes pontos do Atlântico Norte e análises de elementos radioativos –tório-230 e protactínio-231–, os pesquisadores reconstruíram quantitativamente a intensidade da Amoc ao longo de todo o Holoceno –os últimos 12 mil anos.

“Esses elementos radioativos são produzidos de forma constante na coluna d’água a partir do urânio. Como o tório se fixa rapidamente em partículas, enquanto o protactínio permanece mais tempo em circulação, a razão protactínio-tório registrada nos sedimentos fornece um ‘proxy’ da intensidade da circulação oceânica. Valores mais altos indicam enfraquecimento, e valores mais baixos, intensificação”, explica Cristiano Mazur Chiessi, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e coautor do estudo.

Para transformar os dados de campo da razão protactínio-tório em valores de fluxo de água, a equipe utilizou o Bem3D, um modelo do sistema terrestre desenvolvido na Universidade de Berna, na Suíça, que simula oceanos, atmosfera e ciclos biogeoquímicos, permitindo converter registros de sedimentos em estimativas quantitativas da circulação oceânica. Isso permitiu estimar a intensidade da circulação em Sverdrups (Sv) –1 Sv equivalente a 1 bilhão de litros por segundo.

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