A equipe do projeto “The Last Survivors” (Os Últimos Sobreviventes) busca descobrir como exatamente esse animal conseguiu durar 76 milhões de anos, enquanto todas as outras formas e vida ao seu redor foram extintas.
Para compreender como o Hispaniolan solenodon sobreviveu por tanto tempo, é preciso voltar no tempo, mais especificamente, 76 milhões de anos atrás. Esse era o período em que dinossauros caminhavam pela Terra.
A essa altura da História, um pedaço de terra ligado à grande massa que hoje forma a América do Norte se desprendeu, levando consigo alguns mamíferos que se alimentavam de insetos – os ancestrais do solenodon.
Esse pedaço de terra acabou formando a ilha de Hispaniola – que abriga a República Dominicana e o Haiti.
Onze milhões de anos depois de a ilha ter começado a se afastar do supercontinente, a devastação atingiu seus arredores: um asteroide ou um cometa de dimensões colossais caiu na Terra no norte do que hoje é conhecido como Península de Yucatán, o que, segundo cientistas, extinguiu os dinossauros que até então dominavam o mundo.
Extinção
O impacto causou fortes aumentos de temperatura e tsunamis gigantes. Mais tarde, o planeta foi envolvido em escuridão, o que foi devastador para várias espécies.
Mas, enquanto os dinossauros e várias outras espécies pré-históricas desapareceram, o Hispaniolan solenodon sobreviveu.
Algumas dezenas de milhões de anos depois, esse animal voltou a vencer adversidades.
Primeiro, ao sobreviver às altas temperaturas do Período Eocênico e, mais tarde, à Idade do Gelo.
A chegada dos seres humanos ao Caribe, há seis mil anos, também apresentou um desafio à espécie. Antes da chegada do homem, havia cerca de 25 espécies de mamíferos terrestres na ilha.
Desses, apenas o Hispaniolan solenodon e um tipo de roedor sobreviveram.
Sobrevivência
A chave para esse mistério pode estar em cavernas escondidas na floresta tropical dominicana.
Ao vasculharem cavernas da região, os cientistas perceberam a falta de ossos do Hispaniolan solenodon, enquanto fósseis de outras espécies que hoje são extintas eram muito mais comuns.
“Isso levanta uma série de perguntas importantes”, disse Sam Turvey, da Sociedade Zoológica de Londres, que está trabalhando no projeto.
“Por que essas espécies desapareceram enquanto eles sobreviveram? Quais eram as diferenças ecológicas-chave entre essas espécies?”
A resposta pode estar na versão atual do animal.
“Há um conceito de que o Hispaniolan solenodon é um ‘fóssil vivo’, porque parece ter retido algumas características, potencialmente ancestrais”, disse Turvey.
Uma dessas características é a ranhura em seus dentes, que permite que ele injete veneno em suas presas, traço único entre os mamíferos atuais.
O tamanho do Hispaniolan solenodon também pode ter contribuído para sua sobrevivência, especialmente durante a chegada de Cristóvão Colombo à ilha, em 1492.
Na época, ratos que estavam no navio invadiram a ilha, causando caos entre as espécies existentes lá.
Se fosse menor, o Hispaniolan solenodon, que é do tamanho de um coelho, provavelmente teria sido devorado pelos ratos. Se fosse maior, poderia virar presa de humanos.
Os cientistas esperam que descobertas sobre as razões da sobrevivência da espécie ajudem a evitar sua extinção nos dias atuais.
Fonte: Estadão