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ÁGUA TÓXICA

'Chuva preta' prejudica a saúde de animais; veja alerta de veterinário

Empresa MetSul Meteorologia prevê a chegada do fenômeno à capital e em cidades do interior de São Paulo neste final de semana

15 de setembro de 2024
Caio Possati
5 min. de leitura
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Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

Por causa do avanço de uma frente fria, o Estado de São Paulo pode registrar nos próximos dias o fenômeno da “chuva preta”, conforme previsão da empresa MetSul Meteorologia. O evento se caracteriza pela queda de uma água que escurece pelo contato com o material particulado em suspensão na atmosfera e originário de incêndios. Regiões de Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina também podem ser atingidas pelo fenômeno, que já foi visto em cidades do Rio Grande do Sul e em países como Argentina, Paraguai e Uruguai.

Especialistas ouvidos pelo Estadão recomendam que animais e pessoas não tenham contato e, muito menos, façam a ingestão dessa água ou uso para outras finalidades. Além disso, a chuva pode causar uma sensação de alívio por trazer mais umidade, mas, por outro lado, também acaba por espalhar micropartículas prejudiciais à saúde em rios, lagos, plantações e em alimentos consumidos por animais domésticos.

“O material particulado pode alterar a nucleação, que é um fenômeno necessário para a formação de chuvas. Mas, a atmosfera é complexa, e pode trazer uma frente fria que trará umidade. É o que vai acontecer em São Paulo. Ao trazer essa umidade, como existe o material particulado das queimadas e gases na atmosfera, a chuva que se forma é tóxica”, explica o médico pneumologista Paulo Côrrea, coordenador da comissão de tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Impacto nos animais

Corrêa alerta que animais não tenham o contato com esse tipo de conteúdo porque, da mesma forma que o ar poluído pelo mesmo material não deve ser inalado, a água da “chuva preta” também pode trazer problemas sérios para a saúde.

“Muitas lugares usam água de chuva para dar aos animais, irrigar vegetação, plantação, mas ela é imprópria. Não se pode dar essa água para o seu animal doméstico e não pode fazer a agricultura com ela. A rigor, os agricultores devem proteger as plantações porque esse material particulado e gases entranham e contaminam os alimentos que estão na terra”, informa o médico, que também é professor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

A chuva preta prejudica a saúde de animais, alerta o médico-veterinário Bruno Divino, presidente da Comissão Nacional de Estabelecimentos e Práticas Clínicas Veterinárias do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).

Ele explica que o primeiro risco é a capacidade dessa chuva, “uma fumaça líquida” – como descreve – se tornar ácida. Se ingerida pelos animais, pode provocar um quadro de irritação na boca, e em partes internas do organismo, como o esôfago.

O consumo desse material a curto prazo pode também levar cães e gatos a sentirem náuseas, vômitos, diarreia e perda de apetite. “A longo prazo, se o animal ingerir essa água contaminada por muito tempo, pode desenvolver até alguns tipos de câncer”, diz o médico veterinário.

“Vale para qualquer espécie – gatos, cães, bovinos -, os animais têm que beber a mesma água que a gente consome: limpa, tratada, e, no melhor cenário, filtrada. Garantido o acesso de uma água que vem do sistema de tratamento, a gente garante a saúde desse animal”, afirma o especialista.

Se a “chuva preta” entrar em contato com a pele dos animais, os danos dermatológicos não são tão graves como a ingestão do material particulado, diz Bruno Divino. No entanto, o especialista chama a atenção para a possibilidade de cães e gatos se lamberem e acabarem levando o material tóxico para dentro do organismo.

“A pele em si não tem muito risco. Os cães, principalmente, têm uma camada protetora muito boa na pele. Mas, se o animal tiver contato, eles podem, principalmente os de pelo longo, se lamber e desenvolver quadro de vômito, ter perda de apetite”, explica o médico veterinário.

Além disso, ele não descarta a possibilidade de alguns animais mais sensíveis desenvolverem um quadro de alergia em razão do contato com a fuligem. “Se o tutor perceber que o animal está com essa fuligem no corpo, no pelo, deve fazer um banho utilizando shampoo neutro ou específico para animais e deixar secar naturalmente”, diz Divino.

No caso do cão, gato ou outro animal apresentar vermelhidão nos olhos, focinho escorrendo, espirros, tosse contínua e sensação de estar ofegante, os tutores devem levá-los para um médico veterinário. E, se além disso, apresentarem uma temperatura acima dos 40ºC, a recomendação é dar um banho gelado antes de encaminhar ao especialista.

Água da ‘chuva preta’

A água da “chuva preta” não deve atingir as casas pelos encanamentos e tubulações. O químico Robson Petroni, especialista em Qualidade do Ar Interno e coordenador da Conforlab Engenharia Ambiental, explica que o sistema de tratamento convencional da água envolve processos – como decantação, floculação, sedimentação e filtragem em caixa de areia – em várias etapas, que eliminam as impurezas e objetos sólidos vindos da captação.

“Então, independente se as partículas caírem nos reservatórios ou não, o sistema de tratamento convencional está bem preparado para que esse problema não afete o abastecimento de água”, afirma Petroni.

Veja dicas para cuidar da saúde dos animais em tempos de seca e má qualidade do ar

  • Dar água tratada e filtrada aos animais;
  • Alimentá-los com ração úmida (patê, no caso de gatos), frutas (melancia, melão), para promover maior hidratação;
  • Levar ao veterinário se o animal ingerir o material particulado e apresentar quadro de vômito, diarreia, e inflamações na boca e outras partes do organismo;
  • No caso de contato com a pele e pelos, lavar o animais com água tratada, shampoo neutro e secar bem (mudanças bruscas de temperatura podem provocar quadros gripais);
  • No caso de o animal apresentar vermelhidão nos olhos, tosse, sensação de estar ofegante, e coriza no focinho, é necessário levá-lo ao médico veterinário;
  • Usar umidificadores e bacias com água para proporcionar maior umidade ao ambiente e, consequentemente, maior conforto;
  • Dar banho gelado se o animal estiver com 40ºC e levá-lo em seguida ao especialista;
  • Fazer passeios antes das 9h e depois das 17h para evitar as altas temperaturas; levar água; não andar em solo quente para não machucar os coxins (almofadinhas) dos animais;
  • Se o animal “empacar” durante a volta, não force. Isso é um sinal de que ele chegou ao limite. A recomendação, neste, caso é pegá-lo no colo e carregá-lo até em casa.

Fonte: Terra

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