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Cientistas descobrem nova espécie de cobra-de-duas-cabeças no Cerrado

29 de maio de 2009
3 min. de leitura
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A construção de uma hidrelétrica no sudoeste de Goiás acabou trazendo à superfície uma nova espécie de cobra-de-duas-cabeças, ou anfisbenídeo. Esses répteis, que passam a maior parte de sua vida debaixo da terra, ainda são relativamente misteriosos para os biólogos, e sua diversidade ainda é pouco conhecida – tanto que muitas outras espécies ainda podem estar esperando para serem descobertas.

“Em regiões mais quentes é difícil observar os animais porque eles quase não saem. Em lugares nos quais alguns meses do ano são mais frios, é possível encontrá-los na superfície para tentar se aquecer. Mas obras grandes para construções ou para abertura de áreas para plantio estão revelando animais desconhecidos com frequência no Cerrado e no Nordeste”, contou ao G1 a bióloga Síria Ribeiro, doutoranda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Ribeiro e seus colegas Alfredo Santos-Jr., também da PUC-RS, e Willian Vaz-Silva, da Universidade Federal de Goiás, descreveram formalmente o novo réptil em artigo na revista científica “Zootaxa”. A criatura ganhou o nome de Leposternon cerradensis por ser o primeiro membro de seu gênero, o Leposternon, a ser flagrado no Cerrado. Os pesquisadores ainda não têm dados precisos sobre as profundidades que ele habita, sua dieta (provavelmente composta por pequenos insetos também subterrâneos, como formigas e cupins) ou mesmo sua distribuição geográfica.

“Normalmente, o que acontece é que, quando a terra está sendo escavada durante determinada obra, os bichos sobem e fica mais fácil coletá-los. Também pode acontecer de eles subirem à superfície quando o reservatório de uma hidrelétrica está se enchendo”, fugindo da água, explica Ribeiro. Por isso mesmo, os biólogos acabam dependendo de um golpe de sorte (ou de azar, levando em conta a bagunça no habitat do animal) para conseguir observar as criaturas.

Foi Vaz-Silva, que acompanhava a construção da Usina Hidrelétrica de Espora no município de Aporé (GO), o responsável por recolher os espécimes da cobra-de-duas-cabeças durante um procedimento de resgate de fauna. “Ele me mandou as fotos e eu logo notei que se tratava de um bicho novo, porque morfologicamente ele é muito diferentes dos outros anfisbenídeos, inclusive os do gênero dele”, diz a bióloga da PUC-RS.

Cabeças

Ribeiro explica que “cobra-de-duas-cabeças” está longe de ser um nome popular adequado. “Na verdade a cabeça verdadeira é bem característica. O problema é que as pessoas têm tanto medo que nem se dão ao trabalho de olhar direito”, brinca. Bobabem: para humanos, os anfisbênios são inofensivos. Na verdade, o que confunde o observador casual, diz ela, é o fato de que a locomoção do animal envolve o movimento de ambas as extremidades do corpo, de forma que a cauda pode dar a impressão de ser a cabeça.

A nova espécie tem uma conformação especial da cabeça que faz com que ela funcione como pá, escavando o caminho adiante no subsolo. As principais diferenças do bicho em relação a seus parentes próximos estão em detalhes como as escamas da cabeça, nos chamados poros pré-cloacais e num conjunto de sulcos que separam o ventre do dorso do animal.

Os poros, como o nome diz, ficam perto da cloaca (abertura que, nos répteis, serve para todas as funções fisiológicas, como expelir urina e fezes e copular). “Não temos dados diretos sobre a função dos poros nessa espécie, mas em outros anfisbênios eles produzem substâncias que passam mensagens químicas de localização e reprodução”, diz Ribeiro.

A cor rosada do bicho não significa que ele seja albino, explica ela. “Ainda não sabemos muito a respeito disso, mas as espécies de floresta parecem ter uma tendência ao melanismo [cor escura], enquanto as de ambientes abertos são mais claras”, afirma a bióloga. É mais um mistério ainda não-elucidado sobre os anfisbênios, como o de sua distribuição geográfica — ninguém sabe se as espécies encontradas num só lugar até hoje, como a nova, são mesmo únicas daquela região ou apenas muito discretas e comuns em outras.

Fonte: G1

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