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"DENTE-DE-ESPADA"

Cientistas se reúnem para decifrar o enigma da baleia mais rara do mundo em estudo na Nova Zelândia

3 de dezembro de 2024
4 min. de leitura
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Foto: AP

É a baleia mais rara do mundo, com apenas sete de sua espécie já avistadas. Quase nada se sabe sobre a espécie enigmática. Mas nessa segunda-feira (2), um pequeno grupo de cientistas e especialistas culturais na Nova Zelândia se agrupou em torno de uma baleia-de-dentes-de-espada quase perfeitamente preservada, na esperança de decodificar décadas de mistério.

“Não consigo descrever o quão extraordinário isso é”, disse Anton van Helden, consultor sênior de ciências marinhas da agência de conservação da Nova Zelândia, que deu à baleia-de-dentes-de-espada seu nome para distingui-la de outras espécies de bico. “Para mim, pessoalmente, é inacreditável.”

Van Helden estuda baleias-de-bico há 35 anos, mas nessa segunda-feira foi a primeira vez que ele participou de uma dissecação da variedade de dentes-de-pá. Na verdade, o estudo cuidadoso da criatura — que apareceu morta em uma praia da Nova Zelândia em julho — é o primeiro a acontecer.

Para se ter uma noção, nenhuma baleia dessa espécie jamais foi vista vivo no mar e a lista do que os pesquisadores não sabem sobre ela é maior do que o que, de fato, se sabe:

Não se sabe onde no oceano essas baleias vivem;
Por que elas nunca foram vistas na natureza ou como são seus cérebros;
Todas as baleias-de-bico têm sistemas estomacais diferentes e os pesquisadores não sabem como as baleias-de-dentes-de-espada processam sua comida.

Na próxima semana, pesquisadores que começaram a estudar o macho de cinco metros de comprimento em um centro de pesquisa agrícola perto da cidade de Dunedin esperam ter as respostas.

“Pode haver parasitas completamente novos para a ciência que vivem apenas nesta baleia”, disse van Helden, que se emocionou com a chance de aprender como a espécie produz som e o que come. “Quem sabe o que descobriremos?”

Apenas seis outras baleias-dentes-de-espada foram encontradas, mas todos os animais descobertos intactos acabaram sendo enterrados antes que os testes de DNA pudessem verificar sua identificação e confirmar que faziam parte da espécie rara. Por isso, até agora uma pesquisa desse porte não havia sido feita.

A Nova Zelândia é um hotspot de encalhe de baleias, com mais de 5 mil episódios registrados desde 1840, de acordo com o Departamento de Conservação. Os primeiros ossos de baleias com dentes de pá foram encontrados em 1872 na Ilha Pitt da Nova Zelândia. Outra descoberta foi feita em uma ilha offshore na década de 1950, e os ossos de uma terceira foram encontrados na Ilha Robinson Crusoé do Chile em 1986.

O sequenciamento de DNA em 2002 provou que todos os três espécimes eram da mesma espécie — e que era diferente de outras baleias-de-bico. Mas pesquisadores estudando o mamífero não puderam confirmar se a espécie estava extinta até 2010, quando duas baleias-dente-de-espada inteiras, ambas mortas, apareceram em uma praia da Nova Zelândia. Mas nenhuma foi estudada antes.

Nessa segunda-feira, o sétimo animal dessa espécie, cercado por cientistas de avental branco que estavam medindo e fotografando, parecia relativamente imaculado, não dando nenhuma pista sobre sua morte. Pesquisadores apontaram marcas de tubarões cortadores de biscoitos, mas não sabem se essa é a causa.

A dissecação será silenciosa, metódica e mais lenta do que o normal, porque está sendo realizada em parceria com os Māori, o povo indígena da Nova Zelândia. Para os Māori, as baleias são um taonga – um tesouro precioso – e a criatura será tratada com a reverência concedida a um ancestral.

Membros da tribo iwi local estarão presentes durante toda a dissecação e serão consultados a cada momento, permitindo que compartilhem conhecimento tradicional e observem costumes, como fazer uma karakia — uma oração — sobre a criatura antes do início do estudo.

“De acordo com nossas crenças e tradições, esta baleia é um presente de Tangaroa, divindade do oceano”, disse Tumai Cassidy, do povo local Te Rūnanga Ōtākou. “É muito importante para nós respeitar esse presente e honrar a baleia.”

O iwi manterá o maxilar e os dentes da baleia no final da dissecação, antes que seu esqueleto seja exibido em um museu. A impressão 3D será usada para replicar essas partes, usando uma tomografia computadorizada feita da cabeça da baleia esta semana.

“Tudo isso cria um quadro mais rico para essa espécie, mas também nos diz como ela interage com nossos oceanos”, disse Cassidy.
Acredita-se que as baleias-de-dentes-de-espada vivam no vasto Oceano Pacífico Sul, lar de algumas das fossas oceânicas mais profundas do mundo. As baleias-de-bico são as que mais mergulham no oceano em busca de comida, e as baleias-de-dentes-de-espada raramente vêm à tona, aumentando seu mistério.

Os cientistas reunidos na segunda-feira incluíam alguns que viajaram do exterior para ver a baleia, que foi colocada em armazenamento refrigerado após sua descoberta.

“O que nos interessa não é apenas como esses animais morreram, mas como eles viveram”, disse Joy Reidenberg, uma anatomista da Icahn School of Medicine no Mount Sinai em Nova York. “Ao descobrir como eles vivem, esperamos encontrar descobertas que possamos aplicar de volta à condição humana.”

Fonte: G1

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