Chama-se Euprymna scolopes e é uma pequena lula, com cerca de 3,5 centímetros de comprimento, que vive nas águas em torno do arquipélago do Havai.
Tal como outros seus parentes próximos, ou até como animais distantes como os pirilampos, esta cefalópode é capaz de produzir a sua própria luz, um fenómeno conhecido como bioluminescência. Esta capacidade resulta de uma “parceria” que a lula cria com bactérias luminosas logo que eclode. Nas primeiras horas após terem saído dos seus ovos, estas lulas adquirem essas bactérias e alojam-nas em órgãos especializados, e, mais tarde, usam a luz produzida pelos microrganismos para, por exemplo, se camuflarem à noite através de contra-iluminação.
Num estudo publicado recentemente na revista ‘Proceedings of the Royal Society B’, uma equipa de cientistas do Centro de Ciências Marinhas e Ambientais (MARE) da Universidade de Lisboa e do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, em colaboração com investigadores de outros países, revela que à medida que os oceanos se tornam mais quentes e ácidos a parceria entre a pequena lula e as bactérias luminosas pode ficar comprometida. Além disso, o sucesso da eclosão pode ficar também em xeque.
Em comunicado, Eve Otjacques, investigadora do MARE e primeira autora do estudo, explica que este é a primeira vez que que se usa uma abordagem molecular para estudar os efeitos do aquecimento e da acidificação dos oceanos nesse tipo de moluscos cefalópodes.
A equipa percebeu que o aquecimento marinho reduz o sucesso da eclosão das lulas Euprymna scolopes, mas que a acidificação tem um efeito negativo ainda maior. Como se não bastasse, verificou-se também que a acidificação causa alterações nos genes relacionados com o metabolismo e a produção de energia da pequena lula, e que o aquecimento afeta a capacidade que o animal tem para se associar às bactérias luminosas.
“Foi interessante descobrir genes específicos que são afetados negativamente pela temperatura, o que poderia explicar, a nível molecular, a dificuldade deste animal em adquirir as bactérias luminosas simbióticas na eclosão”, detalha Eve Otjacques, em nota.
Assim, à medida que as alterações climáticas avançam e os seus efeitos se fazem sentir também nos mundos marinhos, a pequena lula Euprymna scolopes, também conhecida como lula “bobtail” poderá ver a sua parceria simbiótica com as bactérias luminosas ameaçada e, assim, reduzida a sua capacidade para se camuflar de predadores.
Fonte: Greensavers