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RESILIÊNCIA

Cientistas tentam solucionar o mistério de como baleia-jubarte mais velha do mundo sobreviveu mais de 50 anos

15 de agosto de 2024
5 min. de leitura
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Foto: Adam Pack/Permissão de Pesquisa NOAA 26953

A cauda de uma baleia-jubarte é tão única quanto uma impressão digital. As lobas, ou nadadeiras, no final da cauda têm bordas recortadas que variam de baleia para baleia; os lados inferiores apresentam padrões distintos em preto e branco que marcam uma baleia para a vida toda. Quando Adam A. Pack, um pesquisador de mamíferos marinhos da Universidade do Havai em Hilo, estava fotografando baleias no Frederick Sound, no Alasca, em julho, ele reconheceu instantaneamente as nadadeiras de um velho amigo.

Enfatizando o “velho”. A cauda — predominantemente preta, com uma série de manchas brancas perto da borda — pertence a uma baleia chamada Old Timer. Primeiramente avistado em 1972, Old Timer agora é um macho de pelo menos 53 anos, tornando-o “a baleia-jubarte conhecida mais velha do mundo”, disse o Dr. Pack, que também é cofundador e presidente do The Dolphin Institute.

As populações de baleias-jubarte, que foram severamente reduzidas pela caça, se recuperaram nas últimas décadas. Mas esses animais ainda enfrentam ameaças como colisões com navios, emaranhamentos em equipamentos de pesca e mudanças climáticas.

E o Dr. Pack estava preocupado com Old Timer: a última vez que ele havia visto a baleia, em 2015, foi no meio de uma onda de calor recorde que durou anos. Muitas aves marinhas e mamíferos marinhos, incluindo baleias-jubarte, morreram. Mas, após nove anos, ele viu com seus próprios olhos que Old Timer havia sobrevivido.

“Foi reconfortante, porque percebi que não eram apenas as baleias velhas que estavam perecendo. Algumas delas eram resilientes”, disse o Dr. Pack.

Historicamente, rastrear a localização das baleias era feito de forma difícil: os cientistas usavam seus próprios olhos para comparar novas fotos das nadadeiras com antigas. Mas os futuros estudos sobre Old Timer e outras baleias-jubarte de todas as idades estão prestes a ser acelerados com a inteligência artificial. E o Dr. Pack espera que isso o ajude a entender como e por que algumas baleias conseguem suportar condições difíceis.

Diversas populações de baleias-jubarte habitam o Pacífico Norte. Old Timer faz parte de uma população que passa os invernos se reproduzindo nas águas ao redor do Havai e os verões no sudeste do Alasca, alimentando-se de peixes e pequenos animais semelhantes a camarões conhecidos como krill. Essas baleias-jubarte têm sido objeto de um estudo científico contínuo, iniciado em 1976, quando um pesquisador de mamíferos marinhos, Louis Herman, começou a fotografar as baleias e suas nadadeiras distintas.

O Dr. Herman realizou levantamentos anuais, acumulando uma enorme coleção de fotos das caudas que permitiram aos cientistas acompanhar baleias individuais ao longo de suas vidas. Essas fotos das nadadeiras, que agora somam mais de 30.000, forneceram novas percepções sobre a vida das baleias, desde seus padrões de migração até seus comportamentos sociais.

“É um dos estudos científicos mais longos sobre baleias-jubarte no mundo”, disse o Dr. Pack, um dos ex-alunos e colegas do Dr. Herman e agora líder do projeto sobre as baleias.

Macho da espécie ameaçada tinha cerca de 43 anos

O estudo está agora entrando na era do aprendizado de máquina, com a ajuda de uma plataforma online chamada Happywhale, que coleta fotos das nadadeiras das baleias de cientistas e do público de todo o mundo. O banco de dados do Happywhale contém atualmente cerca de 1,1 milhão de imagens de mais de 100.000 baleias-jubarte individuais, disse Ted Cheeseman, cofundador do Happywhale e candidato a Ph.D. na Southern Cross University na Austrália.

Algoritmos de reconhecimento de fotos movidos por inteligência artificial ajudam a identificar automaticamente as baleias nas fotos enviadas, auxiliando cientistas no campo ou outros que precisam consultar avistamentos anteriores de um determinado animal. “O Happywhale revolucionou nosso campo e possibilitou colaborações em grande escala”, disse o Dr. Pack.

No início deste ano, Cheeseman, Dr. Pack e dezenas de outros pesquisadores usaram a ferramenta de reconhecimento de imagem do Happywhale para estimar a abundância de baleias-jubarte no Pacífico Norte de 2002 a 2021. Inicialmente, a população disparou, alcançando cerca de 33.500 baleias em 2012.

Mas, em seguida, caiu drasticamente. Esse declínio populacional coincidiu com a severa onda de calor marinho, quando o Dr. Pack avistou pela última vez Old Timer. A onda de calor durou de 2014 a 2016 e reduziu drasticamente o fornecimento de peixes e krill. “Há muito mais que queremos aprender sobre o evento, mas é bastante claro: águas mais quentes significam que a comida está menos disponível no geral, e o que está disponível é mais disperso e mais profundo”, disse Cheeseman em um e-mail.

A população de baleias-jubarte do Havai foi especialmente afetada, caindo 34% de 2013 a 2021. Embora tenham ocorrido alguns avistamentos de Old Timer após 2015, o Dr. Pack estava empolgado por finalmente ver a baleia pessoalmente. Essa empolgação logo deu lugar à curiosidade: por que Old Timer sobreviveu, quando tantos outros pereceram?

Agora, o Dr. Pack espera investigar mais a fundo, com a ajuda do Happywhale. Ele planeja investigar como as baleias-jubarte sobreviveram nos anos difíceis e se há padrões discerníveis. A idade de Old Timer poderia ter sido uma vantagem. “É possível que Old Timer tenha vivido o suficiente para ser adaptável quando certos recursos alimentares são limitados”, disse o Dr. Pack.

A ideia ainda é especulativa e não está claro se Old Timer foi a exceção ou a regra. “Quantas baleias como Old Timer foram resilientes a essa devastação dos recursos marinhos?”, ele questionou.

Fonte: O Globo

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