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CIÊNCIA

Cientistas do Ceará descobrem que a casca de caju pode captar energia solar

O foco do trabalho com o caju é para aplicação em energia solar térmica, utilizando coletores solares de placa plana — trata-se de um trocador de calor que converte a radiação em energia térmica, segundo o professor Diego Pinho

26 de setembro de 2022
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No Ceará, a geração de energia solar tem uma nova aliada: a casca de caju     Imagem: Divulgação | Governo Britânico

Não é de hoje que a ciência busca formas de produção de energia limpa. Maior alternativa conhecida à energia elétrica, a energia fotovoltaica, embora gere grandes benefícios para o meio ambiente, ainda se mostra inacessível aos mais pobres — desafio para o qual pesquisadores do Ceará parecem ter uma resposta: a casca da castanha-de-caju.

Segundo pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Ceará (UFC), o líquido da casca da castanha-de-caju (LCC) é uma substância capaz de revestir as placas solares e captar a energia do sol, transformando-a em energia térmica, em vez de propriamente gerar eletricidade.

A energia solar térmica tem ganhado espaço em várias pesquisas, e com resultados impressionantes, podendo ser utilizada em equipamentos que usam motores elétricos como fonte de calor, por exemplo. Esses motores elétricos são substituídos pelo sistema solar térmico, como uma fonte de calor alternativa. Sistemas de dessalinização, de aquecimento de líquidos e até refrigeradores podem usar essa energia para funcionar.

Mas como isso pode impactar o preço da energia solar? A resposta é simples: abundante na natureza, essa substância tem eficiência comprovadamente superior aos demais materiais utilizados nos sistemas fotovoltaicos. Se utilizada em escala industrial, a tecnologia poderá baratear a fabricação das placas, o que deve refletir no preço final.

De acordo com a pesquisa da UFC, o estado do Ceará produz cerca de 360 mil toneladas de castanhas anualmente. Dessa produção, sobram 45 mil toneladas do líquido do caju por ano. Os pesquisadores explicam que os números são possíveis porque oito das 12 indústrias de caju que operam no país estão no estado.

O líquido da casca da castanha-de-caju (LCC) é uma substância para revestir as placas solares e captar a energia do sol. Imagem: Viktor Braga/UFC

Integrante da equipe de pesquisadores responsáveis pelo achado, o professor Diego Pinho, doutorando em engenharia e ciências dos materiais, explicou que há duas formas de aproveitamento da energia solar: sistema fotovoltaico e sistema térmico.

O foco do trabalho com o caju é para aplicação em energia solar térmica, utilizando coletores solares de placa plana — trata-se de um trocador de calor que converte a radiação em energia térmica, segundo o professor.

“O principal componente do coletor solar placa plana é a superfície absorvedora, onde será depositado o novo elemento. Portanto, de forma mais simples, a superfície seletiva, feita com o material vindo da casca de caju, absorve a radiação solar e promove o aquecimento de um fluido: água ou óleo, por exemplo”, afirma.

O cientista explica que o líquido da casca da castanha-de-caju (LCC) é uma alternativa ao coletor usado atualmente, que é revestido com óxido de titânio. A principal motivação do estudo foi buscar um produto de baixo custo para substituir as superfícies existentes, que possuem alto custo. Além disso, o resíduo da indústria do caju, produto de origem regional e que seria descartado, passa a ter um destino mais adequado.

“Uma das formas de extração do LCC envolve o aquecimento das amêndoas, durante o processo nas indústrias. O que explica a escolha do caju foi ter alcançado valores de temperatura bastante semelhantes com as superfícies comerciais”, continuou.

O líquido da casca da castanha-de-caju (LCC) é uma substância para revestir as placas solares e captar a energia do sol      Imagem: Viktor Braga/UFC

Além disso, a escolha do caju para o experimento também se deu devido à coloração escura, que permite que ele apresente bom desempenho em absorção, que é uma característica essencial para o produto que se deseja testar, ressalta Pinho.

O próximo passo, agora, é colocar o produto à prova para ver como ele reage a um período maior de teste em condições ambientais. Com os aperfeiçoamentos necessários, destaca o pesquisador, o LCC pode produzir resultados de absorção ainda melhores.

“Eu, particularmente, fico muito feliz e gratificado em fazer parte desse projeto, junto com o professor e com todos que fizeram parte. Um trabalho que se mostra bastante promissor pelos resultados alcançados, evidencia a importância da ciência no Brasil”, finaliza.

Fonte: Ecoa

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