Na contramão do mundo todo e com uma atitude retrógrada, o governo da China anunciou hoje a legalização do comércio de ossos de tigre e chifre de rinoceronte de animais criados para fins específicos, uso em pesquisas de medicina tradicional chinesa e tratamentos clínicos no país.

Ao reverter a proibição ao comércio de ossos de tigres e chifres de rinocerontes, em vigor já há 25 anos, a China revelou seus reais interesses, que mostram claramente que o governo está mais interessado em estimular sua medicina tradicional e as recentes e florescentes indústrias de criação de tigres e rinocerontes do que em proteger esses animais, trabalhando para acabar com a vasta demanda do país por suas peças e produtos.

Sem sombra de dúvida o governo também legalizou o comércio interno de antiguidades feitas utilizando partes de tigres e rinocerontes.

Com este movimento descarado e regressivo a China prejudica de forma drástica os esforços internacionais para a conservação de tigres e rinocerontes.

“Em um único golpe, a China destruiu sua reputação em ascensão de líder em conservação de espécies iniciada após a proibição interna da venda de marfim no início do ano”, disse Debbie Banks, Líder da Campanha do Tigre da EIA, em um comunicado. “Ao contrário disso, a imagem passada é agora revelada como uma farsa, e sua credibilidade internacional foi destruída; tudo isso em prol de setores empresariais profundamente questionáveis, que servem apenas para impulsionar a demanda dos consumidores por peças e produtos de espécies ameaçadas”, aponta ela.

Embora as investigações da EIA tenham documentado e tornado públicas as permissões emitidas pelo governo chinês, que legalizam o comércio de produtos provenientes de tigres em cativeiro, o governo fez de tudo para manter isso em sigilo.

Em 2013, a organização expôs uma “notificação secreta” emitida pelo governo em 2005, sobre testes utilizando ossos de tigre de criação, para fins medicinais. A denúncia foi recebida com negação, mas claramente o governo e a indústria farmacêutica continuaram a conspirar nas sombras para minar as decisões da CITES – Convention on International Trade in Endangered Species (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas, na tradução livre).

“O número enorme de tigres mantidos ou criados em cativeiro na China sugere que haverá uma explosão no comércio – e isso levará a mais tigres sendo caçados em estado selvagem”, denuncia Banks. “A notícia de hoje é uma impressionante demonstração de desrespeito descarado pela opinião global além de comprometer seriamente a sobrevivência dos tigres selvagens, estimulando a demanda por partes de seu corpo ao invés de erradicá-la”.

A EIA afirma que a decisão devastadora é completamente contrária aos esforços de outros países como Índia, Nepal, Butão e Rússia.