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EXPLORAÇÃO

Cientistas clonam lobos extintos usando cães domésticos como barriga de aluguel

Enquanto a Colossal Biosciences celebra o nascimento dos primeiros lobos-terrível em 12 mil anos, cachorros são submetidos a gestações forçadas e espécies em perigo de extinção são ignoradas

8 de abril de 2025
Júlia Zanluchi
2 min. de leitura
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Dois dos filhotes de lobo com um mês de idade. Foto: Colossal Biosciences

Ignorando o sofrimento de animais e os desequilíbrios ecológicos causados, uma empresa de biotecnologia dos EUA anunciou ontem (07/04) o nascimento dos primeiros lobos-terrível (Aenocyon dirus) em mais de 12 mil anos, usando técnicas de clonagem e edição genética.

Para “recriar” os lobos-terrível, a empresa modificou geneticamente embriões de lobos-cinzentos e os implantou em cães domésticos, especificamente cães de caça grandes e mestiços, que serviram como barrigas de aluguel, sendo submetidos a gestações de alto risco, apenas para satisfazer uma ambição científica desnecessária.

Dois filhotes machos nasceram em outubro de 2024, e uma fêmea em janeiro de 2025. Eles vivem em um cercado monitorado, longe do habitat natural.

A Colossal Biosciences, responsável pelo projeto, afirma que seu objetivo final é reintroduzir espécies extintas na natureza, mas ecologistas veem riscos sérios nessa proposta. O lobo-terrível desapareceu porque seu ecossistema mudou. Reintroduzi-lo agora poderia causar conflitos com espécies nativas ou até mesmo levar a novas extinções.

Além disso, não há garantias de que esses animais híbridos — 99,9% lobo-cinzento, segundo geneticistas — conseguiriam se integrar à natureza. Eles podem sofrer com problemas de saúde, comportamento alterado ou simplesmente não ter um lugar no ecossistema atual.

A Colossal já arrecadou mais de US$ 435 milhões para seus projetos de ressuscitar espécies, incluindo planos de trazer de volta mamutes e tigres-da-tasmânia. Enquanto isso, espécies criticamente ameaçadas, como o lobo-vermelho (do qual a empresa clonou alguns indivíduos), continuam à beira do desaparecimento devido à destruição de habitats e caça.

Se esse dinheiro fosse usado para proteção de habitats ou combate ao tráfico de animais, teríamos um impacto muito maior na biodiversidade.

Os três filhotes criados pela Colossal nunca conhecerão a vida selvagem — eles permanecerão confinados, sob vigilância constante. Para muitos, isso levanta outra questão ética: animais estão sendo criados apenas para ser mantidos em cativeiro? Isso não é proteção, é entretenimento científico.

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