EnglishEspañolPortuguês

IMPUNIDADE

Cidade no interior de São Paulo vira reduto de caça e tráfico de animais silvestres

Pacas, catetos e cutias são as principais vítimas da caça em Tapiraí.

3 de novembro de 2025
Redação ANDA
2 min. de leitura
A-
A+
Foto: circulação/WhatsApp

Tapiraí, município no interior de São Paulo reconhecido pelo ecoturismo e pela exuberância de suas florestas, se tornou alvo constante de caçadores e traficantes de animais silvestres.

A denúncia foi feita do policial militar da reserva Fernando Alves Ferreira, conhecido na região como o “curupira” das matas tapiraienses. Há quatro anos, ele se dedica voluntariamente a rastrear e destruir armadilhas instaladas por caçadores nas florestas. “Não tenho o número exato, mas com certeza já destruí mais de 100 armadilhas. E a sensação que tenho é de que o número de caçadores tem aumentado”, afirma.

A situação, segundo ele e a educadora ambiental Patrícia Faria, tornou-se epidêmica. “Soube que tem guia de turismo de dia que vira guia de caça à noite. Há até quem ofereça roteiros para caçadores que não conhecem o município”, denuncia Patrícia. As áreas de Barra do Jacu, Valandros, Rio Verde, Belchior e Juquiazinho são apontadas como as mais visadas pelos predadores.

Entre as vítimas, estão pacas, catetos e cutias, mortos durante a noite nas chamadas cevas, pontos onde os animais são atraídos com alimento antes de serem mortos. O incentivo financeiro é um dos motores do crime. “Uma paca pode valer até R$ 800, e comprar mil metros quadrados de mata em loteamentos clandestinos é fácil por aqui”, explica Fernando.

Tráfico e impunidade

Paralelo à caça, cresce o tráfico de animais silvestres na região. Há menos de um mês, vídeos que circularam em grupos de WhatsApp mostraram uma jaguatirica presa em uma mini jaula. A Polícia Ambiental chegou a localizar o capturador, mas o animal não foi encontrado e ele alegou tê-lo libertado. Dias depois, um novo vídeo indicou que o felino teria sido levado para Sorocaba e, em seguida, para o Paraná, evidenciando a rota de escoamento ilegal de fauna silvestre.

A ausência de respostas concretas das autoridades apenas reforça a sensação de abandono e impunidade. A Polícia Ambiental foi procurada para comentar o caso da jaguatirica e a intensificação da caça em Tapiraí, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Mesmo sob ameaças, Fernando segue suas patrulhas solitárias, guiado pelo senso de dever e amor à floresta. “Já recebi recados, já mudei minha rotina, mas não pretendo parar. É como um beija-flor apagando um incêndio, pequeno, mas fazendo sua parte”, diz.
Em cada armadilha destruída, ele deixa uma plaquinha com a imagem da Caipora e um porco-do-mato, acompanhada da mensagem: “Aqui não. Estou de olho.”

    Você viu?

    Ir para o topo