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PROTEÇÃO

Cientistas usam drones para lançar milhares de mosquitos no Havaí para salvar aves à beira da extinção

Ação usa mosquitos com bactéria que impede nascimento de novos vetores da malária aviária, principal ameaça às aves nativas da região

18 de junho de 2025
4 min. de leitura
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Mosquitos são lançados dentro de recipientes biodegradáveis. Foto: Adam Knox / American Bird Conservancy

No Havaí, cientistas estão usando drones para soltar milhares de mosquitos criados em laboratório numa tentativa de salvar aves nativas ameaçadas de extinção. A estratégia pode parecer contraditória, mas traz esperança: os mosquitos liberados são todos machos e carregam uma bactéria que impede a reprodução da espécie invasora responsável por transmitir malária aviária, doença mortal para os pássaros havaianos.

As aves, conhecidas como honeycreepers, já foram abundantes nas ilhas, e chamam atenção pelos cantos vibrantes e plumagem colorida. Hoje, restam apenas 17 das mais de 50 espécies que um dia habitaram a região. A principal causa desse declínio é justamente a malária aviária, introduzida por mosquitos invasores trazidos por navios no século 19.

Para frear a extinção, a coalizão “Birds, Not Mosquitoes”, que é formada por organizações governamentais, privadas e sem fins lucrativos, já liberou mais de 40 milhões de mosquitos machos nas ilhas de Maui e Kauai desde novembro de 2023.

Os insetos carregam a bactéria Wolbachia, que age como uma espécie de “anticoncepcional biológico”, porque quando os mosquitos machos copulam com fêmeas selvagens, os ovos gerados não eclodem.

O ‘I‘iwi (Drepanis coccinea) é uma das espécies endêmicas ameaçadas no Havaí. Foto: Robby Kohley / American Bird Conservancy

A maior parte das liberações tem sido feita por helicóptero. Mas recentemente, os pesquisadores começaram a testar drones de 2,5 metros de comprimento, que carregam cerca de 23 mil mosquitos por voo. Apesar da capacidade menor em comparação aos helicópteros (que transportam até 250 mil por vez), os drones são mais seguros e ágeis, especialmente em regiões de difícil acesso e clima instável.

Cada liberação é feita com cápsulas biodegradáveis que carregam cerca de mil mosquitos cada. “Elas caem no chão da floresta e protegem os mosquitos até que estejam prontos para voar”, explica Adam Knox, piloto de drones da American Bird Conservancy. Depois, os invólucros se decompõem naturalmente.

O uso da chamada “técnica do inseto incompatível” já é aplicado em lugares como Flórida, Califórnia, México e China para conter doenças humanas como dengue e zika, inclusive no Brasil.

No Havaí, no entanto, o objetivo é salvar animais. “O que fazemos é criar uma barreira invisível para impedir que os mosquitos contaminados cheguem às florestas onde as aves ainda resistem”, resume Chris Farmer, diretor do programa havaiano da American Bird Conservancy, relata a Smithsonian Magazine.

À medida que as temperaturas sobem com as mudanças climáticas, os mosquitos estão invadindo áreas mais elevadas, último refúgio seguro das aves. Espécies como a ‘ākohekohe (honeycreeper-de-penacho), kiwikiu (tentilhão-de-Maui) e ʻakekeʻe estão criticamente ameaçadas. A ‘akikiki, ou Kauai creeper, foi considerada funcionalmente extinta na natureza em 2023, ou seja, ainda tem alguns indivíduos vivos, mas não em número suficiente para manter uma população viável a longo prazo.

“A crise de extinção já está em andamento”, alerta Chris Warren, coordenador de aves florestais no Parque Nacional Haleakalā. “O único destino mais trágico que a extinção dessas espécies seria deixá-las desaparecer sem tentar salvá-las.”

Fonte: Um só Planeta

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