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CONSEQUÊNCIA

Chuvas severas aumentaram 20 vezes desmatamento na Mata Atlântica por causas naturais em 2024

Chuvas no Rio Grande do Sul causaram mais de 92% dos danos nesta categoria; no total, bioma perdeu 71.109 hectares de florestas no ano passado, aponta fundação

12 de maio de 2025
Marco Britto
4 min. de leitura
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Imagem mostra o rio Taquari, no Rio Grande do Sul, em setembro de 2023, quando um ciclo extratropical já havia atingido 60 cidades. Foto: Marcelo Oliveira/Getty Images

Eventos extremos do clima na Mata Atlântica em 2024, especialmente as chuvas no Rio Grande do Sul, fizeram com que o desmatamento por causas naturais no bioma aumentasse 20 vezes em relação aos dois anos anteriores. Os dados, da fundação SOS Mata Atlântica, fazem parte de relatório divulgado nesta segunda-feira (12).

Segundo o SAD (Sistema de Alertas de Desmatamento) desenvolvido em parceria pela fundação e o coletivo científico MapBiomas, no total foram 71.109 hectares (ha) desmatados em 2024 frente a 82.531 ha do ano anterior, uma queda de 14%. O desmatamento gerado pela agricultura se mantém como maior fonte de dano ao bioma, sendo que no ano passado foram 66,5 mil ha de floresta derrubados para dar lugar a pastos e lavouras. Houve baixa em relação a 2023, quando este número ultrapassou 80 mil ha.

Mas, no caso dos desastres naturais, a pesquisa de 2024 notou o pulo de uma média próximo a 150 ha nos anos anteriores para cerca de 3.000 ha. “A principal fonte de desmatamento natural em 2024 foram os deslizamentos de terra”, explica Luiz Fernando Guedes, diretor executivo da fundação. Só no estado gaúcho foram 2.805 ha (92,5%) devastados nas chuvas severas do ano passado.

Regiões serranas de estados como Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro estão especialmente expostas, comentou Guedes, pois são declives em que há terra sobre rocha. O solo encharcado que acaba deslizando leva consigo porções de floresta, afirma o especialista.

No Sudeste, eventos climáticos extremos também impactaram áreas protegidas nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, evidenciando a vulnerabilidade das Unidades de Conservação diante da mudança climática, ressalta nota do SOS Mata Atlântica.

“Era previsto nos cenários do IPCC”, cita Guedes, lembrando o alerta do painel científico da ONU. “Essas regiões de Mata Atlântica no Sudeste e Sul vão ter cada vez mais essas chuvas intensas. A chuva forte é algo natural, mas a frequência tem sido cada vez maior por conta da mudança climática.”

Consideradas todas as fontes de desmatamento, Piauí e Bahia lideram o ranking estadual, com, respectivamente, 26.030 e 23.218 ha registrados pelo SAD.

Na Bahia, embora o total tenha caído 37% em relação ao ano anterior, a destruição de matas maduras do estado quase dobrou, passando de 2.456 para 4.717 hectares (aumento de 92%), observa o Atlas da Mata Atlântica, leitura complementar que monitora áreas a partir de 3 hectares e oferece uma visão dos grandes fragmentos florestais do bioma. A ferramenta é coordenada pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

No Piauí, o movimento foi inverso: a área total desmatada cresceu 44%, chegando a 26.030 hectares, enquanto a supressão de matas maduras diminuiu.

No caso do Rio Grande do Sul, considerando-se apenas desmatamento por causa natural, as chuvas causaram um aumento de 2.981% na perda de matas maduras, que ficou em 1.602 ha, mais da metade do total perdido nesta categoria.

“O desmatamento ainda representa uma grande ameaça para o futuro da Mata Atlântica. E esse é também o futuro de todos nós, já que o bioma abriga cerca de 70% da população brasileira e sustenta mais de 80% do PIB nacional”, observa Guedes.

“É possível reverter essa situação, mas para isso é preciso desmatamento zero e restauração. A gente parar de perder e restaurar em grande escala. As chuvas e secas vão acontecer, mas quanto mais floresta a gente tiver, menores as enchentes, os deslizamentos e as secas.”

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