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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Cientistas no Chile questionam se Antártida entrou em caminho sem volta

Chuvas fortes e ondas de calor intensas nas últimas décadas levaram ao derretimento em massa e rompimento de geleiras

31 de agosto de 2024
Folha de S.Paulo
4 min. de leitura
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Geleira na Baía Chiriguano, na Antártida. Foto: Johan Ordonez

Cerca de 1.500 acadêmicos, pesquisadores e cientistas especializados na Antártida se reuniram no sul do Chile para a 11ª conferência do Comitê Científico de Pesquisa na Antártida nesta semana para compartilhar as pesquisas mais avançadas do vasto continente branco.

Quase todos os aspectos da ciência, da geologia à biologia, da glaciologia às artes, foram abordados, mas uma grande corrente subjacente percorreu a conferência: a Antártida está mudando, mais rápido do que o esperado.

Os eventos climáticos extremos no continente coberto de gelo não são mais apresentações hipotéticas, mas relatos em primeira mão de pesquisadores sobre chuvas fortes, ondas de calor intensas e eventos repentinos de Foehn (ventos fortes e secos) em estações de pesquisa que levaram ao derretimento em massa, ao rompimento de geleiras gigantes e a condições climáticas perigosas com implicações globais.

Com dados detalhados de estações meteorológicas e satélites que datam de apenas 40 anos atrás, os cientistas se perguntaram se esses eventos significam que a Antártida atingiu um ponto de inflexão ou um ponto de perda acelerada e irreversível de gelo marinho da camada de gelo da porção ocidental do continente.

“Há incertezas sobre se as observações atuais indicam uma queda temporária ou um mergulho descendente (do gelo marinho)”, disse Liz Keller, especialista em paleoclima da Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia, que liderou uma sessão sobre previsão e detecção de pontos de inflexão na Antártida.

As estimativas da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, mostram que a camada de gelo da Antártida tem gelo suficiente para elevar o nível médio global do mar em até 58 metros. Estudos demonstraram que cerca de um terço da população mundial vive a uma altitude de até 100 metros do nível do mar.

Embora seja difícil determinar se atingimos um “caminho sem volta”, Keller diz que está claro que a taxa de mudança não tem precedentes.

“É possível observar o mesmo aumento de CO2 ao longo de milhares de anos, mas agora isso aconteceu em 100 anos”, disse Keller.

Mike Weber, paleoceanógrafo da Universidade de Bonn, na Alemanha, especializado na estabilidade do manto de gelo antártico, afirma que os registros de sedimentos datados de 21 mil anos mostram períodos semelhantes de derretimento acelerado do gelo.

A camada de gelo passou por uma perda de massa de gelo acelerada semelhante pelo menos oito vezes, disse Weber, com a aceleração começando ao longo de algumas décadas, o que dá início a uma fase de perda de gelo que pode durar séculos e levar a um aumento drástico do nível do mar em todo o mundo.

Weber diz que a perda de gelo aumentou na última década, e a questão é se ela já deu início a uma fase de séculos ou não. “Talvez estejamos entrando nessa fase agora mesmo”, disse Weber. “Se estivermos, pelo menos por enquanto, não haverá como pará-la.”

Cortar emissões de carbono

Embora alguns digam que as mudanças climáticas já estão consolidadas, os cientistas concordam que os piores cenários ainda podem ser evitados com a redução drástica das emissões de combustíveis fósseis.

Weber diz que a crosta terrestre se recupera em resposta ao recuo das geleiras e que a diminuição de seu peso poderia equilibrar o aumento do nível do mar, e uma nova pesquisa publicada semanas atrás mostra que um equilíbrio ainda é possível se a taxa de mudança for suficientemente lenta.

“Se mantivermos as emissões baixas, poderemos acabar com isso”, disse Weber. “Se as mantivermos altas, teremos uma situação de descontrole e não poderemos fazer nada.”

Fonte: Folha de S. Paulo

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