Cinco animais presentes em unidades de conservação de Bauru constam do “Livro Vermelho”, uma compilação das espécies ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo. A publicação, feita com base numa lista oficial de 2008, inclui também bichos da região, como Botucatu e Brotas.
Dentro das categorias de ameaça, as espécies que correm risco maior de extinção são classificadas como “criticamente em perigo”, seguida pelas categorias “em perigo” e “vulnerável”. Dos cinco de Bauru, o caso mais complicado é o da ave popularmente conhecida como mãe-da-lua-parda. A situação dela é considerada preocupante porque existem apenas quatro registros no Estado, isso há mais de 100 anos.
Depois, somente um foi feito em 1990. Por essa razão, foi classificada como “criticamente em perigo”. Não a toa, o diretor do Zoológico de Bauru, Luiz Pires, e o professor associado do Departamento de Ciências Biológicas da Unesp Reginaldo José Donatelli nunca a viram por aqui. “Ela provavelmente está extinta na região, assim como outro bicho, o Phylloscartes Paulistus (não-pode-parar, de Botucatu), e a Onychorhynchus swainsoni (maria-leque)”, diz Donatelli.
A situação também é preocupante para o fura-terra-da-barriga-pintada, que habita fragmentos de cerrado remanescentes em Brotas. Foi classificado como “em perigo” porque sua distribuição está restrita a dois pontos isolados e distantes um do outro, sendo o habitat perturbado pela agricultura e pecuária. As informações constam no “Livro Vermelho”.
De acordo com ele, todas as outras espécies de Bauru e região foram classificadas como “vulnerável”, cada qual com sua justificativa. No caso do lobo-guará, porque existe uma tendência de redução significativa de indivíduos maduros, muito por conta de atropelamentos, além de conflitos com cães domésticos e produtores rurais. Na região, um exemplar da espécie chegou a ser tratado após ser atropelado. “O último registro que a gente tem deles é da área de Agudos, em Domélia (distrito). Em Bauru, há muito tempo a gente não tem”.
As ameaças são praticamente as mesmas para a onça-parda. De acordo com o diretor do zoológico, existem relatos delas às margens do rio Batalha, na região de Agudos, Lençóis Paulista e Cabrália Paulista.
Ele destaca a ausência de levantamentos específicos sobre mamíferos, répteis e anfíbios na nossa região. Os campos com carência de pesquisa, inclusive, são apontados pelo próprio “Livro Vermelho”. “Ele aponta todas as espécies com deficiência de dados. Sendo assim, mostra caminhos para novas pesquisas”, informa Maria Luiza Gonçalves, diretora de Relação com o Mercado da Fundação Parque Zoológico de São Paulo. De acordo com ela, futuras novas pesquisas – fomentadas por órgãos como a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) – podem ser balizadas pela publicação.
Políticas públicas
O fato de uma espécie estar na lista da fauna ameaçada significa que ela corre risco de extinção e pode desaparecer em um curto espaço de tempo, se nada for feito. Para evitar o pior, são necessárias políticas e medidas públicas que podem ser balizadas pelo “Livro Vermelho”, informa Maria Luiza Gonçalves. A ideia também é combater o tráfico e comércio de espécies.
“O livro é um instrumento para um monte de coisas, inclusive para a questão de legislação e administração pública”, comenta Maria Luiza. Concorda com ela Luiz Pires. De acordo com ele, quando os animais constam em listas de extinção, as multas e penas em caso de crime são aumentadas. A ocupação de áreas que são apontadas como habitat de espécies também é diferente.
Existem restrições com relação a parcelamento de solo e zoneamento agrícola para evitar risco de extinção. Além disso, é com base nestas listas que o Policiamento Ambiental elabora laudo de identificação, explica Pires. Num eventual boletim de ocorrência, é necessário constar se o animal está em extinção, por exemplo.
A publicação também é fonte de várias outras informações como a situação de cada uma das espécies em outras listas formuladas, as ameaças que cada uma delas sofre e as medidas de conservação. No caso do último quesito, muitas delas ainda precisam ser implementadas para evitar a extinção de espécies.
Em relação à onça-parda, por exemplo, o livro recomenda a preservação e proteção de áreas naturais e estabelecimento de métodos para o controle de conflitos , além de criação de vias de passagem de fauna em rodovias.
436 espécies do Estado de São Paulo
Na publicação ‘Fauna Ameaçada de Extinção do Estado de São Paulo-vertebrados’, batizada também como ‘Livro Vermelho’, constam 436 espécies e subespécies ameaçadas. Elas representam cerca de 17% do total de vertebrados conhecidos no Estado, segundo a Secretaria do Estado do Meio Ambiente.
Para chegar à conclusão, foram distribuídos 262 questionários para pesquisadores envolvidos com vertebrados no Estado de São Paulo. Do total, 111 responderam sobre mamíferos, 41 sobre aves, 27 répteis, 36 sobre anfíbios, 16 sobre peixes de água doce e 31 sobre peixes marinhos.
A novidade do ‘Livro Vermelho’ paulista é que a metodologia utilizada segue os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Os “livros vermelhos de fauna ameaçada” são conhecidos mundialmente e são considerados mecanismos de combate ao tráfico e ao comércio de espécies, informa a assessoria de imprensa da Secretaria do Estado do Meio Ambiente.
A publicação paulista relaciona as espécies ameaçadas de extinção no Estado com base na última lista de fauna, publicada em outubro de 2008. Como os dados são de dois anos, não haverá um lançamento do livro, mas uma divulgação dele. Está programada para o próximo dia 2, no Zoo de São Paulo. Mais informações através do site http://www.ambiente.sp.gov.br