O nome mura, dado pelo ecólogo Fábio Rohe, autor da descoberta, é uma homenagem aos índios muras, que viviam próximos ao lugar onde o macaco foi encontrado. A escolha, segundo o cientista, serve para dar um alerta. “Os mura foram muito prejudicados pelos brancos. De certa forma, eles representam a resistência da natureza ao mundo civilizado”, conta o cientista, que trabalha na WCS Brasil (Wildlife Conservation Society) dentro do Programa Conservation Leadership Programme (CLP).
Bicho versátil
A descoberta do novo macaco ocorreu em 2007 durante uma expedição de um grupo de cientistas ligados à rede Geoma. De acordo com Rohe, o bicho é conhecido pelos moradores da região, mas ninguém sabia que se tratava de uma nova subespécie, já que ele é semelhante a outros macacos amazônicos, todos chamados genericamente de sauim ou choim.
Depois de comparar cores, medidas e localização de pelo menos 13 parentes próximos do mamífero, o pesquisador comprovou que o animal era uma variação da espécie Saguinus fuscicollis, e a descrição da subespécie foi publicada na revista científica International Journal of Primatology em junho deste ano.
O novo macaco é pequeno. Tem em média 23 cm de altura, 31 cm de rabo e pesa 350 gramas. Segundo Rohe, o sauim é um bicho versátil, que consegue sobreviver tanto em matas densas quanto em florestas ralas, como as que margeiam os campos naturais ao longo da BR-319. Ele consegue se alimentar principalmente de insetos e de frutas.
Estradas, usinas e gasoduto
Não é apenas a reforma da rodovia que gera temor entre os biólogos que trabalham na Amazônia. A construção das usinas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, e o projeto do gasoduto Urucu-Porto Velho também assustam os estudiosos do meio ambiente, que preveem uma corrida de migrantes para o sul do Amazonas.
“Não sabemos ainda quais serão as consequências da obra [das usinas] para o curso do Madeira. Além do desmatamento, a obra vai fazer com que mais pessoas vão morar na região”, alerta o cientista da WCS. “Mas certamente, se não houver um trabalho de fiscalização sem precedentes no Brasil, a BR-319 será a veia de destruição da Amazônia central brasileira.”
Nova gralha
Uma espécie de gralha também foi descoberta recentemente no traçado da BR-319, e corre ainda mais risco do que o macaco. Como ela consegue viver apenas nos ambientes de transição entre os campos naturais e a floresta, pode ser muito prejudicada pelas queimadas que passarão a ocorrer na região.
Fonte: Globo Amazônia