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MENOS POLUIÇÃO

China usa mais de 100 mil hectares com caranguejos em arrozais para controlar pragas, recuperar solos e reduzir agrotóxicos sem químicos

29 de dezembro de 2025
Alisson Ficher
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

No nordeste da China, um modelo agrícola que combina arroz e caranguejos no mesmo ambiente vem sendo usado em escala de dezenas de milhares de hectares para reduzir a dependência de pesticidas e fertilizantes sintéticos.

Em Panjin, cidade da província de Liaoning, dados locais divulgados pela imprensa chinesa apontam que, em 2019, a área de plantio de arroz chegou a 106.533 hectares, enquanto a área ligada à criação de caranguejos alcançou 106.666 hectares, com produção de 1,03 milhão de toneladas de arroz e 72 mil toneladas de caranguejos.

O sistema de co-cultivo, conhecido como arroz–caranguejo, é associado à estratégia regional de elevar produtividade e renda rural com menor uso de químicos.

Como funciona o sistema arroz–caranguejo nos campos alagados

A lógica do método é transformar o arrozal alagado em um ambiente no qual o caranguejo participa do manejo.

Em vez de tratar o campo apenas como uma lavoura, produtores constroem canais e áreas de refúgio com água mais profunda para que os animais circulem e sobrevivam durante o ciclo do arroz.

Os caranguejos são soltos quando as plantas já estão estabelecidas o suficiente para resistir ao movimento na lâmina d’água.

A partir daí, passam a atuar como parte do controle biológico.

Alimentam-se de organismos presentes no arrozal, reviram o lodo e ajudam a reduzir o crescimento de plantas indesejadas.

Seus resíduos devolvem nutrientes ao ambiente, contribuindo para a fertilidade do solo.

Espécies cultivadas e sensibilidade ao uso de agrotóxicos

O caranguejo mais citado em trabalhos científicos sobre o tema é o caranguejo-luva-chinês, espécie registrada na aquicultura do país e descrita por organizações internacionais como uma das principais espécies cultivadas em água doce na China.

Em áreas como o delta do rio Liaohe, onde ficam Panjin e o condado de Panshan, a produção de arroz ocorre em planícies costeiras que exigem controle rigoroso de água.

O manejo do arrozal influencia diretamente a saúde dos animais.

Essa interdependência é um dos fatores que levam produtores a restringir o uso de produtos de alta toxicidade, já que o caranguejo é sensível a contaminações e alterações bruscas na qualidade da água.

Impactos no controle de pragas e plantas invasoras

Pesquisas recentes têm se concentrado em descrever como o sistema se organiza no campo e quais efeitos medidos aparecem quando comparado ao plantio convencional.

Em estudos conduzidos em Panjin, técnicos relatam que a transição do monocultivo para o arroz–caranguejo vem ocorrendo desde a década de 1980.

Esse processo incluiu adaptação de desenhos de plantio e abertura de valas que funcionam como corredores aquáticos.

Trabalhos acadêmicos apontam que a presença dos caranguejos pode reduzir a pressão de pragas e plantas invasoras, ao mesmo tempo em que altera indicadores de solo, como matéria orgânica e atividade microbiana.

Manejo sem pesticidas e equilíbrio do ecossistema

A dinâmica de controle de pragas nesse tipo de cultivo depende de práticas de manejo.

Em áreas onde não se usam pesticidas durante o crescimento do arroz, produtores recorrem a métodos físicos e de atração luminosa para reduzir a população de insetos.

O efeito indireto do caranguejo sobre organismos do arrozal também é considerado relevante.

Pesquisadores analisam o que o animal consome no sistema, observando que a dieta varia conforme a disponibilidade de alimento no campo.

Em observações em arrozais, o caranguejo utiliza diferentes fontes alimentares, incluindo restos orgânicos e pequenos invertebrados.

Esse comportamento ajuda a explicar por que o sistema é descrito como um ecossistema mais diverso do que o monocultivo.

Recuperação do solo e atividade microbiana

O impacto sobre a fertilidade do solo é outro ponto recorrente nas publicações.

Em arrozais alagados, a falta de oxigênio em camadas mais profundas pode limitar processos biológicos.

A movimentação do caranguejo cria microperturbações que melhoram a aeração do lodo e redistribuem matéria orgânica.

Esse processo pode favorecer a atividade microbiana associada ao ciclo do nitrogênio.

Alguns estudos investigam como genes microbianos ligados à fixação de nitrogênio se comportam em áreas com presença constante dos animais.

Renda agrícola e valorização do arroz de Panjin

Além do aspecto ambiental, o sistema é tratado por governos locais e pesquisadores como uma estratégia de renda.

A colheita passa a incluir dois produtos: arroz e caranguejo.

Isso não significa que o arroz seja automaticamente orgânico ou livre de qualquer insumo.

O manejo varia e pode incluir fertilização de base ou ração para os animais.

Ainda assim, o modelo é apresentado como forma de reduzir custos com pesticidas e parte dos fertilizantes, ao mesmo tempo em que aumenta a receita por hectare.

Em Panjin, a divulgação oficial associa o crescimento da cadeia do caranguejo ao fortalecimento da marca regional do arroz.

Padronização, mercado e desafios de medição

A expansão do arroz–caranguejo trouxe demanda por padronização.

O mercado passou a diferenciar o chamado “arroz de campo de caranguejo” do arroz convencional.

Estudos recentes comparam características químicas do arroz produzido nesse sistema com o arroz comum, buscando formas de autenticar a origem.

Esse tipo de pesquisa surge como resposta à valorização do produto e à necessidade de comprovar procedência.

Apesar da associação do modelo com menor uso de químicos, pesquisadores destacam que o sistema depende de boas práticas e condições locais.

O arrozal continua sendo um ambiente manejado, com controle de lâmina d’água, densidade de estocagem de animais e, em algumas variações, uso de ração.

Mudanças nesses fatores podem afetar tanto o desempenho do arroz quanto o crescimento do caranguejo.

No caso de Panjin, os números de área e produção ajudam a dimensionar a escala do sistema.

No entanto, nem sempre há detalhamento sobre quanto da área corresponde estritamente ao co-cultivo em arrozais e quanto envolve estruturas conectadas.

Essa variação depende do critério adotado por relatórios municipais, associações setoriais e estudos acadêmicos.

Fonte: Click Petróleo e Gás

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