Um estudo conduzido por pesquisadores suecos da Universidade de Gotemburgo confirmou que os caranguejos são capazes de sentir dor, desmentindo a crença de que suas respostas a estímulos desconfortáveis são meramente reflexas. Apesar de reforçar a necessidade de proteger os crustáceos, o estudo também destaca a crueldade relacionada às pesquisas que infligem sofrimento aos animais para obter resultados científicos.
Os pesquisadores usaram análises semelhantes a eletroencefalogramas (EEG) para identificar estímulos de dor de cabeça aos cérebros de caranguejos da costa, um crustáceo decápode comum. Os testes incluíram estímulos químicos e mecânicos, demonstrando cientificamente a senciência desses animais. A pesquisa, publicada na revista Biology, argumenta que as descobertas podem orientar políticas para melhorar o bem-estar e a abolição do consumo desses animais.
Crueldade nas pesquisas e na exploração de crustáceos
Embora o estudo contribua para a compreensão da senciência dos crustáceos, ele também levanta questões éticas. Realizar testes que envolvimento intencionalmente para confirmar o óbvio — que esses animais são sencientes e sofrem — é criticado por ativistas e defensores do bem-estar animal. Como apontado no próprio relatório, há décadas de estudos que já comprovaram que caranguejos e outros crustáceos possuem sistemas nervosos complexos e reagem a estímulos dolorosos.
“Não é necessário testar todas as espécies de crustáceos, pois estruturas nervosas semelhantes sugerem que camarões, lagostins e lagostas também sentem dor”, explicou Eleftherios Kasiouras, principal autor do estudo. Ele destacou que o reconhecimento da senciência deve abranger todas as espécies de crustáceos e estimular mudanças legislativas urgentes.
A realidade cruel da indústria de crustáceos
Apesar do aumento de alternativas no mercado de “frutos do mar”, estima-se que até 580 bilhões de crustáceos — incluindo caranguejos, camarões e lagostas — sejam mortos anualmente. Muitos desses animais passam por métodos extremamente cruéis, como o cozimento vivo, prática comum devido à falta de regulamentação em várias partes do mundo.
Mesmo em países onde a senciência animal é reconhecida, como o Reino Unido, os crustáceos continuam sendo tratados com brutalidade. Embora a legislação britânica de 2021 tenha reconhecido que crustáceos e cefalópodes são capazes de sentir emoções e dor, a proteção prática permanece inexistente.
A ética no consumo e na pesquisa
O estudo reacende o debate sobre a moralidade da exploração de crustáceos na alimentação, pesquisas e outras indústrias. Muitos defensores dos animais argumentam que não há uma maneira ética de criar ou matar seres sencientes. Assim, abster-se de consumir crustáceos — e todos os outros animais — seria o único caminho verdadeiramente ético.
Além disso, a própria realização de pesquisas que causam dor e desconforto aos animais é cada vez mais criticada por movimentos que defendem a ciência livre de crueldade. Para os ativistas, os resultados obtidos por estudos como este já estão amplamente respaldados pelas evidências anteriores, tornando ocasionais a perpetuação do sofrimento.
Reconhecer a sensibilidade animal é um passo importante, mas insuficiente sem ações concretas para abolir práticas cruéis e promover um respeito genuíno pela vida de todas as espécies.